É cada dia mais comum presenciarmos - entre amigos e familiares - histórias de casais que se conheceram, se apaixonaram e constataram que um deles ou os dois já vinham com um kit completo. Gosto de brincar que são os tais "kinder ovo": além do doce, trazem um (ou mais) brinquedo na embalagem.
Sim, estou falando de homens e mulheres que já foram casados, tiveram um ou mais filhos e agora estão disponíveis para um novo relacionamento. A mim parece muito natural, afinal queremos ser felizes. E melhor ainda quando um erro já cometido se transformou em aprendizado e amadurecimento. Partimos do pressuposto de que as chances de tais pessoas terem mais tolerância, saberem valorizar mais os encontros e estarem mais equilibradas sobre o que querem são realmente maiores.
Mas, claro, verdade seja dita: a questão não é tão simples ou matemática assim. A vida não é tão lógica e linear. E os aprendizados não vêm numa medida tão sincronizada. Cada um é único e seu amadurecimento se dá por questões inimagináveis e intangíveis ao outro. Talvez esteja aí a grande magia dos relacionamentos, a grande possibilidade de amor, a despeito de qualquer aparência ou previsibilidade.
Mas aí está você: envolvido e realmente disposto a investir nesta pessoa. Porém, sem a menor idéia de como lidar com os tantos itens que compõem seu universo: ex-mulher ou ex-marido, contas, bens, planos, humores, pensão, famílias, diferentes pontos de vista e sentimentos não tão bem resolvidos. E quando filhos fazem parte desse kit, haveremos de considerar também um vínculo estabelecido para todo o sempre...
E aí? Como encarar? Será melhor lavar as mãos e assumir a postura de quem não tem nada a ver com o passado do outro? Pode apostar que a história não acontece bem assim. Uma vez comprometido com esta pessoa, você fará parte de sua vida por inteiro. Se realmente não tem nada a ver com o passado dela - até certo ponto - também não tem como ignorá-lo ou não ser atingido por ele. De todo modo, tem a ver com seu presente e, provavelmente, com seu futuro. Então, vamos às mediações.
Sim, mediar os conflitos, penso, é a melhor das escolhas. Não se trata de uma guerra, mas de com quem você está e com que intenção quer ficar! Ou seja, um dia de cada vez, com calma, sem regras prontas, com muita flexibilidade e, principalmente, diálogo. Ouvir a versão da pessoa amada, tentar manter o bom senso e seus próprios valores e ocupar o lugar de parceiro (e não de mais um estorvo) são decisões pra lá de bem-vindas e saudáveis. Ajuda não na destruição do ontem, mas na construção do amanhã e na felicidade de agora!
O fato é que sempre há uma saída que seja minimamente razoável, e se os envolvidos (a pessoa que você ama e o ex-par dela) querem mesmo resolver um problema, encontrarão um meio para isso. Mas, se um dos dois não quiser, então, a encrenca é bem maior. Entretanto, se há mesmo uma versão desta situação em que o melhor que você tem a fazer é desistir desta briga e sair de mansinho, é quando a pessoa com quem você está, ainda não colocou um ponto final na história anterior. Sendo assim, ela estará bem mais interessada em manter tal vínculo - ainda que seja através de um cabo de guerra - do que de recomeçar e se voltar para vocês dois!
Resumindo, não há o menor problema em investir num amor que já vem completo: com filhos e tudo. Isso até pode ser muito divertido e prazeroso. O problema é quando existem questões pendentes para um dos envolvidos no novo clã. Daí, somente com cuidado, amor e muita conversa - talvez contando com a ajuda de um profissional - é que conseguirão garantir crescimento e satisfação para esta nova família! E se é isso que você quer, então construa um caminho, porque por amor sempre vale muito a pena!
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br
Reconhecida como uma das maiores especialistas em relacionamentos interpessoais do país. Rosana Braga é conferencista, escritora, jornalista e consultora em relacionamentos. Autora de 5 livros e DVDs de Treinamento, tais como ‘O Poder da Gentileza’, ‘Faça o Amor Valer a Pena’, 'Inteligência Afetiva – 2 volumes', entre outros.
Fonte: Somos Todos Um