quinta-feira, 13 de junho de 2013

Como é a Plenitude?

A glória da existência humana não está nas coisas que nos tornam únicos. Está no fato de podermos nos unir à inteligência cósmica; cada um de nós se torna uma parte consciente do todo. Quando isso acontece, ganhamos um mundo que nem chega a ser imaginado pelos pensamentos e sentimentos da vida  
co­tidiana.


É prático viver de maneira holística, pois, com toda a consciência de que se pode lançar mão, seremos muito mais criativos e imaginativos, muito menos inclinados ao julgamen­to. Mas, para que surja qualquer um desses benefícios, temos de experimentar o que a plenitude realmente é.

Vejamos isso, agora. A plenitude sempre tenta restaurar a si mesma. Seu cor­po tem um leque de técnicas de cura. A plenitude e a cura estão intimamente ligadas (as duas palavras derivam da mesma raiz, em sánscrito). O que o corpo faz para restaurar a plenitude?

· Ele busca o equilíbrio.

· Uma célula se comunica com a outra.

· Parte alguma é mais importante que o todo.

· Descanso e atividade são harmonizados.

· Em meio à atividade constante há uma base estável (conhecida como homeostase).

· Cada célula se adapta às mudanças do ambiente.

· O estresse é combatido e deixado sob controle (as doenças e o desconforto são basicamente resultados do estresse).

Em cada caso, o corpo está se mantendo pleno. O sistema cura­tivo se estende a todo lugar. As células do coração, do cérebro e do fígado desempenham funções diferentes, mas seu objetivo comum é manter o corpo vivo e saudável; portanto, a plenitu­de é mais importante que qualquer atividade isolada. Se você olhar para seu corpo como uma metáfora de sua vida, o que isso significa?

· Você valorizará o equilíbrio.

· Os aspectos isolados de sua vida trabalharão em direção a um propósito comum.

· Cada aspecto da vida assumirá igual valor.

· O descanso entrará em harmonia com a atividade.

· O âmago de seu self, que está calmo e em paz, não se perturbará em meio à atividade.

· À medida que sua situação se modificar, você se adaptará e permanecerá resiliente.

· Aos primeiros sinais de que o estresse está lhe tirando da zona de conforto, você vai perceber e reagir.

· Você vai valorizar o bem-estar acima da experiência individual.

A PLENITUDE É SEMPRE UM GANHO, JAMAIS UMA PERDA

Ser pleno é estar inteiramente curado. Se isso é verdade, então, independentemente do quanto você viva bem, não estará in­teiramente curado até que seu self dividido seja transformado. Há muitas formas de se alcançar uma vida boa, mas inúmeras pessoas encontram razões para não buscar a plenitude (uma das principais razões para isso é que elas nunca foram expostas à visão do self superior da maneira como ele realmente existe). É crucial saber que você não vai deixar de ser você mesmo se buscar a transformação.

O mundo de contrastes é sedutor e dramático. Sem o contraste, será que estaríamos condenados à mesmice eterna? Quanto mais forte a luz, maior a sombra. Não se trata de algo criado pela humanidade; é o modo como a natureza funcio­na. A alternativa não é praticável. Se o universo não tivesse as forças criativas se opondo simultaneamente ao declínio, ou entropia, não haveria universo.

Digamos que somente o impulso criativo evolutivo existis­se no universo. O que aconteceria? O cosmos rapidamente se esgotaria de matéria e energia para usar novas formas, já que as antigas jamais seriam gastas, nem se tornariam obsoletas. Em termos pessoais, falamos de nos tornar pessoas evoluídas, mas se você apenas evoluir, sem dissolver a antiga pessoa que era no passado, seria, simultaneamente, um eterno bebê, uma criança, um adolescente e um adulto.

Seu corpo teria incontáveis cama­das de pele porque as células velhas não seriam descartadas; o revestimento de seu estômago incharia de forma grotesca, sem o trabalho das enzimas digestivas que constantemente o devo­ram para que ele possa ser substituído a cada mês.

Por outro lado, se apenas o impulso de inércia e destrui­ção existissem, o universo seria rapidamente consumido por si só. A entropia causaria a "morte pelo aquecimento" em curto prazo, conforme o cosmos recaísse num vazio frio e estático. Precisamos dessas forças opostas, mas esse não é um argumento para a dualidade. Na verdade, é um forte argumento para a plenitude, já que é preciso uma perspectiva bem maior que isso, de ambos os lados, para mantê-las em equilíbrio.

