sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pobreza, Riqueza e Espiritualidade








Osho,
Krishna, Mahavira, Buda e Lao Tzu são todos responsáveis pela pobreza no mundo, assim como Jesus Cristo? Eu mesmo quero servir ao pobre e ao oprimido. Posso fazer isso com suas bênçãos?









Sim, essas pessoas são responsáveis pela pobreza no mundo. Krishna, Buda, Mahavira, Lao Tzu, são tão responsáveis quanto Jesus Cristo, pela simples razão de que eles todos insistem no interior, contra o exterior. E o exterior tem de ser desenvolvido tanto quanto o interior, caso contrário, o homem perde o equilíbrio.

Se você cresce somente no mundo exterior, você se torna rico, mas interiormente vira apenas um mendigo.

E o vice-versa também é verdadeiro: se você enfatiza somente a jornada interior, você certamente se torna rico em meditação, em consciência, mas se torna pobre do lado de fora.
É certamente fácil cuidar de um dos lados – fácil, porque você não tem de ficar continuamente se equilibrando entre dois polos opostos. Mas a vida consiste em polos opostos. A vida é como uma corda bamba: o equilibrista tem de se equilibrar a cada momento – nem por um único momento ele pode parar de se equilibrar.

No momento em que ele para de se equilibrar, ele cai da corda. Sim, às vezes ele se inclina para a esquerda, de modo a não cair para a esquerda; mas quando ele se inclina demasiadamente para a esquerda, novamente surge o perigo de cair... Ele imediatamente tem de se equilibrar, inclinando-se para a direita, mas não muito. Um constante estado de alerta é necessário, somente então, a pessoa permanece total, inteira. E ser inteiro (whole) é ser santo (holy).

Esta é a mensagem da filosofia dos Upanishads, Mandukya Upanishads: inteireza – uma única palavra a contém. Albert Einstein não é inteiro, nem Mahavira é inteiro. Ambos escolheram uma parte, um aspecto da moeda, mas o aspecto negligenciado está fadado a se vingar. E a humanidade tem vivido, até agora, sempre inclinada para um único lado.

Fere, eu sei, quando eu digo que Jesus Cristo, Krishna, Mahavira, Buda, Lao Tzu são responsáveis pela pobreza do mundo, mas... – o que eu posso fazer? Tenho que dizer a verdade como ela é. Sinto muito por você, porque isso vai feri-lo, mas a minha responsabilidade é para com a verdade, meu compromisso é para com a verdade. E a verdade é que, de modos diferentes, todas essas pessoas ajudaram o homem a permanecer retardado.

Krishna é um fatalista, um determinista. Ele crê que as coisas acontecem porque Deus decidiu que elas sejam daquela forma; assim, nada pode ser feito a respeito. Ele o ajuda a se acomodar com as coisas como elas estão. Certamente, isso ajuda o crescimento interior, porque a luta do lado de fora cessa. Se você é pobre, você é pobre – Deus determinou assim. É seu fado, ser pobre; não há nenhuma possibilidade de evitar isso, você não pode escapar. Você tem de aceitar isso, tem de ficar satisfeito com isso.

Sim, isso ajuda de um certo modo – com isso toda a sua energia volta-se para dentro. Do lado de fora não há nenhuma liberdade; então, toda a sua energia pode ter liberdade apenas do lado de dentro. Você fica livre para crescer em direção à iluminação, em direção à consciência divina, mas o mundo do lado de fora permanecerá o mesmo. Você é impotente no que tange ao mundo exterior – e pobreza e riqueza são do mundo exterior.

Krishna certamente ajudou este país a permanecer pobre.

Mahavira e Buda, ambos creem na teoria do carma: você é pobre porque, em suas vidas passadas, você cometeu graves pecados – você está sofrendo em consequência disso. É melhor sofrer silenciosamente do que reclamar, porque, se você reclamar, você estará novamente criando carma para o futuro – na próxima vida, você sofrerá novamente. Assim, a pessoa pobre tem de aceitar que é pobre devido a suas vidas passadas.

Ora, você não pode desfazer o passado... – ele já aconteceu. Trata-se de uma espécie diferente de determinismo, de fatalismo – apenas uma espécie diferente, um tipo diferente, com uma lógica diferente por trás, mas o resultado total é o mesmo. A pessoa rica é rica devido a suas vidas passadas e a pessoa pobre é pobre devido a suas vidas passadas. No que tange ao presente, você tem de viver em total aceitação.

