domingo, 28 de outubro de 2012

Buddha


A história da Índia começa por volta de 3.000 a.C., com o surgimento das civilizações de Harrapa e Mohenjo Daro, no vale do rio Indus. Cerca de mil anos depois, os povos arianos do Cáucaso passaram a dominar o vale dos Indus e seus habitantes, os drávidas.



Na mesma época, começaram a se estabelecer os princípios da Religião Hindú; foram escritos os hinos sagrados (Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda) e os tratados filosóficos (Upanishads) do hinduísmo.

Por volta de 1.000 a.C., os povos arianos passaram a ocupar o vale do rio Ganges e sociedade foi dividida em castas. Cada casta (em sânscrito, varna) era uma espécie de classe social:

brahmanas (brâmanes): sacerdotes, filósofos, religiosos hindus;

kshatriyas (guerreiros): nobres, guerreiros, autoridades;

vaishyas (provedores): mercadores, artesãos, agricultores;

shudras (servos): trabalhadores braçais.

Abaixo desse sistema estavam os intocáveis (sânsc. pahria), considerados tão inferiores que não eram dignos de uma casta. Totalmente discriminados, eles viviam cercados pela fome, miséria, doenças e sofrimento.

Essa ordem social era tida como sancionada pelo próprio Brahman (Absoluto) e era totalmente impossível a um indivíduo passar de um grupo para outro. Os brâmanes compunham a classe mais privilegiada e só por intermédio deles era possível obter-se uma vida feliz. Além da crença nos deuses, eles ensinavam a doutrina das vidas sucessivas a que todos os seres estavam sujeitos, sem exceção. Segundo essa crença, todo ser possuiria uma alma, ou Atman, que se reencarnaria sucessivamente nas mais diversas formas, segundo a natureza dos atos praticados nas vidas anteriores — o karma. Essa cadeia de reencarnações — samsara — era conhecida como um mal a que o indivíduo devia escapar, recorrendo à fé nos deuses e nos brâmanes, seus representantes, e à prática de exercícios ascéticos e de ioga.

Por volta do século VI a.C., a Índia entra num período de progresso e desenvolvimento material. As cidades já existentes começaram a se juntar em reinos cada vez maiores, caminhando a passos largos para a unificação. O progresso do comércio e da indústria, bem como o fortalecimento do estado monárquico, criaram uma atmosfera livre e aberta às mais amplas discussões, surgindo uma série de pensadores que criticaram amplamente a ortodoxia bramânica. Entre esses pensadores, o que maior influência exerceu foi precisamente Siddharta Gautama, também conhecido como Buddha, palavra que quer dizer Sábio, Iluminado ou Desperto, "Aquele que Sabe"

O sistema de castas também vigorava em Shakya, um reino que se localizava entre a Índia e o Nepal, ao sul das montanhas do Himalaya. Por volta dos séculos VI-V a.C., Shakya era governado pelo rajá Shuddhodhana Gautama e sua esposa, Maya-devi Gautami, membros da casta guerreira. Embora quisessem ter filhos, eles não conseguiram tê-los e já tinham perdido as esperanças de conseguir um herdeiro.

Certa vez, Maya sonhou com um belo elefante branco. Sete sábios interpretaram o sonho como o prenúncio do nascimento de um filho prodigioso: ele seria um imperador universal (sânsc. chakravartin) se vivesse no palácio de seu pai, ou um asceta (sânsc. bhikshu) se renunciasse ao trono. Shuddhodhana começou a se preocupar; ele queria um grande imperador para sucedê-lo e não um asceta.

Naquela época não era estranho que jovens, atormentados pela perversão que os cercava, cessassem as suas atividades, se despedissem da família e dos amigos e abandonassem a vida mundana. Iam viver nos bosques, possuindo apenas uma tigela de madeira com a qual, de tempos em tempos, mendigavam um pouco de comida. Pensavam que o autossacrifício e a severa disciplina corporal lhes proporcionaria um momento de sublime percepção, durante o qual, subitamente, lhes seria revelado o segredo do Universo.

No fim de uma gestação de 10 meses, Maya seguiu a tradição indiana e viajou para a casa de seus pais, a fim de ter o seu filho lá. Os pais dela moravam em Kapilavastu, capital de Shakya. O filho de Maya nasceu perto daquela cidade, nos jardins de Lumbini, no 8º dia do 4º mês lunar de 563 a.C.

Segundo as histórias tradicionais, o menino deu sete passos na direção de cada ponto cardeal e flores desabrocharam nos locais pisados. Algumas tradições dizem que ele apontou para o céu com a mão direita e para a terra com a mão esquerda, dizendo:"Entre o céu e a terra, sou o venerável!" Segundo outras tradições, ele teria dito: "Sou o líder do mundo, sou o guia do mundo. Este é o meu último nascimento." Naquele momento caiu uma chuva de néctar doce e seres celestiais apareceram para proclamando o nascimento do menino.