Seu corpo é capaz de entrar em hiperatividade quando a reação de estresse é ocasionada. Um fluxo de adrenalina acelera o coração, gera uma energia extra da corrente sanguínea, alerta a mente, intensifica os sentidos e coloca o corpo em prontidão para extremos. Mas, se as reações de estresse ficam descontroladas, elas podem matá-lo muito rápido, em ques­tão de minutos. Na verdade, isso foi observado em pacientes que passaram muito tempo usando esteróides.

As drogas que tomam para conter as inflamações, por exemplo, também oprimem o sistema endócrino. Se o uso dessas drogas for su­bitamente suspenso, o corpo não tem capacidade para secretar uma quantidade equilibrada de hormônios. Dessa forma, se você chegar por trás de um desses pacientes e gritar "Bu!", pode colocar a pessoa num estado em que os hormônios do estresse acelerem o coração a um nível tão perigoso que chegue a resultados fatais.

No plano do ego, constantemente nos iludimos ao pen­sar que ser absolutamente bom é possível. Nunca mais vamos mentir, trapacear, sentir inveja, perder a calma ou ceder à an­siedade. Essa intenção nunca dá certo, porque ser totalmente bom, o tempo todo, é tão rígido quanto ser qualquer outra coi­sa o tempo todo. Há momentos em que é absolutamente certo e saudável ficar zangado ou sentir medo.

A falha no pensamento positivo é que você não pode ser positivo o tempo intei­ro. É uma atitude sã lutar contra ditadores, se opor à opressão de todas as formas, dizer a corruptos que eles estão errados, e por aí adiante. A vida apresenta desafios vindos do lado obs­curo. Não precisamos endemoniar a sombra; ela é a fonte de quase todos os desafios que valem a pena ser enfrentados.

A ilusão na qual recaímos é pensar que a vida nos força a escolher entre o bem e o mal. Na realidade, há um terceiro caminho, que é ser pleno. Da perspectiva da plenitude, você pode equilibrar a escuridão e a luz sem se tornar escravo de nenhuma delas. A oposição entre as duas pode se transformar em tensão criativa. O mocinho tem que continuar ganhando, mas é melhor o bandido não perder de vez, pois então seria o fim da história. O universo ficaria como um museu, mumificado eternamente.

O ideal é que as forças da verdade, bondade, beleza e harmonia fiquem um passo à frente das forças sombrias. Seu corpo consegue alcançar isso, assim como o universo como um todo. Não podemos negar o fato de que as formas de vida es­tão constantemente evoluindo, passando a níveis mais altos de abstração, criatividade, imaginação, perspicácia e inspiração.

Algo está mantendo o equilíbrio, porém, com uma ligeira in­clinação para a evolução. De várias maneiras, a espiritualida­de não faz mais que imitar a natureza. Se você pode ajudar a inclinar a balança para a evolução, em vez da entropia e do declínio, você é um verdadeiro guerreiro espiritual.

A PLENITUDE ESTÁ PRÓXIMA, NÃO LONGE 

Há um mapa da consciência humana que é tido como verdadeiro em todas as tradições. Nesse mapa, um Deus eterno tem o papel de fonte da criação. Mesmo quando a palavra "Deus" não é usada, como acontece no budismo, há um estado sem divisão; ele é um todo; contém tudo de visível e invisível. O estado indivisível de Ser, então, divide a si mesmo entre os aspectos visíveis e invisíveis da criação.

Fora de si mesma, a unidade cria o plural. Você pode imaginar o mapa como um círculo, com um ponto no centro. O ponto representa Deus como fonte, que é menor que a mais minúscula das partículas. O círculo também representa Deus, mas um Deus como o uni­verso manifesto, que é maior que a mais gigantesca das coisas.

Mas, para que o mapa tenha precisão, você precisa ver o círculo em constante expansão, como o universo após a grande explosão. Porém, ao contrário do cosmos físico, Deus se expande em velocidade infinita, em todas as direções, isso significa um potencial ilimitado do Ser, uma vez que este entra em criação. Até então, o mapa pode ser visto como esotérico, e muitas pessoas não veriam tanto valor prático nele.

(Uma vez, uma mulher me disse que sentia repulsa pelas palavras "uno" e "todo", quando aplicadas a Deus. Para ela, essas pa­lavras eram como ser engolida por um mar vazio, um vácuo divino.) Nossas mentes não conseguem alcançar a expansão infinita em todas as direções. Mas torne o mapa pessoal. Veja sua fonte como um ponto, enquanto seu mundo inteiro é o círculo em expansão.