Novamente, essa aceitação o ajudará a se tornar mais meditativo, porque não há nada a se fazer no mundo exterior. A energia envolvida no exterior é liberada – ela se torna disponível para o crescimento interior. Mas sem um sutil equilíbrio com o mundo exterior, o crescimento interior faz de você apenas a metade, nunca o faz inteiro.

Buda e Mahavira, ambos renunciaram a seus reinos, a seus palácios, a suas riquezas. Ao renunciarem a seus palácios, reinos, riquezas, eles condenaram a riqueza. Isso fez duas coisas. Primeira: se a riqueza é condenada, o pobre se sente muito bem... – o ego fica nutrido, porque, então, a pobreza tem algo de espiritual em si...

“Veja! Mahavira e Buda renunciaram a suas riquezas!” Assim, qual é o sentido de criar mais riqueza para si mesmo? Se as pessoas já estão renunciando, isso simplesmente impede sua ida no mesmo caminho do qual as pessoas estão voltando e lhe dizendo que se trata de um cul-de-sac, que acaba e não leva a lugar nenhum, que logo, logo você chegará a um abismo e não poderá ir mais adiante – o caminho é suicida!

E quando Mahavira e Buda abandonaram o mundo, eles trouxeram uma tremenda satisfação aos pobres; isso ajudou seus egos... “De alguma forma, já somos espirituais.” A pobreza começou a ter um sabor de espiritualidade: ser pobre torna-se equivalente a ser espiritual. “Ninguém pode ser espiritual sem ser pobre; assim, a pobreza é boa, a pobreza é uma grande virtude!”

Jesus chama os pobres de “filhos de Deus” e, através dos séculos, todos os santos – exceto os visionários dos Upanishads – têm insistido nesse ponto repetidamente, martelando-o sempre e novamente. Isso foi fundo dentro da própria alma do homem: que a pobreza tem algo de belo em si.

Assim, o pobre se sentiu bem e, como Mahavira e Buda os fizeram se sentir bem... – eles não tinham nada além daquilo para se sentirem bem... Eles passavam fome, viviam famintos, subnutridos, sem teto. Buda e Mahavira se tornaram um tremendo suporte: milhões de pessoas veneraram Buda e Mahavira pela simples razão de que eles as fizeram se sentir bem com sua condição de pobreza. E, por outro lado, a renúncia deles a seus reinos e suas riquezas, fez os ricos se sentirem culpados e sempre que você faz alguém se sentir culpado, esse alguém está fadado a respeitá-lo.

Você tem de compreender a psicologia da culpa. Sempre que você faz alguém se sentir culpado, essa pessoa tem de compensar para se livrar da culpa. Ela começa a respeitar e a venerar Buda e Mahavira, porque essas pessoas fizeram o que ela ainda não foi capaz de fazer, mas que espera fazer um dia... – se não nesta vida, então, em uma outra vida em que esse bendito momento chegará, quando ela também renunciará a todas as riquezas, a toda opulência, a todo o reino, a todo o mundo exterior.

No que tange ao presente, ela pode fazer um pouquinho doando seu dinheiro aos pobres. Assim, os ricos começaram a doar um pouquinho de seu dinheiro aos pobres para livrarem-se da culpa. E eles começaram a venerar Buda e Mahavira – esse também era um modo de se livrar da culpa.

As duas religiões, budismo e jainismo, prosperaram sobre essas duas coisas. A pessoa pobre se sentia bem, porque sua pobreza começava a ter a cor da espiritualidade; e a pessoa rica tornava-se culpada e fazia doações. É claro, todas as escrituras dos jenas dizem: “Doe somente aos jenas, porque eles são as pessoas certas. Não doe aos indignos – doe aos dignos. Doe aos tempos jenas.”.

E pode-se ver isso. Há muito poucos jenas, somente trinta e cinco lakhs - num país de setecentos crores, trinta e cinco lakhs é simplesmente nada – apenas sal na salada, só um pouquinho de sal em sua sopa. Mas vá e veja seus templos – são os templos mais ricos da Índia. E há milhares de templos jenas: os mais belos arquitetonicamente falando, os mais ricos, pela simples razão de terem feito os ricos se sentirem tão culpados, que eles começaram a fazer donativos.

Os budistas dizem a mesma coisa: “Não doe a qualquer um, doe aos budistas – porque, a menos que doe à pessoa certa, sua doação é inútil.”. E quem é a pessoa certa? Alguém que siga o Buda!

Os Brâmanes dizem: “Doe somente aos brâmanes, aos hindus. Não doe aos jenas nem aos budistas. Eles são ateus, eles não creem em Deus.”.