Por causa desses acontecimentos, o recém-nascido recebeu o nome de Sarvarthasiddha Gautama (aquele da família Gautama que realiza todas as suas metas), logo simplificado para Siddharta Gautama (páli Siddhatta Gotama, aquele da família Gautama que realiza suas metas). Um eremita chamado Asita foi vê-lo e descobriu vários sinais no pé do menino, confirmando as previsões.

Maya faleceu uma semana após o parto e Siddharta passou a ser cuidado por sua tia, Prajapati Gautami. Após vencer um torneio de artes marciais, aos 16 anos, Siddharta casou-se com Yashodhara, filha do rajá Dandapani. Posteriormente, casou-se também com Gopa e Mrigaja, mas foi com Yashodhara que ele teve seu filho, Rahula. Para fazer com que seu filho se entretesse, o rei Shoddhodhana deu três palácios a Siddharta: um para o verão, um para o inverno e outro para a época das monções.

Mesmo assim, com a idade de 29, Siddharta convenceu o seu pai de que já era o momento de conhecer o mundo;

Siddharta nunca tinha saído dos palácios. Shuddhodhana tentou evitar, mas seu filho acabou encontrando um velho, um doente, um morto e um asceta.

Revoltado com todo aquele sofrimento, Siddharta discutiu com seu pai e abandonou o palácio.

O luar de um branco azulado iluminava o quarto. Siddharta andou na ponta dos pés silenciosamente até a cama onde sua esposa, Yashodhara, dormia tranqüilamente com seu filho Rahula, coberto com um cachenê. Rahula sorriu como se estivesse em sonhos felizes.

"Como ele é amável e bonito!" Siddharta estendeu os braços para abraçar o filho, mas logo recuou para afastar tais pensamentos.

Apesar do coração completo de afeição pela esposa e pelo filho, ele não hesitou em deixar a casa para buscar o caminho da prática espiritual.



O cocheiro do estábulo, Chandaka, ajudou Siddharta a fugir para a floresta, mas não gostou da idéia. Ficou preocupado e, apesar das insistências, não conseguiu convencer o príncipe a retornar ao palácio. Siddharta queria descobrir uma maneira de eliminar os sofrimentos. Como sua vida luxuosa não poderia livrá-lo da doença, velhice e morte, Siddharta trocou a vida palaciana pela vida ascética.
"Enquanto as pessoas não são afetadas pela doença, velhice ou morte, elas não pensam sobre essas coisas. Eu preciso agora encontrar o caminho para acabar com a fonte desse sofrimento. Todos aqueles que nascem nesse mundo devem experimentar o pesar da separação. Estou deixando minha casa para descobrir o caminho pelo qual o ser humano pode escapar desse sofrimento."


 Iluminação de Siddharta Gautama

Como símbolo de sua renúncia, Siddharta cortou seu longos cabelos com uma espada. Algum tempo depois, ele encontrou Alara Kalama e Udraka Ramaputra, que lhe ensinaram avançadas técnicas de meditação. Porém, eles não conseguiram responder à pergunta do ex-príncipe: como extinguir o sofrimento?
O ex-príncipe passou a praticar ascetismo na floresta de Uruvela, no reino de Magadha. O próprio Bimbisara, rei de Magadha, foi visitar o jovem Siddharta.

"Ó ilustre monge, eu gostaria que alguém como você governasse este país. Se você aceitar, oferecerei criados, cavalos, carruagens, tudo o que você desejar", disse o rei.


"É muita bondade sua, majestade, mas eu já abandonei todos os desejos e pretendo continuar no caminho das práticas ascéticas", respondeu Siddharta. O rei, com lágrimas nos olhos, segurou as mãos de Siddharta respeitosamente e disse: "Estou feliz por tê-lo encontrado. Rezarei para que alcance o caminho em breve". Em seguida, retirou-se.

Seis meses haviam passado desde que Siddharta deixara sua casa. Durante esse tempo, ele residira na floresta e se submetera a todas as formas de austeridade, acreditando que quanto mais castigasse sua carne, mais puro se tornaria o seu espírito. Reduzira gradativamente a alimentação até parar completamente de comer. Tentara reter a respiração. Passara sofrimentos contínuos, cada um pior que o anterior.

Por seis anos, Siddharta foi acompanhado por outros cinco ascetas, ex-discípulos de Udraka Ramaputra. Quando percebeu que o ascetismo não traria os resultados que procurava, Siddharta abandonou este estilo de vida. Subitamente, ele compreendeu que a vida palaciana e a vida ascética são dois extremos; o ideal é seguir um caminho intermediário, o caminho do meio (sânsc.madhyama-pratipad), o caminho do despertar.




Fonte: Capella Indiana