domingo, 26 de agosto de 2012

Não Há Mundo Objetivo Independente do Observador


O mundo que você aceita como real parece ter qualidades definidas. Algumas coisas são grandes, outras pequenas; umas são duras, outras, moles. No entanto, nenhuma dessas qualidades significa qualquer coisa que não seja a sua percepção.



Tome qualquer objeto, como, por exemplo, uma cadeira de dobrar. Para você ela não é muito grande, mas para uma formiga é imensa. Para você a cadeira é dura, mas um neutrino passaria direto através dela, porque para uma partícula subatômica os átomos da cadeira são separados por quilômetros. 

A cadeira parece estar fixa, mas se você observasse do espaço sideral a veria girando, juntamente com tudo mais na Terra, a mil milhas por hora. Da mesma forma, qualquer outra coisa que você possa descrever relacionada com a cadeira pode ser completamente alterada simplesmente com a mudança da sua percepção.

Se a cadeira for vermelha, você pode fazer com que pareça preta vendo-a através de óculos verdes. Se a cadeira pesar cinco quilos você poderá fazer com que pese dois, colocando-a na lua, ou cem mil, pondo-a no campo gravitacional de uma estrela de grande densidade.

Por não existirem qualidades absolutas no mundo material, é inclusive falso dizer que há um mundo independente "lá fora". O mundo é um reflexo do mecanismo sensorial que o registra. O sistema nervoso humano apreende apenas a menor das frações, menos que uma parte de um bilhão, da energia total que vibra no ambiente.

Outros sistemas nervosos, tais como o de um morcego ou de uma cobra, refletem um mundo diferente, coexistindo com o nosso. O morcego sente um mundo de ultrassom, a cobra, um mundo de luz infravermelho, ambos imperceptíveis a nós.

Tudo o que há realmente "lá fora" são dados informes, em estado natural, esperando para serem interpretados por você, o sujeito que vai captá-los. Você toma "uma sopa fluida e radicalmente ambígua de quantum", como os físicos a chamam, e usa seus sentidos para congelá-la e trazê-la para o mundo sólido tridimensional.

O eminente neurologista britânico Sir John Eccles demole a percepção sensorial com uma afirmação espantosa, mas irrefutável: "Quero que você perceba que não há cor no mundo natural e não há som; nada deste tipo; nada de texturas, padrões, beleza, perfume..."

Resumindo, nenhum dos fatos objetivos sobre os quais geralmente baseamos a nossa realidade é fundamentalmente válido. Por mais perturbador que possa parecer, é incrivelmente libertador perceber que você pode mudar o seu mundo — inclusive o seu corpo — simplesmente por mudar a sua percepção.

O modo como você vê a si mesmo está causando imensas mudanças no seu corpo neste exato momento. Para dar um exemplo: nos Estados Unidos e na Inglaterra, a aposentadoria compulsória aos 65 anos de idade funciona como uma data limite arbitrária para a utilidade social da pessoa. Até a véspera do dia em que faz 65 anos, ela contribui com seu trabalho e seu valor para a sociedade; no dia seguinte passa a ser um dos dependentes dessa sociedade.

Sob o ponto de vista médico, os resultados desta mudança de percepção podem ser desastrosos. Nos primeiros anos após a aposentadoria as estatísticas de enfartes e câncer aumentam drasticamente, e a morte prematura abate homens que eram saudáveis até o dia em que se aposentaram.

"A morte por aposentadoria precoce", como a síndrome é chamada, depende da percepção de que os dias úteis da pessoa terminaram; trata-se apenas de uma percepção, mas para quem a sustenta com firmeza é suficiente para criar doença e morte.

Por comparação, em sociedades onde a idade avançada é aceita como parte do tecido social, os idosos permanecem extremamente vigorosos — desempenhando atividades que não aceitamos como normais entre os nossos velhos.

