"Quando um não quer, dois não brigam", diz o ditado popular. Mas, como conviver com uma pessoa que quer sempre brigar?
Existem pessoas viciadas na raiva: elas só conseguem se organizar após uma explosão emocional.
Em nossa sociedade competitiva, os raivosos são vistos como pessoas fortes e os deprimidos com pessoas fracas. Na década de 1970, a raiva era considerada um sinal de saúde mental. O movimento feminista incentivava a mulheres a "entrar em contato" com sua raiva como forma de liberação. A técnica de socar a almofada ainda é vista por muitos como uma forma saudável de extravasar os sentimentos negativos. No entanto, descarregar a raiva traz apenas um alívio momentâneo, pois, a repetição da raiva reforça seus impulsos agressivos. Ou seja, expressando a raiva, aprendemos cada vez melhor a ser mais raivosos!
Aquele que mais quer agredir, é quem menos elaborou a sua dor. Torna-se fraco na medida em que precisa cada vez mais do outro para se distanciar da própria sombra.
Já aquele que não quer brigar está decidido a cuidar da própria dor. Escolhe elaborá-la. Isso não quer dizer tornar-se passivo diante da agressão, mas sim assertivo. A clareza do que é injusto, inadequado e abusivo o guiará em seus comportamentos. Será necessário que ele se posicione frente ao agressor, para colocar limites e proteger-se.
No entanto, aquele que cresceu em ambientes agressivos, servindo de base para as projeções alheias baseadas na raiva e na frustração, sente-se facilmente uma vítima culpabilizada. Afinal, foram tantos os condicionamentos de que "se ele" se comportasse como havia lhe sido dito, "tudo se acalmaria". Quem convive sob a ditadura de uma pessoa violenta e mal-humorada sabe o que estou dizendo!
Todos sofrem sob a dinâmica da raiva. Aquele que vive mal humorado pode ser até corretamente interpretado como um pessoa egoísta, narcisista ou imatura, mas de pouco serve reclamar de suas inabilidades, se o seu sofrimento não for também reconhecido em suas necessidades. Todos precisam de ajuda. O desafio é saber buscá-la nos lugares e com as pessoas certas...
Muitas vezes, aquele que agride não está desejando que o outro sofra, mas, sim, que ele assuma para si a responsabilidade da sua raiva. O mal humor e a raiva o deixam cegos. Por isso é perverso: visa apenas destruir. Enquanto uma pessoa estiver reativa não há como ajudá-la. Será preciso aguardar até que surja uma pequena brecha de receptividade. Aliás, quando se perde o contato com o mundo interior, nada do mundo externo capaz de nos transformar verdadeiramente. Sem receptividade não há empatia: quem sente raiva vê o outro apenas como um objeto no qual pode descarregar (pelo menos momentaneamente) seu desconforto.
Mau humor constante, explosões de raiva e a falta de controle de impulso são sintomas de vários distúrbios mentais. Entre eles, há o Transtorno Explosivo Intermitente: devido a um desequilíbrio na quantidade de serotonina e testosterona no cérebro, a pessoa explode de modo profundamente exagerado em relação à causa. Em outro artigo, podemos explorar melhor a biologia da raiva. Por ora, o importante é ressaltar que diante de tal distúrbio todos sofrem e cada um sabe como!
Mas, como fortalecer-se para não se tornar uma presa fácil da raiva alheia?
Na medida em que conhecemos os mecanismos de ataque do agressor, podemos criar mecanismos de proteção. Mantenha em mente que o objetivo de quem agride é desestabilizá-lo! Portanto, não entregue a ele o papel de ser alguém capaz de julgá-lo corretamente pois ele irá acuá-lo ressaltando apenas seus defeitos até que você perca de vista seu potencial de força.
Se numa conversa o foco não estiver voltado para a solução de problemas, mas, sim, para seus pontos fracos, lembre-se de que se trata, então, de uma disputa de forças. O que era uma conversa, tornou-se agora uma discussão. Então, lembre-se: o ataque pessoal é a última estratégia de quem está perdendo numa discussão. Aquele que se tornou grosseiro é porque não tem mais argumentos lógicos. Mesmo que não demonstre, ele está com medo e indefeso, por isso irá atacar antes de ser atacado.
O melhor é cair fora, pois sem receptividade as transformações positivas não podem ocorrer. Nestes momentos, é melhor pensar e (se possível) dizer: "Esta discussão não tem senso, portanto, desta forma não temos o que falar. A situação já está ruim, assim só vai piorar. Quando conseguirmos focar em como irmos para uma situação melhor, volto a conversar".
Devemos ouvir e registrar o que outro nos fala raivosamente, mas iremos precisar recuperar a calma para refletir corretamente. Neste sentido, é melhor evitarmos colocar um peso extra sobre nós mesmos. Se já nos sentimos fracos ou simplesmente cansados demais para refletir, precisamos nos respeitar.
Conhecer nossos limites e recursos é uma tarefa para a vida toda. Se permanecermos tempo demasiado em nosso circuito interno de emoções negativas, iremos nos intoxicar. Trancar-se em si mesmo por meio de uma postura autocondenadora só irá aumentar a sensação de solidão, suspeita e insegurança. Certa vez, Lama Michel Rinpoche disse: "Quando estamos sob pressão temos que começar por tirar a expectativa alheia sobre nós e cultivar um relacionamento honesto com nossa própria expectativa".
