terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tudo Que a Mente Concebe é Criação Mental






Seis são os elementos que constituem o homem: solidez, fluidez, calor, movimento, espaço e consciência.







O discípulo os analisa e descobre que nenhum deles é “eu” ou "meu". Analisando, compreende como a consciência surge e desaparece, como as sensações agradáveis, desagradáveis ou indiferentes surgem e desaparecem. Em consequência desse conhecimento, sua mente se desapega.

Percebe, então, em si mesmo uma equanimidade pura, que ele pode dirigir alcançando um dos mais elevados estados espirituais. Ele sabe que esta pura equanimidade perdurará por um longo período de tempo.

Mas observa: "Se dirijo esta pura e clara equanimidade até a Esfera do Espaço Infinito e se se desenvolve uma mente correspondente, é uma criação mental -samkhatam. Se dirijo esta pura e clara equanimidade em direção à Esfera da Consciência Infinita, ou em direção à Esfera onde não existe Percepção, nem não-Percepção, e se se desenvolve uma mente correspondente, é uma criação mental."

Logo, ele não cria mentalmente, nem deseja a continuidade, o vir-a-ser, ou a aniquilação. Não se apegando a nada neste mundo, não sentindo apego, não está ansioso; como está liberto de toda ansiedade, está completamente apaziguado (a chama do desejo está completamente extinta dentro de si). Ele sabe: "Terminou o renascimento, a vida pura foi vivida, fiz o que tinha de fazer."

Após isto, quando experimenta uma sensação agradável, desagradável ou indiferente, sabe que todas são impermanentes, não se apega a elas, nem as experimenta com paixão. Qualquer que seja a sensação, ele a experimenta sem apego, ou aversão. Sabe que, com a dissolução do corpo, essas sensações se apaziguarão, como a chama de uma lâmpada quando o combustível e o pavio se consomem.

Conseqüentemente, uma pessoa assim dotada possui a Sabedoria absoluta, porque o conhecimento da extinção total de dukkha é a nobre e absoluta Sabedoria.

Aqueles que são desapegados, neste mundo, daquilo que foi visto, entendido ou pensado, de toda virtude e de todas as obras; que após terem-se desapegado de toda espécie de causa e terem penetrado a essência do desejo são sem paixão, a esses eu chamo homens que atravessaram a correnteza. 

Referindo-se ainda ao Nirvana, Buda disse: "Bhikkhus, existe o não-nascido, o não-tornado a ser (não-causado, incriado, inconstituído), o não-condicionado. Se não existisse o não-nascido, o não-causado, o não-condicionado, não haveria nenhuma possibilidade de libertação para o nascido, o causado, o condicionado."

Na descrição sobre a origem de dukkha vimos que o ser, a coisa, ou sistema, se tem dom de produzir-se, possui em si a natureza, o germe da sua cessação, da sua destruição.

Dukkha, o ciclo da continuidade - samsara -, tem por natureza o aparecimento; portanto, tem a natureza de cessar. Dukkha surge por causa do desejo ardente, da "sede" (tanha) e cessa devido à Sabedoria (panna). Sede e Sabedoria encontram-se incluídas nos Cinco Agregados, como já foi visto.

Se tua conduta, bhikkhu, foi caridosa e pura, então na plenitude da alegria, terás posto termo ao sofrimento. 

O Nirvana é "alcançar o céu", do nosso ponto de vista ocidental, não sendo necessário esperar a morte para realizá-lo.

O Nirvana não é uma condição negativa, ou positiva. As noções de "negativo" e "positivo" são relativas e pertencem ao domínio da dualidade. o Nirvana está alem do pensamento de dualidade e de relatividade; portanto, está fora das nossas concepções do bem e do mal, do justo e do injusto, da existência e da não- existência.

Mesmo a palavra "felicidade", usada para descrever o Nirvana, tem um sentido completamente diferente.

Sariputra disse uma vez a Udayil: -Amigo, Nirvana é a felicidade.

-Mas, amigo Sariputra, que felicidade pode ser, se não há sensação?

A resposta de Sariputra e altamente filosófica: -Não tendo sensação - isso mesmo é que é felicidade.

Estes termos, portanto, não podem ser aplicados ao Nirvana; a Verdade Absoluta está além da dualidade e da relatividade. O Nirvana é um estado incondicionado de inefável bem-aventurança, de paz e alegria sem limites, como se atesta pelas declarações daqueles que o alcançaram.

Aquele que realizou esta Verdade - Nirvana - o mais feliz dos seres. Sua saúde mental é perfeita, não se arrepende do passado, nem se preocupa com o futuro; vive o momento presente, está livre da ignorância, dos desejos egoístas, do ódio, da vaidade, do orgulho, livre das dificuldades e dos problemas que atormentam os outros.

Torna-se um ser puro, meigo, cheio de amor universal, compaixão, bondade, simpatia, compreensão e tolerância. Presta serviço aos outros com a maior pureza, pois não pensa egocentricamente, não procura lucro, nem acumula coisa alguma; nem os bens espirituais, porque está livre da ilusão do "eu", da sede e desejo de vir-a-ser.

Naquele que é caridoso, a virtude crescerá. Naquele que se domina a si próprio, nenhuma cólera pode aparecer. o homem justo rejeita toda maldade.

Pela extirpação da concupiscência, do ódio e de toda ilusão, tu atingirás o Nirvana.


Dr. Georges da Silva e Rita Homenko
 


Bhikkhu (páli), é o nome pelo qual são chamados, no budismo, aos monges do sexo masculino. As monjas recebem o nome de bhikkhunis. 

Dukkha diz respeito ao nosso condicionamento de vida dentro de experiências cíclicas, onde nos alternamos entre boas experiências (felicidade) e más experiências (sofrimento) 

Samsara (sânscrito-devanagari: संसार: , perambulação) pode ser descrito como o fluxo incessante de renascimentos através dos mundos. 

Tanha (Pāli; ou Devanāgarī: तण्हा) significa literalmente "sede" e é um sinônimo para "desejo insaciável" ou "sofreguidão". 

Panna é (Pali) para "sabedoria", a versão em sânscrito é (Prajñā)


Fonte: Extraído do Livro "Budismo - Psicologia do Autoconhecimento"

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