Se você examinar as células velhas, como, por exemplo, as que formam as chamadas manchas de senilidade na nossa pele, com a ajuda de um microscópio poderoso, o que se vê é um cenário tão devastado quanto uma praça de guerra. Traços fibrosos por aqui e por ali; depósitos de gordura e resíduos metabólicos não descartados formam grumos repugnantes; pigmentos escuros, amarelados, chamados de lipofuscina, acumularam-se a ponto de ocupar, como uma espécie de lixo, de 10 a 30% do interior da célula.

Esta cena de devastação foi criada por processos subcelulares que saíram errados, mas se você examiná-la com lentes menos materialistas, verá que as células velhas são como mapas da experiência da pessoa. As coisas que fizeram você sofrer foram impressas aqui, juntamente com as que lhe trouxeram alegria.

Situações de estresse esquecidas há muito tempo no nível consciente ainda transmitem sinais, como microchips enterrados, tornando-o ansioso, tenso, fatigado, apreensivo, ressentido, duvidoso, desapontado — reações estas que cruzam a barreira psicossomática para se tornarem parte de você.

Os depósitos tóxicos que entopem as células velhas não aparecem uniformemente; algumas pessoas apresentam esse tipo de reação em quantidade muito maior do que outras, mesmo quando são ínfimas as diferenças genéticas entre elas. Quando você chegar aos 70 anos, as suas células terão uma aparência única, espelhando as experiências igualmente únicas que você processou e metabolizou no interior dos seus tecidos e órgãos.

Ser capaz de processar as vibrações caóticas da "sopa quântica" e transformá-las em pedaços de realidade ordenados e significativos é algo que abre enormes possibilidades criativas. Estas possibilidades, contudo, só existem quando você tem consciência delas. Enquanto você está lendo este livro, grande parte da sua consciência está engajada em criar seu corpo sem sua participação.

O sistema nervoso chamado de autônomo ou involuntário destina-se a controlar funções das quais não temos consciência. Se você sai andando pela rua em transe, os centros involuntários do seu cérebro ainda assim estarão atentos ao mundo, continuando a preveni-lo do perigo, prontos para ativar a reação ao estresse de uma hora para outra.

Uma centena de fenômenos aos quais você não presta atenção — respirar, digerir, criar novas células, reparar as células velhas danificadas, purificar as toxinas, preservar o equilíbrio hormonal, converter a energia armazenada de gordura em açúcar no sangue, dilatar as pupilas, aumentar e diminuir a pressão arterial, manter constante a temperatura do corpo, conservar o equilíbrio enquanto você anda, enviar sangue em mais quantidade para os grupos de músculos ou órgãos que estiverem em maior atividade e sentir os movimentos e sons no meio ambiente — tudo isto segue sem cessar.

Estes processos automáticos desempenham um papel preponderante no envelhecimento, pois, à medida que ficamos mais velhos, nossa capacidade para coordenar essas funções vai declinando. Viver inconscientemente leva a numerosas deteriorações, enquanto que uma vida de participação consciente as
impede.

O simples fato de prestar atenção às funções corporais, em vez de deixá-las por conta do piloto automático, modificará o modo como envelhecemos. Toda função denominada involuntária, do batimento cardíaco à respiração ou à regulação dos hormônios, pode ser controlada conscientemente.

A era do biofeedback (técnica de usar o feedback de uma reação corporal normalmente automática a um estímulo, a fim de se adquirir o controle voluntário dessa reação) e da meditação nos ensinou isso,  pacientes cardíacos foram treinados em laboratórios psicossomáticos a reduzir sua pressão sanguínea ou a reduzir as
secreções ácidas que criam úlceras, entre dezenas de outras coisas.

Por que não usar esta capacidade no processo de envelhecimento? Por que não trocar os antigos padrões de percepção por novos? Há inúmeras técnicas para influenciar o sistema nervoso involuntário em nosso benefício.

Deepak Chopra


Fonte: Extraído do Livro "Corpo Sem Idade, Mente Sem Fronteiras"