Você tem as emoções que acha merecer. No entanto, muitas vezes, não são as emoções que você quer. Longe disso. Todos fazem malabarismo de sentimentos "ruins" e "bons", o que leva ao julgamento pessoal.
Envolta em sentimentos "ruins"; raiva, medo, inveja, hostilidade, papel de vítima, autopiedade e agressividade, há uma imagem pessoal que precisa dessas emoções negativas. Não há duas pessoas que as utilizem da mesma forma. Construímos nossa identidade de maneira ímpar.
Algumas pessoas usam o medo para motivar a si mesmas na superação de desafios; outras o utilizam para se sentirem dependentes e vitimadas. Algumas lançam mão da raiva para controlar qualquer um que esteja à vista; outras temem a raiva e jamais a demonstram.
No entanto,seu senso de self — e consequentemente a autoestima — está atado a todos os sentimentos que você possui.Todas as emoções são válidas, de uma maneira ou de outra. Mas, quando você acrescenta o ingrediente do julgamento próprio, qualquer emoção pode ser danosa.
O amor já destruiu vidas quando mal-empregado, desvirtuado ou rejeitado. "Estava apenas tentando ajudar" parece uma afirmação positiva, originada pelo carinho; porém, com que frequência ela mascara uma intromissão indesejada? Você pode moldar uma imagem própria isenta de julgamento sempre que quiser.
Incontáveis pessoas querem fazê-lo, quase na mesma proporção dos especialistas que nos dizem como. Contudo, se suas emoções têm efeitos negativos, você não será capaz de criar o self que deseja. É muito difícil se sentir bem consigo mesmo quando emoções primais como a raiva e o medo têm permissão para fazer o que querem.
Então, o que você faz? Se a repressão não funciona, tampouco funcionará deixar que as emoções negativas transcorram livremente. Dou grande valor à compaixão.
Se você pode olhar para si mesmo e dizer "Tudo bem, eu entendo", está fazendo duas coisas de uma só vez: assumindo o julgamento de suas emoções e dando a si mesmo a permissão de ser quem você é. A compaixão é uma emoção que tende a fluir de dentro para fora.
Esquecemos de dá-la a nós mesmos. Fui lembrado disso em um encontro marcante que tive com uma jovem que veio me fazer uma pergunta.
— Sempre ouço as pessoas — disse ela. — Só estava imaginando... Será que estou indo longe demais com minha compaixão? Pedi que ela descrevesse o que acontece quando ela ouve as pessoas. - É estranho — ela respondeu. — Quando me levanto, pela manhã, ouço minha família com compaixão.
Sempre fui assim, desde criança. No trabalho, as pessoas me contam seus problemas, porque sabem que tenho compaixão. Mas, recentemente, até as pessoas na rua, estranhos absolutos, de repente começaram a me abordar e contar seus problemas. Ouço todo tipo de história.- E você sempre dedica um tempo para ofertar compaixão? — perguntei. Ela assentiu.
- Não creio que esteja se prejudicando — falei. Ela pareceu aliviada. — Na verdade — continuei —, acho que você é notável sem perceber. Fico grato por você existir. Aquilo foi inesperado e ela ficou constrangida. Poucos de nós podemos dizer que nosso principal problema é o excesso de compaixão pelos outros.
— Mas há algumas ciladas — disse a ela. — A compaixão é sinônimo de pena. A palavra "compaixão" significa "sofrer com". É onde se deve estabelecer um limite. Sua compaixão será mal utilizada se isso a exaurir. Ela não pode sufocá-la, nem fazê-la se sentir mal como a pessoa por quem você sente compaixão.
Quando é válida, a compaixão é tão valorosa para aquele que dá quanto para o que recebe. Depois, pensei em como isso se aplica ao self. Dentro de cada um de nós há uma voz que persiste em julgamento.
Podemos chamá-la de consciência ou superego, mas é uma voz que não vem de um juiz de fora, ou de nossos pais. Ela age de modo independente, analisando nosso valor ou o que estamos pensando.
Digamos que se sinta injustamente zangado com alguém e depois culpado por ter extravasado a raiva. A voz de julgamento em sua cabeça diz: "Você está errado. Provavelmente se encrencou e merece isso". Talvez essas palavras sejam úteis de alguma forma.
Mas essa voz julgadora é apenas você; portanto, ao julgar contra você, na verdade, a voz está julgando contra ela mesma. Não há um juiz independente e objetivo lá dentro.
A voz que o rotula como errado ou mau é um personagem de ficção, e o que você perceberá é que esse personagem nunca tem compaixão. Para manter o poder sobre você, a voz tem de intimidá-lo.O que aconteceria se você começasse a ter compaixão por si mesmo? O juiz interior começaria a se dissolver.
No caso dessa jovem, senti que ela não manipulava a compaixão de modo egoísta, como as pessoas costumam dizer: "Depois de ver quanto meu amigo está mal, sinto-me bem melhor comigo mesmo". Em vez disso, deixava que sua compaixão fluísse, ouvindo e abrindo um canal. Precisamos fazer igual por nós mesmos.
Em sua máxima, a compaixão tem um papel de cura. Quando você a oferta, as angústias de outra pessoa são ouvidas e passam a um nível mais alto de consciência. Não estamos falando de renunciar à sua consciência. Mas, quando a consciência começa a ser punitiva e o faz se sentir indigno, ela já foi longe demais.
É hora de desprender o julgamento que o mantém preso a uma limitada concepção própria. No reino espiritual , o sofrimento pode ser curado. Por meio de sua compaixão, você abre um canal aos poderes de cura. Aspire ser esse canal. Esse é um dos maiores prazeres da vida e certamente o mais puro.
Deepak Chopra
Fonte: Extraído do Livro "O Efeito Sombra"