Não é preciso procurar muito para encontrar alguém que esteja passando por um sofrimento. Quanto mais próximo, maior a nossa tendência em sentir pena e sofrer junto com a criatura. Há também aqueles que sentem pena de tudo e todos, até mesmo de pessoas que veem na televisão, nas ruas ou de outras que apenas ouviram falar através de um amigo.
Parece algo natural: se eu vejo alguém sofrendo, sinto-me mal com aquele sofrimento e assim tento ajudar. Se consigo ajudar sinto um certo alívio. Se não consigo ou não tenho a possibilidade, além da pena, surge também o sentimento de impotência.
Mas o que verdadeiramente está por trás do sentimento de pena de forma inconsciente? Respondo. A culpa em estar em uma situação melhor, por não carregar aquele problema que o outro carrega. Em resumo, é a culpa em ser feliz.
Como posso me sentir bem se tal pessoa (filho, pai, mãe, amigo, parente, criança de rua, população de tal país...) está sofrendo? Como não nos permitimos nos sentir bem quando outros estão sofrendo (e sempre tem gente sofrendo), criamos então um sofrimento para nós mesmos: culpa e pena.
A partir desses sentimentos, criaremos ainda mais situações nas nossas vidas para nos igualarmos aos outros. Obviamente, fazemos isso na maior parte da vezes de forma inconsciente. Vou explicar melhor como isso funciona.
Vamos supor alguém que tem uma situação financeira razoável e que sente muita pena quando vê um conhecido em situação difícil. Essa pessoa poderá usar vários mecanismos para aliviar esse sentimento. Talvez ela empreste ou doe dinheiro. Tem gente que vive perdendo dinheiro dessa forma: emprestando para outros em dificuldades que acabam não pagando. Muitas amizades já se acabaram por isso. A pessoa pode até ficar com raiva do devedor, mas em um nível mais profundo, ela desejou perder aquele dinheiro, houve um ganho inconsciente do alívio da culpa.
Mas caso essa pessoa não possa ajudar todo mundo, afinal de contas, tem muita gente sofrendo com a pobreza e é impossível ajudar a todos, uma forma de aliviar esse desconforto é causar sofrimento a si mesma. Acaba-se criando situações financeiras difíceis pra sua própria vida.
Inconscientemente, quando sentimos pena dos pobres é como se quiséssemos também ficar na mesma situação delas para assim aliviar a culpa em ter uma vida melhor, já que não conseguimos tirá-las da pobreza.
Pode parecer irracional, absurdo, mas o inconsciente é assim mesmo. Se você for pobre como eles, então, não há razão para se sentir culpado. Talvez você até pense que seria bom que todo mundo saísse da pobreza, mas como não é essa realidade atual e muitos acham que não é possível que todos tenham uma vida próspera (o pensamento de que só tem pobre porque tem rico e etc...), é mais fácil sabotar o próprio crescimento financeiro e ficar numa pior para se sentir aliviado por um lado.
O cúmulo dessa sabotagem é quando a pessoa perde ou doa tudo e vira mendigo. Ela não ajudou a resolver a pobreza, mas agora não sente mais culpa, e passou a ser parte do problema. Outros agora sentirão pena e culpa ao vê-la.
Esses mecanismos sabotadores acontecem de outras formas. Uma mulher que seja muito bonita pode se sentir mal ao ser elogiada na frente de outras que sejam, vamos assim dizer, menos favorecidas esteticamente, e acaba não se cuidando tanto ou se escondendo.
Um filho de uma mãe depressiva se sabota e não se permite ser feliz pois inconscientemente sente que não seria justo já que sua mãe sofre. Isso é comum demais, e está sempre presente em algum nível nas famílias, principalmente naquelas com depressão e outros tipos de sofrimento mais intensos.
Os familiares tendem a sofrer uns com os outros como uma forma de solidariedade doentia. Assim, o filho cria uma vida difícil, entra em relacionamentos que causam sofrimento, não busca um trabalho terapêutico para se ajudar, e quando busca e começa a melhorar... muitas vezes larga o tratamento para se sabotar e não ficar mais feliz.
No consultório enquanto aplico *EFT (técnica para autolimpeza emocional, veja como receber um manual gratuito no final do artigo) é muito fácil detectar esses padrões.
No nível racional, desejamos nos libertar do sofrimento e ajudar nossos amigos e a família. No entanto, ao sentir pena e culpa, alem de nos causar sofrimento, nossa tendência será tomar atitudes que vão ajudar a manter padrões negativos dos outros.
Atrapalhamos o crescimento alheio ao invés de ajudar. É o caso dos pais que ajudam o filho de forma ilimitada por sentir pena e não querer que ele sofra. O filho pode se tornar inseguro, ou vira um inconsequente.
Ao sentir pena da mãe em depressão, os filhos cedem aos mais variados tipos de chantagem emocional (direta ou indireta) e alimentam o vitimismo e a depressão dela. Quando estamos envolvidos nessas situações, é muito difícil enxergar tudo isso.
Outras situações comuns onde ocorre a "tabelinha" culpa/pena que ajuda a manter os padrões negativos: casos de doenças graves, alcoolismo, dependência de droga, obesidade e etc... Em resumo, quando sentimentos pena, estamos, na verdade, nos sentindo culpados e desejando inconscientemente sofrer junto . Além disso, esses sentimentos nos levam a agir de forma a incentivar outras pessoa a se manterem em um padrão negativo, mas pensamos que estamos ajudando.
O que fazer? Devemos nos tornar pessoas frias e insensíveis? Muitos pensam que, se não sentimos pena, somos maus ou egoístas. É mais um equívoco do ego que está sempre buscando formas de justificar a necessidade de sofrer. Permitir a si mesmo ser feliz e estar em paz não é ser insensível, pelo contrário. Ajudamos mais quando somos mais felizes, assim, não caíremos nos mecanismos sabotadores de alimentar o padrão negativo dos outros.
É muito importante aplicar EFT para dissolver os sentimentos de culpa e pena. Sempre que detecto isso nos clientes, começo a aplicar a técnica para limpar essas emoções. Quando fazemos isso, muito da autossabotagem inconsciente que a pessoa vinha praticando desaparece.
A mulher bonita passa a gostar de se arrumar e aparecer sem constrangimento. Os pais conseguem dizer não e impor limites, entendendo que o sofrimento do filho faz parte do seu crescimento. O filho que tem a mãe depressiva se permite ser feliz e deixa de cair na chantagem emocional que alimenta o vitimismo. Deixamos de entrar em enrascadas financeiras e começamos a prosperar.
André Lima
EFT Practitioner, Terapeuta Holístico, Mestre de Reiki e Engenheiro.
Fonte: Somos Todos Um