Procure espairecer. Nossa mente precisa de espaço para se reorganizar. Se não souber como fazê-lo, busque ajuda daqueles que já superaram situações semelhantes. Assim como nos fala Lama Gangchen Rinpoche: "Trabalhe para manter o seu sorriso interior. Quando os outros o inundarem com informações negativas, não beba da sua energia: ela danifica o corpo tanto quanto uma substância intoxicante!"
When one doesn’t want to, two can’t fight
“When one doesn’t want to, two can’t fight” goes the popular saying. But how do you live with a person who always wants to fight?
There are people addicted to anger: they only manage to organize themselves after an emotional explosion.
In our competetive society, the angry are seen as strong people and the depressed as weak people. During the 1970’s, anger was considered a signo of mental health.The feminist movement incentivated women to “get in contact” with their anger as a form of liberation. The technique of punching a pillow, is still seen by many as a healthy way of letting out negative feelings. However, discharging the anger brings only momentaneous relief as the act of repeating anger reinforces your negative impulses. In expressing anger, we learn more and more about how to be angry!
In using others more and more so as to distance themselves from their own shadow, they become weak.
On the other hand, they who don’t want to fight are decided on taking care of their own pain. Choose to elaborate it. This doesn’t mean to become passive when confronted by aggression, but rather, to be assertive. The clarity that the other is being unjust, inadequate or abusive will guide them in their manner. They will have to place themselves before the asailant , so that they can put limits to protect themselves.
However, those who grew up in agressive environments, serving as the Target for random projections of anger and frustration, can easily feel a the victim to blame.
If the truth be known, they were so conditioned that “if they” behaved themselves as they had been told, “all would calm down”. Those who live under the dictatorship of a violent and bad humored person know just what I’m saying!
Everyone suffers under the dynamic of anger. A person who lives bad-tempered ,can be corectly interpreted as being egoistic, narcisistic or immature, but it is to no avail complaining about their lack of abilities unless their suffering is also recognized as part of their necessities. Everyone needs help. The challenge is to look for it in the right places and with the right people....
Many times, the agressive person doesn’t want to cause suffering to the other, but rather, that they, assume part of the responsibility for their suffering. The bad humor and anger leave them blind. That’s why it is perverse: it only seeks to destroy. As long as a person is reactive, there is no way to help them. It’s necessary to wait for a receptive opening. So, when you loose contact with the internal world, nothing from the external world is capable of truely transforming us. Without receptivity there is no empathy: those who feel anger, see others just as objects onto which they can unload (at least momentarily) their descomfort.
Constant bad moods, explosions of anger and the lack of control of impulses are the symptoms of various mental disorders. Among them is Intermitente explosive disorder : due to an imbalance of serotonin and testosterone in the brain, the person explodes in an exagerated way in relation to the cause. In another article we can better explore the biology of anger. For now, it is importante to highlight that during this disturbance everyone suffers and each one knows how!
But how can we strengthen ourselves so as to not become easy prey for random anger?
As we get to know the mechanisms of attack of the agressor we can create mechanisms of protection. Keep in mind that the objective of who is agressive is to unstabilize you! However, don’t give them the role of being someone who is capable of judging you properly as they will corner you, highlighing only your weaknesses until you loose sight of your potential strength.
During a conversation, if the focus isn’t directed towards a solution to the problems, but instead, towards your weak points, remember what’s happening, is a power play. What started as a conversation, now became a discussion. So remember: a personal attack is the last tactic of who is loosing in a discussion. The one who has no more logical arguments, becomes gross. Even if they don’t show it, they are afraid and defenseless, that’s why they will attack before being attacked.
The best thing is to get out, as without receptivity, positive transformations can’t happen. At these times it is better to think and (if possible) to say: “There is no sense to this discussion; like this we have nothing to say. The situation is already bad enough, in this way it will only get worse. When we manage to focus on how we get to a better situation, I’ll talk again.”
We should listen to and register what the other says to us in anger, but we will need to recuperate our calm to be able to reflect properly. In this sense, it’s better to avoid putting an extra weight on ourselves. If we are already feeling weak or just too tired to reflect, we need to respect ourselves.
Knowing our limits and our resources is the job of a lifetime. If we stay too much time within our inner circuito of negative emotions, we will intoxicate ourselves. Locking ourselves up because of a posture of self-condemnation will only increase the sensation of lonliness, suspicion and insecurity. One time, Lama Michel Rinpoche said: “ when we are under pressure, we need to start by taking the random expectation off us and cultivate an honest relationship with our own expectation”.
Try to unwind. Our mind needs space to reorganize itself. If you don’t know how to do it, find help frrom those who have already gotten over similar situations. As Lama Gangchen Rinpoche tells us: “Work to maintain your inner smile.When others flood you with negative information, don’t drink in their energy: It damages the body as much as an intoxicting substance!”
Bel Cesar
Translated to English by ( Peter Webb )
Translated to English by ( Peter Webb )
Psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções, Mania de sofrer e recentemente O sutil desequilíbrio do estresse, todos pela editora Gaia.
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Email: belcesar@ajato.com.br
Fonte: Somos Todos Um