sexta-feira, 20 de julho de 2012

Alcoolismo e Meditação







Osho a um discípulo: Você quer perguntar alguma coisa?

Discípulo: Não, na verdade não... exceto confessar algo a respeito do qual gostaria de ser ajudado. Eu bebo demais. Preciso parar com isso?









Osho: Não, não, não há necessidade de parar agora. Isso se tornou um hábito há tanto tempo que, parando, criará problemas. Já entrou no corpo. Não precisa se preocupar. Apenas admita isso e não se sinta culpado.

Dê pelo menos duas horas por dia para a meditação e, então, pouco a pouco, você se tornará tão silencioso e feliz, tão despreocupado, que o desejo de beber começará a desaparecer.

Quando o desejo começar a desaparecer, comece a reduzir o consumo; antes disso, não. Se você fizer isso antes, será destrutivo para o corpo. Se você forçar isso, criará um conflito interior. E tudo o que reprimimos acaba tirando revanche.

Assim, se por dois ou três dias você se reprimir, no quarto dia você beberá, e beberá demais. Isso é inútil. Por isso, não se preocupe. Em vez de lutar contra, comece a meditar.

Beber simplesmente mostra que tem havido problemas, problemas que você não conseguiu resolver... preocupações das quais não houve escapatória. O único meio que você pôde encontrar foi tornar-se inconsciente. Esse é um expediente para se livrar dos problemas e das preocupações. E existem preocupações e problemas na vida.

Assim, agora, a única coisa que pode ajudar é esquecer tudo a respeito disso. Até mesmo esta ideia - de que é preciso abandonar a bebida - abandone-a também. Aceite-a. Isso aconteceu, e agora o passado não pode ser mudado, portanto não fique preocupado.

Não crie uma nova preocupação. Simplesmente medite e torne-se cada vez mais silencioso. Então verá que o desejo de beber, pouco a pouco, desaparecerá. Tenho visto desaparecer em muitas pessoas. Chega um momento no qual você não pode mais beber - só então abandone a bebida, antes não. Na verdade, você não a abandona; ela cai por si mesma.

Sou sempre a favor dos métodos muito naturais a respeito de tudo. Sou contra todos os sentimentos de culpa e não quero criar sentimentos de culpa em ninguém. Foi assim que a vida aconteceu para você. O que você pode fazer? Não há nenhum sentido em lutar contra isso, mas há um meio de mudar a visão interior.

Por exemplo, se você se tornar mais feliz e mais silencioso, você não será capaz de beber muito, porque para beber a pessoa precisa estar muito, muito infeliz. No fundo, alguma infelicidade precisa existir; e, então, podemos afogá-la na bebida.

Ela parece dar uma certa felicidade. Mas não dá. Ela simplesmente afoga a infelicidade, assim uma falsa felicidade é criada. Mas se você se tornar feliz, você parará de beber, porque, então, a bebida afogará a sua felicidade e o tornará infeliz. Então o processo inteiro se inverterá.

Assim, não pense nisso em termos de confissão. Isso não é um pecado. Existem erros na vida, falhas, mas nada é um pecado. E todo mundo tem que passar por muitos erros, porque esse é o único jeito de aprender e crescer.

Portanto, simplesmente aceite a si mesmo. Nestes últimos dias da sua vida não há necessidade alguma de criar qualquer conflito interior. Apenas aceite tudo o que está aí. Seja natural a respeito disso e não tente mudar a si mesmo por qualquer meio exterior.

Continue a meditar e muitas coisas começarão a acontecer. Quando elas acontecerem, então estará bem.

Se você continuar a meditar antes de abandonar esse corpo, ficará completamente livre da bebida e de outras coisas. Não há nenhum problema a respeito disso. Mas se você tentar deixá-las, nunca ficará livre. Você pode condicionar sua mente de um tal modo que na sua próxima vida poderá continuar bebendo.

Um conflito o divide. Uma parte quer beber e a outra lhe diz: "Não beba." É como se eu estivesse tentando travar uma luta entre minhas duas mãos. Algumas vezes, poderei deixar a mão direita vencer e, noutras, a mão esquerda, porque ambas são minhas. A vitória não é possível.

E é simplesmente tolice lutar, porque as duas são você. A parte que bebe e a que diz que gostaria de deixar a bebida ou que se sente culpada, ambas são você.

Não divida. A divisão não leva a lugar algum. Cria ficção e dissipa a energia. Nesses últimos dias de sua vida, você precisará de mais energia, por isso a dissipação não será boa. E é tolice também. Nunca ajudou ninguém.

Assim, simplesmente aceite as duas e deixe que sejam uma só. Simplesmente diga: "Este é o jeito que eu sou." Não faça disso uma confissão, porque a própria palavra carrega algum tipo de culpa em si. Não há necessidade de confessar. Esse é o jeito que você é, ou é o jeito que Deus o fez, e você o aceita.

Toda a minha ênfase é na meditação, não no caráter, porque o caráter é uma coisa exterior. Se o interior muda, o exterior o acompanha, mas não vice-versa. Você pode mudar o exterior, mas o interior não o acompanhará, porque o interior é mais poderoso do que o exterior. É como quando você caminha e sua sombra o segue. O caráter é como uma sombra.

Mas o inverso não é possível - a sombra caminhar e você segui-la. Isso não é possível. A sombra não pode caminhar, em primeiro lugar. Em segundo, mesmo que ela caminhasse, não haveria necessidade alguma de você segui-la. Para quê?

Geralmente as religiões têm enfatizado o caráter. E é por isso que criaram a hipocrisia e nada mais. As pessoas não podem mudar o caráter - e a religião continua a forçá-las a fazerem isso. Assim, a única coisa possível, humanamente possível, é ter uma face e mostrar outra. Elas bebem e nunca dizem em público que fazem isso. Fazem coisas em sua vida privada e têm uma face pública.

Foi assim que a humanidade inteira tornou-se hipócrita - uma multidão de fingidos, não autênticos, falsos - e a responsabilidade é das igrejas, das religiões e dos padres.

Minha ênfase não é no caráter, em absoluto. Digo que o caráter tomará conta de si mesmo. Simplesmente tente contactar-se com seu centro mais profundo, com seu ser essencial. Isso é o mais fundamental. Uma vez que você esteja em contato com ele, as coisas começarão a mudar na sua vida - e sem qualquer esforço; essa é a beleza.

Se você mudar com esforço, será algo forçado. Será como se você estivesse forçando um botão de flor a se abrir. Você pode forçá-lo e ele se parecerá com uma flor, mas não será uma flor verdadeira.

Assim, deixe que o florescimento seja espontâneo; simplesmente medite.

Osho, em "O Cipreste no Jardim"




Fonte: Palavras de Osho

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