terça-feira, 14 de agosto de 2012

Desafiando o Abismo



Medite, porque esse momento será significante para você.

Sempre quando alguém morre, alguém com quem você esteve profundamente relacionado, alguém com quem você esteve muito íntimo, alguém com quem você foi muito feliz ou infeliz, triste e zangado. Alguém com quem você conheceu todas as estações da vida e alguém que de algum modo tornou-se parte de você e você tornou-se parte dele ou dela.

Quando alguém assim morre, não é apenas uma morte que ocorre exteriormente, é uma morte que ocorre dentro também.



Ela estava possuindo uma parte de seu ser, então quando ela morre, essa parte em seu ser também morre. Ela estava preenchendo algo em você. Ela desaparece e ficam os ferimentos.

Temos muitos furos em nosso ser. Devido a esses furos procuramos a companhia do outro, o amor do outro. Pela presença do outro nós, de alguma maneira, conseguimos preencher esses furos. Quando o outro desaparece, esses furos estão lá novamente... escancarando abismos.

Você pode ter esquecido deles, mas você os sentirá. Então use esses momentos para uma profunda meditação porque mais cedo ou mais tarde esses furos serão preenchidos novamente. Esses furos irão desaparecer novamente. Antes que isso aconteça é bom penetrar nesses furos, penetrar nessa vacuidade que ela deixará para trás.

Então use esses momentos. Sente-se silenciosamente, feche seus olhos, vá para dentro. E apenas veja o que aconteceu. Não pense sobre o futuro, não pense sobre o passado. Não vá para as memórias porque isso é fútil. Apenas vá para dentro.

Que aconteceu a você? Ela está morta; agora que aconteceu a você? Que está acontecendo com você? Apenas mergulhe nesse processo. Isso irá revelar muitas coisas em você. Você será completamente transformado se você puder penetrar nesses furos. Você não irá tentar preenchê-los novamente, mas você ainda pode amar.

A pessoa pode amar sem de maneira nenhuma levar o outro para dentro e preencher alguma profunda necessidade lá. A gente pode amar como um luxo... porque a gente precisa repartir e a gente quer repartir. Assim o amor não é mais uma necessidade; você não está ocultando suas mágoas atrás dele.

Então penetre nessas mágoas, penetre nessa vacuidade, penetre nessa ausência, e observe – isso é uma coisa.

A segunda coisa: lembre-se que a vida é realmente efêmera, passa rapidamente... tão momentânea. Vivemos num mundo mágico. Nós vamos iludindo a nós mesmos. De novo a ilusão desaparece. De novo a surge realidade. De novo alguém morre e você é lembrado que a vida não é confiável, que a pessoa não deve depender demais da vida. Num momento ela está presente, em outro momento ela se vai.

É uma bolha de sabão – apenas uma pequena alfinetada e ela se vai. Na verdade, quanto mais você entende a vida, mais cheio de admiração você fica sobre como isso existe. Desse modo a morte não é o problema; a vida se torna o problema. A morte parece natural.

É um milagre que a vida exista – tal coisa temporária, tal coisa momentânea. E não somente ela existe, pessoas confiam nela. Pessoas dependem dela, pessoas contam com ela. Eles colocam todo o ser deles aos pés dela – e é só uma ilusão, um sonho.

A qualquer momento se vai e a pessoa fica chorando. Com a sua ida todo o esforço, todo o sacrifício que você fez por ela. Subitamente tudo desaparece. Então observe isso – essa vida ilusória como um sonho, momentâneo.

E a morte está vindo para todo mundo. Estamos todos de pé na fila, e a fila está continuamente chegando mais perto da morte. Ela desaparece; a fila fica um pouco menor. Ela abriu espaço para mais uma pessoa. Toda pessoa que morre lhe traz para mais perto da sua própria morte, assim toda morte é basicamente sua morte.

Em cada morte a pessoa está morrendo e chegando mais perto de uma parada completa. Antes que isso aconteça, a pessoa precisa ficar tão cônscia quanto possível.

Se confiarmos demais na vida, tendemos a ficar inconscientes. Se começarmos a duvidar da vida – essa assim chamada vida que sempre acaba na morte – então nos tornamos mais cônscios. E nessa consciência um novo tipo de vida começa, suas portas se abrem – a vida que é imortal, a vida que é eterna, a vida que está além do tempo.

Osho, em "The Passion for the Impossible"



Fonte: Palavras de Osho