Quanto mais você vê, entende e expe­rimenta, maior fica o círculo. No entanto, ele está sempre se expandindo a partir da fonte. Isso significa que a fonte nunca está longe. É uma constante. Quando você tiver a experiência de ser a própria fonte e seu mundo, ao mesmo tempo, você se tornará pleno. A razão para que a fonte pareça estar longe é que você se identificou com todas as coisas separadas em seu mundo, negligenciando a origem criativa que torna tudo possível.

(É como esquecer sua mãe enquanto está crescendo. Não há esquecimento que apague o fato de você ter tido uma mãe, que foi sua fonte.) Não é possível perder inteiramente a ligação com a fonte, porque ela é feita da sua consciência. Saber que está vivo significa que você está ligado à consciência. Isso faz a ligação parecer passiva, embora não seja. Por meio dessa ligação é que fluem todos os pensamentos que você já teve.

Também há um lado silencioso da consciência que trabalha para mantê-lo vivo, fi­sicamente. Seu coração sabe o que seu fígado está fazendo, não em palavras, mas através das mensagens codificadas em substâncias químicas e sinais elétricos. Seu corpo requer uma infinidade de reações a serem coordenadas, dentre centenas de bilhões de células. Esse é um aspecto da consciência que nunca ganha voz, mas sua inteligência ultrapassa a de qual­quer gênio.

Gente comum se preocupa que Deus possa estar tão longe que Ele tenha se esquecido de nós, enquanto entusiastas reli­giosos creem fervorosamente que Deus está perto em todos os momentos. As duas visões derivam da dualidade, já que perto é o oposto de longe. Mas imagine a cor azul. Antes de vê-la em sua mente, a cor estava perto ou longe de você? Diga a palavra "elefante" para si mesmo. Antes de surgir à mente, o seu vocabulário estava longe ou perto?

Usamos a consciência por motivos individuais, a serviço do "eu e meu", porém, você pode se localizar no tempo e no espaço sem conseguir localizar sua consciência. Não há distância entre você e uma lembran­ça, você e o pensamento seguinte. Partindo da perspectiva da plenitude, já que tudo está sendo coordenado de uma só vez, a distância é irrelevante.

O que conduz a uma conclusão empolgante: seu potencial para a mudança também não está distante. Potencial é o mesmo que possibilidades não vistas. Ou você vê que algo é pos­sível, ou não vê. Portanto, o impossível é apenas outro nome para o que não é visto. Consequentemente, a sombra, que o faz enxergar um mundo limitado, temeroso e repleto de ameaças e possibilidades sombrias, está mascarando muitas possibilida­des não vistas, que poderiam saltar diante de seus olhos se você se expandisse além da sombra.

Sem a expansão, você é forçado a ter uma visão limitada. Pense em uma forte dor de dente. A dor ocupa toda sua atenção; você não consegue pensar em mais nada. Se a raça humana estivesse em constante dor física, a consciência jamais seria expandida. O medo é a dor antecipa­da, e tem o mesmo efeito de limitar a consciência. No fim das contas, a plenitude é o mesmo que encontrar sua fonte. Não há divisão na fonte.

Você não tem que conquistar cada aspecto de si mesmo que esteja afetado pela escuridão (o que seria impos­sível, de qualquer jeito). Transforme-se no que realmente é e, desse momento em diante, a escuridão já não terá mais nada com que você se identifique.Você está vivendo perto da fonte da consciência se as afirmações a seguir forem verdadeiras:

· Está em paz.

· Não pode ser abalado de seu centro.

· Possui autoconhecimento.

· Sente compaixão sem julgamento.

· Vê a si mesmo como parte do todo.

· Não está no mundo. O mundo está em você.

· Ações espontaneamente o beneficiam.

· Seus desejos se manifestam facilmente, sem desgaste nem esforço.

· Pode executar ações intensas com desprendimento.

· Não está visando nenhum resultado pessoal.

· Sabe como se render.

· A realidade de Deus é visível em toda parte.

· A melhor época é o presente.

A PLENITUDE ESTÁ ALÉM DA SOMBRA

Seres humanos vêm lutando contra a sombra há incontáveis séculos, mas, até onde sei, a sombra nunca foi derrotada. Os únicos que conquistam a sombra não lutam com ela; eles a transcendem. Quando você transcende, vai além. Na vida diária, transcendemos o tempo todo. Por exemplo, quando uma mãe vê o filho pequeno sendo manhoso e exigente, ela não cede para as condições da criança.

