domingo, 28 de julho de 2013

Meditação ou desenvolvimento mental: (Bhavana)



A finalidade do Budismo é reunir novamente o indivíduo à realidade que foi perdida de vista devido à nossa ignorância em buscar a felicidade, pela qual ansiamos, onde ela não é encontrada, nas sombras e ilusões da nossa própria mente.




Falando da crescente influência do Budismo no Ocidente, o Dr. Graham Howe disse:

“No decorrer dos trabalhos de numerosos psicólogos, descobriu-se que estamos muito próximos do Budismo sem o saber; basta estarmos um pouco esclarecidos sobre a filosofia budista, para compreender que há 2 500 anos sabiam mais sobre psicologia moderna do que se possa imaginar... Desta forma, estamos redescobrindo a antiga sabedoria do Oriente."

Desde centenas de gerações estamos condicionados a "pensar" e a atribuir ao intelecto o cetro das conquistas humanas, mas é evidente que a decorrência de todo este passado acumulado, catalogado e esmiuçado através da engrenagem puramente intelectual, mostra agora, principalmente nos tempos atuais, a completa falência quanto à solução dos problemas humanos fundamentais como o amor, a paz, o sexo, o ódio e as guerras.

O conhecimento adquirido pelo acúmulo da memória, da cultura, da especialidade e aprimoramento técnico nada mais é do que a captação superficial do assunto, do fato, da situação, do problema.

Os problemas urgentes que o mundo hoje enfrenta só podem ser resolvidos pela aplicação de leis morais e espirituais; mas primeiro temos que compreendê-las. Não é bastante inventar regras para ajustá-las às nossas circunstâncias e justificar nossas ações, ainda que isto seja, de fato, o que os homens tem feito desde tempos imemoriais.

Nós devemos nos aproximar do grande mistério da vida com espírito de reverente investigação, escolhendo os melhores guias e procurando estabelecer, para nossa própria satisfação, a Verdade, através de sua magnitude.

Vivemos dominados pelo apego e aversão até mesmo aos mais insignificantes objetos, assim como damos um valor absoluto às mais relativas situações. Vivemos egoisticamente e, por consequência, dominados pela má vontade e ressentimento quando vemos contrariados os nossos menores interesses. Sentimos ódio, ciúme, ansiedade, sem que tenhamos consciência de que a nossa ignorância faz deste modo um muro de lamentações. São dessas impurezas da mente que surgem todos os problemas humanos, como também a continuidade do desespero e da aflição, devido á decadência física, moral e à morte.

No Budismo a compreensão verdadeiramente profunda é conhecida pelo nome de "penetração" e consiste em ver as coisas na sua verdadeira natureza, sem nome nem rótulos, sem conceitos. Essa penetração somente é possível quando a mente está livre de todas as impurezas, de todos os condicionamentos e a visão interior foi desenvolvida ao máximo por meio da meditação. Sem meditação não existe Correta Compreensão.

O objetivo principal da meditação consiste na contemplação ou observação pura (vigilância); compreender a vida e as coisas como elas realmente são, sem ver o bem, sem ver o mal, sem apego, se forem agradáveis ou favoráveis, sem aversão, se forem desagradáveis ou desfavoráveis; enfim, sem condicionamentos, que são entraves à observação pura.

Através da prática da meditação, podemos desenvolver nossa mente, objetivando a purificação e a compreensão da Verdade, e alcançar a perfeição em vida. É a ação vigilante da meditação que permite ao homem libertar-se da influência da relatividade dos fatos e das coisas e penetrar na verdadeira natureza da existência, isto é, compreender que ela é impermanente, sem substância e, portanto, capaz de causar sofrimento aquele que, na sua ignorância, se apega às coisas, aos seres e à própria vida. Uma vez libertado desta ilusão básica e, portanto, da irrealidade do conceito do "eu", que condiciona a noção de permanência e egoísmo, o homem se liberta da lei do carma e do ciclo sem fim dos renascimentos.

Gautama Buda esclarece:
"Existem duas espécies de doenças: a física e a mental; no entanto, há indivíduos que tem a felicidade de estarem isentos de doença física durante um, dois, ou mais anos, ou mesmo durante o decorrer de toda a vida. Mas, bhikkhus, raros são aqueles que neste mundo estão isentos, um só instante, da doença mental, salvo aqueles que estão livres de todas as impurezas da mente, isto é, os Arahants.".
(Anguttara-Nikaya)

A palavra meditação substitui mal o termo original bhavana, que significa cultivo do desenvolvimento mental. Ela tem por fim libertar a mente do jorrar contínuo dos pensamentos, de toda espécie de impurezas e perturbações, tais como: indolência, preocupações, agitações, dúvidas, má vontade, ressentimento, ódio, desejo sensual etc., cultivar qualidades, tais como: a concentração, a atenção, a vontade, a energia, a faculdade de analisar, a confiança, a alegria, a calma, etc.; e, finalmente, levar o indivíduo á mais alta sabedoria de ver as coisas tais como elas são, podendo alcançar a percepção da Realidade Última, o Nirvana, que só é atingido através da compreensão supra-racional, ou visão interior, da qual qualquer descrição transcende as limitações do intelecto discursivo.

Dr. Georges da Silva e Rita Homenko


Fonte: Extraído do Livro "Budismo - Psicologia do Autoconhecimento"