domingo, 4 de agosto de 2013

O Êxtase e a Arte de Testemunhar

“Querido Osho,
Eu sempre estou oscilando entre uma excitação de alta energia, onde a vida é maravilhosa e é uma alegria estar só, e estes dias quando há uma tranqüilidade que é estúpida e enfadonha. Num momento existe energia, mas nenhuma consciência, e no outro existe consciência, mas nenhuma energia.
Existe um artifício para fazer com estes dois momentos estejam juntos?



"Isto é uma coisa muito simples. Você diz que tem momentos de grande êxtase, cheio de energia, mas que você fica afogado nesta energia; o êxtase é tão intenso que você se esquece de ficar alerta. Você fica imerso naquele êxtase e a testemunha não está presente. E você diz que existem momentos quando está triste e entediado, mas a testemunha está ali.

Você simplesmente precisa que colocar as coisas no seu devido lugar. Comece com seu tédio e sua tristeza, porque a testemunha está ali e a testemunha será a ponte. Assim, quando você estiver triste e entediado, simplesmente observe este estado, como se ele fosse alguma coisa fora de você; ele é.

Você sempre é uma testemunha e agora está testemunhando tristeza e tédio. É fácil testemunhar a tristeza e o tédio, porque ninguém quer ficar mergulhado no tédio. E isto é muito importante porque você pode aprender toda a arte enquanto você estiver entediado.

Simplesmente observe o tédio, e na medida em que o seu testemunhar cresce, você verá que existe uma distância entre você e o tédio, a tristeza, a miséria, a dor e a angústia. Você não é parte de toda essa experiência; você está de pé no alto, acima das montanhas, um observador nas montanhas, e tudo mais está se movendo lá em baixo, no vale escuro.

Você já tem o segredo, só falta praticá-lo mais e mais. Sente-se ao lado de um burro, sente-se ao lado de um búfalo; fique olhando para o búfalo e você ficará entediado. Por todo lado você pode encontrar objetos que serão imensamente úteis.

Você não precisa esperar pela chegada desses momentos, porque quem sabe quando o búfalo se aproximará de você? Por que não ir até o búfalo? Você pode se enfiar no meio do gado e sentar-se entre os animais.

Você se vai se sentir entediado. O gado fica pastando e mastigando o capim. Você acha que você vai começar a pastar? Você não vai se envolver naquilo. Sentado no meio do gado, entre os búfalos, você vai se sentir apenas como uma testemunha.

Não fique triste nem entediado. Deixe que o tédio esteja ali, assim como a tristeza. E você permanece sendo simplesmente uma testemunha. Nestas situações, isto é mais fácil. Depois que você já tiver fortalecido a sua testemunha, experimente então testemunhar aqueles momentos de êxtase, aquelas alturas...

Aí será um pouco mais difícil, pois virá uma vontade de lançar-se naquele espaço cheio de ondas. Quem vai querer ficar sentado num banco só observando? Surge o medo de que aquele momento se vá, se perca, se ficarmos só observando.

Não se preocupe. Se você testemunhar, o momento vai permanecer ali, a experiência vai crescer ainda mais e vai tornar-se cheia de cores. Mas em momento algum fique identificado com a experiência. Permaneça desapegado, simplesmente um expectador.

A arte é a mesma, não importa se é com o tédio ou com o êxtase. O que importa é que você não esteja envolvido, que mantenha a distância, que permaneça ali, parado.

Quando testemunhar, você ficará surpreso, pois o tédio, a tristeza, a felicidade, o êxtase, seja o que for, vai começar a se mover para longe de você. Na medida que o seu testemunhar fica mais profundo e mais forte, se torna mais cristalizado, qualquer experiência, boa ou má, bela ou feia, desaparece. Existe um puro nada por toda a sua volta.

O testemunhar é a única coisa que pode torná-lo mais consciente do imenso nada que o circunda. E nesse imenso nada... Não é vazio, lembre-se. Em inglês não existe uma palavra para traduzir a palavra budista shunyata.

Esse nada não é vazio, ele é cheio da sua presença, cheio do seu testemunhar, cheio da luz de sua testemunha. Nesse nada, você se torna quase um sol, e os raios do sol movem-se dentro do nada em direção ao infinito.

Um dos místicos indianos, Kabir, disse, ‘Minha primeira experiência foi com o sol e na medida em que minha experiência foi crescendo, vi que o sol externo é nada e o sol interno é infinito. A sua luz preenche todo o infinito da existência. E em tal momento eu sou apenas uma testemunha; eu estou lá.’

Assim, comece testemunhando o seu tédio, a sua tristeza, porque a questão não é o objeto, a questão é a arte de testemunhar. Comece com qualquer objeto – raiva, ódio, amor, ciúme – qualquer coisa serve.

Se você nada encontrar, pegue um espelho e olhe para a sua face, testemunhe-a. E você ficará muito surpreso, pois quando você está num completo estado de testemunhar, o espelho se torna vazio, você não está nele.

Em total testemunhar, o objeto desaparece.Pela primeira vez você será capaz de ver o espelho como um nada. Comece com coisas que são mais fáceis, e depois passe para as que são mais onduladas. A ponte é simples.".

OSHO – From Death to Deathlessness – Disc n° 24
Tradução: Sw. Bodhi Champak



Fonte: Instituto Osho