sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Ligação Pelo Sofrimento






Existem vários padrões emocionais e sentimentos negativos que mantemos como uma forma de permanecermos conectados aos familiares e antepassados. Na maioria das vezes fazemos isso de forma inconsciente. É o que eu chamo de ligação pelo sofrimento.






É uma forma adoecida de demonstrar amor e lealdade. A tentativa de rompimento desse tipo de ligação por parte de um membro da família poderá provocar sentimentos de culpa e traição. Por outro lado, a família também poderá acusar, e se sentir traída, por aquele que deseja romper a ligação pelo sofrimento.

Esse conjunto de sentimentos levam a uma autossabotagem daquele que deseja se libertar, levando-o a perpetuar sentimentos e padrões negativos por uma vida inteira, além de passar para os filhos fazendo com que a negatividade sobreviva através das gerações.

Vamos exemplificar. Imagine uma criança que tem uma mãe muito cobradora e perfeccionista, que gosta de ditar os passos da criança, mesmo quando ela já teria condições de tomar certas decisões sozinha. Como toda criança sente necessidade de ser reconhecida e amada pelos pais, a tendência é que ela faça tudo para agradar a mãe e obter sua aprovação. Durante a infância, ela enxerga o comportamento da mãe como algo normal, pois não tem experiência nem amadurecimento pra perceber o que acontece. Sente-se pressionada a infância inteira, mas não se dá conta que poderia ser diferente.

Depois que vai crescendo, pode perceber como esse padrão de tentar agradar a mãe a todo custo, para obter seu reconhecimento, é sufocante, e como já deixou de fazer coisas que gostaria para agradá-la, carregando assim várias frustrações. A partir daí, a então adolescente ou adulta, tenta romper o padrão e experimenta fazer algo que deseja, diferente do que a mãe gostaria. Surge, então, o sentimento de culpa por não ter agradado a mãe. E a mãe por sua vez, provavelmente reforçará esse sentimento cobrando e fazendo chantagem emocional.

Cria-se um relacionamento baseado no sofrimento, mas que pode parecer "amor" e dedicação de parte a parte. A mãe se acha muito preocupada e dedicada e só quer o bem da filha, quando no fundo age baseada em sentimentos egoístas e necessidade de controlar. E a filha passa por cima de suas vontades, e vai acumulando inconscientemente frustração e raiva da mãe. Age como se fosse a boazinha e aceita as imposições e às vezes fará até parecer que suas vontades são iguais as da mãe, para obter reconhecimento.

Tudo vai se acumulando gerando infelicidade, e acaba aparecendo em forma de dificuldades de relacionamento e até doenças físicas. Esses padrões normalmente são passados de geração em geração. Basta investigar um pouco a relação da mãe com a avó e veremos provavelmente uma repetição de comportamento.

Essas ligações de sofrimento ocorrem de variadas forma. Um outro exemplo. Uma mãe que perde um filho e passa uma vida inteira guardando a tristeza da perda. Muitas vezes, o sentimento acaba sendo cultivado e essa mãe não se permite dissolver a tristeza e ficar em paz para manter uma ligação com o filho. Já tratei vários casos de perdas com a *EFT (técnica para autolimpeza emocional, veja como receber um manual gratuito no final do artigo), inclusive de mães que perderam filhos.

Como é um trabalho emocional muito profundo, ele acaba dissolvendo a tristeza e trazendo paz interior, apesar da perda que a mãe sofreu. Entretanto, em vários atendimentos já vi a pessoa expressar ou demonstrar que não quer dissolver totalmente aquele sofrimento, por que se sentiria como se estivesse se afastando da pessoa que se foi.

A lógica emocional é que, se você ama, tem que sofrer com a perda o resto da vida. Se ficar em paz, é porque não ama mais ou não amava tanto assim. A pessoa sente como se estivesse traindo ou abandonando o ente querido que se foi. "Um pouco dessa tristeza é saudável, como posso ficar totalmente em paz depois de uma perda como essa? É uma ferida aberta que nunca vai cicatrizar. Tenho muito amor pelo meu filho". Esses são pensamentos que podem ou não ser verbalizados que estão rodando no inconsciente.

Na verdade, quando dissolvemos a tristeza ou o sentimento de luto, resta uma ligação boa associada a uma paz interior. O amor permanece e a necessidade do sofrimento desaparece. É possível, então, pensar na pessoa que morreu e sentir apenas bons sentimentos. Para a mente e para o ego, acostumados a sofrer, isso parece totalmente impossível. No entanto, um trabalho bem conduzido com a EFT leva a esses resultados, na maior parte dos casos.

Atendi por um tempo uma cliente que tinha depressão e ela percebia claramente dentro de si, pensamentos e sentimentos dizendo que ela não poderia ou não deveria ser feliz por que a mãe dela sofreu a vida inteiro e morreu com depressão. Como ela poderia então ser feliz se a mãe não teve esse direito? É o sofrer em solidariedade, uma forma doente de demonstrar que ama. Por mais estranho que possa parecer, esses pensamentos são bem comuns em casos de família com depressão. Boa parte das vezes são pensamentos inconscientes, que precisam ser descobertos para que possam ser curados com a EFT.

Essa ligação também pode se manifestar na vida financeira e travar o crescimento de alguém que se sentirá culpado se conseguir levar uma vida melhor que a dos pais. Um filho poderá não progredir nos estudos tanto quanto seria possível para que não se sinta muito distante e afastado dos pais e outros familiares.

Em casos de famílias obesas, um membro que queira emagrecer poderá se sentir culpado. Uns emagrecem e depois voltam ao peso inicial para que se sintam aceitos pelos familiares.

A escolha de relacionamentos, a repetição de vícios, o desenvolvimento de doenças físicas, podem estar relacionados ao padrão de perpetuação e ligação pelo sofrimento.

Enfim, é possível ver essa ligação nas mais diversas áreas. É preciso ficar atento para que possamos identificar e sair dessa armadilha que nos leva a uma grande autossabotagem inconsciente.

André Lima 


EFT Practitioner, Terapeuta Holístico, Mestre de Reiki e Engenheiro.

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Fonte: Somos Todos Um