Percebe que ele está cansa­do e precisa dormir. O que ela fez? Ela transcendeu o nível do problema, passando a um nível onde encontrará a solução. Isso faz surgir uma verdade espiritual: o nível do problema nunca é o nível da solução. Instintivamente, sabemos disso, no entanto, aplicar essa atitude nos dá tristeza. Nossas fantasias nos forçam a descobrir qual é o lado bom e qual é o ruim, na esperança de que ao escolhermos o lado vencedor a vitória seja total. Nunca é. Todo dilema tem dois lados.

Toda guerra disputada em nome de Deus depende de uma ilusão, porque o outro lado também confia em Deus. (Será que algum exército já ado­tou o lema "A vitória é nossa porque Deus não está do nosso lado"?) Os inimigos da transcendência vão direto às mãos da sombra. Você está escolhendo não transcender quando reluta no mesmo nível do problema. Considere o seguinte:

· Você tem uma dor crônica: em vez de ir ao médico, toma mais analgésicos.

· Quando ouve dizer que alguém não gosta de você, encontra motivos para desgostar daquela pessoa.

· Seu filho está brigando com outra criança na escola: você tem certeza de que seu filho está certo.

· Quando ouve dizer que um casal está se divorciando, fica do lado de um deles.

· Um evangélico vem à sua porta pregar uma nova religião: você bate a porta na cara dele, porque seu Deus é o certo.

Estes são exemplos nos quais a opção de transcender foi rejeitada, e, como são situações bem comuns, não é difícil ver como a sombra ganha poder. Em cada caso, um lado foi rotulado como bom e o outro, como ruim. Alguém foi tachado de errado para que você possa considerar que está agindo certo. Julgar os outros é validado como uma maneira saudável de ver o mundo. O processo de escapar da névoa da ilusão co­meça quando você percebe que ninguém está se beneficiando, além da sombra.

Você jamais estará certo o bastante, vitorioso o bastante ou virtuoso o bastante para dissipar a raiva, o res­sentimento e o medo que são originados nas pessoas que você estipulou como erradas. Quando você enxergar isso, a trans­cendência se torna uma opção viável. Começa-se a buscar o nível da solução, em vez do nível do problema.

A PLENITUDE RESOLVE TODOS OS CONFLITOS

Eu gostaria que a palavra "transcender" não viesse carregada de conotações místicas. Quando perceber que pode "ir além" em qualquer situação, transcender será algo simples. O conflito é a natureza da dualidade. Resolver conflitos é a natureza da plenitude — algo que lhe é natural. Quando você não é somente preto ou apenas branco, bom ou ruim, luz ou escuridão, e sim os dois lados ao mesmo tempo, o conflito se dissolve.

O primei­ro passo é o mais importante. Não seja leal à dualidade. Pare de rotular, culpar e julgar. Abra mão das fantasias de mostrar ao mundo que você está certo e os outros estão errados. Os professores espirituais vêm ofertando esse conselho há sécu­los. Lembre-se do que os Vedas proclamam: "Você não está no mundo. O mundo está em você". Jesus ensinou que o reino do céu está dentro de nós. Não faltaram ensinamentos quanto ao caminho rumo à união.

Mas as pessoas não prestam atenção a esses ensinamentos, porque o mundo invisível detém influência demais, e boa parte dele é sombria. A plenitude não é real até que os conflitos ocul­tos de sua vida sejam resolvidos. Deixe-me frisar alguns desses conflitos em ordem ascendente, começando pelo nível mais bá­sico, como o que uma criança indefesa poderia experimentar.

Cada conflito se torna mais difícil que o anterior, até que alcancemos o nível de conflito espiritual, que é como uma guerra contra a alma:

· Conflito entre estar seguro e inseguro.

· Conflito entre amor e medo.

· Conflito entre desejo e necessidade.

· Conflito entre aceitação e rejeição.

· Conflito entre o Um e os muitos.

Esses conflitos são uma armadilha para todos, estendendo-se muito além do individual. Pense nos países que proclamam a paz, mas se sentem tão inseguros que sua energia real vai para o armamento e a defesa. Eles não resolveram o problema básico de como se sentirem seguros. Pense nas vezes em que você quis expressar amor por alguém, mas se sentiu receoso e vulnerável. Você está na mesma posição que as facções em guerra civil, que não podem se abraçar em confraternização com um povo. O conflito está emaranhado em tudo, desde relacionamentos até a diplomacia internacional.

Deepak Chopra


Fonte: Extraído do Livro "O Efeito Sombra"

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