Recentemente, em um curso de EFT, atendi uma moça com problemas nos relacionamentos afetivos. Ela sentia muita raiva só de pensar na possibilidade de ser traída. Esse tema a incomodava de uma maneira muito profunda.
O sentimento desconfortável se manifestava sempre que ela ouvia falar de alguma traição, fosse na televisão, revista ou em conversa com amigos. Se algum amigo falasse que foi a uma balada sozinho, sem a namorada e paquerou ou ficou com alguém, ela se sentia bastante irritada e se tornava agressiva com a pessoa chamando-a de idiota e questionando o porquê desse tipo de comportamento.
Toda essa raiva escondia um medo profundo de ser traída e se sentir rejeitada. A raiva, muitas vezes, é apenas uma máscara que esconde uma fragilidade. Quando guardamos esse tipo de sentimento, nossa mente começa e procurar involuntariamente por fatos e indícios de que a outra pessoa está nos traindo.
No artigo anterior escrevi sobre como as emoções negativas filtram e distorcem a realidade e era exatamente isso que acontecia com ela.
Uma olhada para o lado que o namorado desse, ou um comentário qualquer, sempre a levava a concluir que a pessoa estava com intenção de traí-la. Nesse momento, ela sentia muita raiva, criava uma confusão e acabava por terminar o relacionamento. Isso dava origem a sofrimento para ela e para o outro.
Esse medo e raiva constantes a deixavam bastante tensa. Sendo assim, todo relacionamento era um tormento. Se por um lado ela queria se relacionar, por outro, sentia um alívio quando acabava um namoro já que a tensão também acabava, mas logo em seguida surgia o sentimento de frustração por não conseguir se relacionar.
Durante anos fez terapia, acredito que no estilo tradicional da psicologia, e sabia descrever exatamente como se sentia e se comportava. Entretanto, esse saber não provocava mudança de comportamento. Desejava mudar, mas, quando uma nova situação ocorria, o comportamento se repetia da mesma forma.
Ela dizia que na hora em que acontecia algum evento, a emoção da raiva vinha com toda força e ela simplesmente não conseguia agir de outra forma. Depois de passado o "ataque" da raiva, ela conseguia enxergar o que havia feito, mas já era tarde demais. E depois, em outra ocasião, ou em outro relacionamento, a mesma história se repetia. Era como se algo a tivesse tomado por completo. E esse "algo" era simplesmente uma forte carga emocional de medo disfarçada de raiva.
As emoções negativas que guardamos têm o poder de nos deixar inconscientes. Ficar inconsciente significa se deixar absorver pela energia da emoção e permitir que ela tome conta dos nossos pensamentos e ações. Nesse momento não somos mais nós mesmos, somos a emoção que se apoderou da nossa mente. Perdemos a lucidez temporariamente. O grau da perda da lucidez varia de pessoa para pessoa e varia, também, conforme a força da emoção que vem à tona.
Todos nós, em maior ou menor grau, permitimos que isso ocorra. Em casos mais graves, a pessoa pode se tornar violenta e cometer um crime. Mas nem sempre agimos de uma forma assim tão visível. A perda de lucidez que a emoção provoca pode nos levar a fazer comentários desagradáveis, piadas maldosas, fofocas. Em outros casos, não tomamos nenhuma ação, mas pensamentos desagradáveis ficam rondando nossa cabeça, gerando mais sentimentos negativos.
É preciso ficar muito atento para observar essa perda da lucidez, seja qual for o grau em que ela se apresente. No momento em que conseguimos enxergar essa perda, já estaremos mais lúcidos. Um louco que consegue ver a sua loucura está menos louco do que o outro que acredita piamente nas suas fantasias e não consegue observá-las. Essa tomada de consciência, por menor que seja, é o ponto de saída que pode nos levar a uma lucidez mais profunda e a libertação do padrão emocional.
Além ter essa reação emocional intensa durante situações corriqueiras e conversas, ela também ficava tendo pensamentos negativos imaginando o namorado indo para uma balada sozinho. E quando ela começava a imaginar esse tipo de situação, a raiva vinha também com bastante força. Durante o atendimento que fiz com ela, pedi que visualizasse a situação para deixar a emoção vir à tona. A carga emocional veio de forma intensa pelo simples fato de ficar fantasiando uma situação. Aplicamos bastante EFT até dissolver os sentimentos.
Durante as rodadas foram também surgindo desconfianças que ela tinha do pai e depois também com a mãe. Ela sentia raiva e tristeza ao pensar que eles já poderiam ter traído um ao outro. Aplicamos bastante EFT para dissolver todos esses sentimentos. O trabalho todo deve ter durado mais ou menos uma hora.
Ao término da sessão ela já conseguia pensar e falar em traição sem chorar e observou que o tema a incomodava de uma maneira muito menos intensa. Foi para casa e no dia seguinte nos relatou que seu primo, que estava namorando, havia contado para ela de suas aventuras sozinho na balada. E a reação dela foi surpreendentemente tranquila, chegou até a rir do que o primo falava. Antes a reação dela seria de raiva, chegando a falar mal o primo.
A partir do momento em que os sentimentos são dissolvidos, a nossa reação muda completamente. Sem mais aquela carga acumulada de medo e raiva, ela pôde ficar em paz diante daquilo que o primo contava. Não havia mais o exagero, a projeção, o despertar de sua própria negatividade, pois esta havia sido dissolvida em grande parte. Os próximos relacionamentos certamente serão mais fáceis. E se ainda surgir algum resquício do velho padrão, é só aplicar mais EFT com paciência e persistência.
A mudança de comportamento só ocorre quando há uma mudança da emoção que está por trás do comportamento nocivo. Com a EFT essa mudança costuma ocorrer de uma forma rápida.
Em qualquer situação difícil, a melhor forma de lidar com o problema é primeiro dissolver os nossos sentimentos negativos em torno da situação: nossos medos, mágoas, raiva e quaisquer outras emoções. Ao fazer isso, limpamos a negatividade que turva e influencia nossos pensamentos e ações. Um sentimento de paz se estabelece e é a partir desse estado que brota a nossa sabedoria. Nossos pensamentos se tornam mais claros e nossas ações mais eficazes.
É difícil chegar nesse estado de paz sozinho, mas com o auxilio de uma técnica como a EFT conseguimos curar essas emoções e, em muitos casos, rapidamente sentimos o alívio. Com o alívio brotam os insights e clareza do que deve ser feito.
André Lima
EFT Practitioner, Terapeuta Holístico, Mestre de Reiki e Engenheiro.
Fonte: EFT - Liberdade Emocional