Essas religiões ajudaram os pobres a permanecerem pobres e ajudaram os ricos a se sentirem culpados. E as doações também ajudam os pobres a permanecerem pobres, porque eles não podem se revoltar contra tais benfeitores? Como você pode se revoltar contra aqueles que estão fazendo belos templos para você, dharmashalas, asilos, orfanatos, escolas, hospitais...? Como você pode se revoltar contra pessoas tão boas, gente tão virtuosa!?

Assim, essa estratégia de donativos se torna uma proteção, um escudo para o rico; e se torna um consolo para o pobre.

Na Índia, nos últimos dez mil anos, jamais houve qualquer luta de classes, pela simples razão de que a classe rica sempre esteve ajudando os mais pobres de pequenas maneiras. Eles se mostravam amigáveis, apareciam de forma amigável. Eles estavam explorando, estavam os deixando pobres – eles eram a causa da pobreza. Por um lado, eles continuavam a sugar seu sangue e, por outro lado, proviam um pouquinho de comida para eles.

E era bom darem um pouquinho de comida e nutrição ao pobre, caso contrário, como poderiam sugar seu sangue? De onde viria o sangue? Eles não podiam morrer, deviam ser mantidos vivos! Para mantê-los vivos, continuem dando-lhes um pouquinho em donativos; então, eles permanecem vivos e você pode continuar sugando-os.

Lao Tzu diz para permanecer num estado de “deixar-acontecer”. Isso é belo para o crescimento interior, mas não é bom para o mundo exterior. ‘Deixar-acontecer’ significa nenhuma luta, nenhuma revolução, nenhuma rebelião, simplesmente seguir com o rio aonde quer que ele esteja indo, não tentando decidir a direção.

A matemática foi descoberta na Índia; eis por que os dígitos matemáticos de um a dez são basicamente de origem indiana. Pode-se até ver a similaridade nas palavras: ‘three’ (três) é ‘tri’ em sânscrito, ‘six’ (seis) é ‘shast’ em sânscrito, ‘nine’ (nove) é ‘nav’ em sânscrito, ‘eight’ (oito) é ‘asht’ em sânscrito, ‘two’(dois) é ‘dwa’ em sâncrito; ‘dwa’ tornou-se ‘twa’ e ‘twa’ tornou-se ‘two’.

A matemática foi descoberta pela primeira vez na Índia, mas ela não foi desenvolvida, não prosperou, pela simples razão de que o mundo é ilusório, é maya – tudo que se espera de você é que renuncie a ele.

Na verdade, os jovens que “caíram fora” no Ocidente não deveriam ser chamados de “hippies” – eles não são. O verdadeiro hippie é a pessoa que renunciou ao mundo. Ela realmente “caiu fora”. A palavra ‘hippie’ quer dizer “aquele que deu as costas ao mundo e escapou”. Nesse sentido, Mahavira, Buda, Lao Tzu, são todos hippies – literalmente! Eles todos fugiram da luta da vida.

A Matemática foi desenvolvida, mas a matemática só pode ser aplicada ao mundo exterior, porque ela é um meio para se medir.

Você sabia? – a palavra inglesa ‘matter’ vem de uma raiz do sânscrito, que quer dizer “medida”; ‘matter’ (matéria) quer dizer “o que pode ser medido”. Ora, a matemática só é necessária para a matéria, para aquilo que pode ser medido. O mundo interior é imensurável, não se pode medi-lo, por isso ele está além da matéria – a matemática não é necessária lá.

As pessoas que chamavam o mundo de ilusório impediram todo o crescimento científico.

A primeira engenhoca tecnológica foi inventada na China, mas a ciência não se desenvolveu lá. E a causa única foi Lao Tzu, porque Lao Tzu disse que inventar uma máquina era enganar a natureza.

O caso é que um velho, um jardineiro, estava puxando água de um poço, com seu filho jovem. Ambos estavam transpirando – era um dia quente de verão. Eles estavam puxando água e molhando as árvores.

Um homem de mente científica, um confucionista, estava passando por ali. Ele olhou – o velho era realmente velho, devia estar além dos noventa. Com aquela idade, ele trabalhava arduamente, de manhã à noite, e o poço era muito fundo, uns sessenta, setenta pés de profundidade. “Ele desperdiçou toda a vida molhando plantas e, agora, o mesmo irá acontecer a seu filho.

Toda a sua vida, de manhã à noite, ele viverá puxando água!” E quando você trabalhou tanto durante dia, o que você pode fazer à noite? Você não pode cantar, você não pode tocar cítara, nem guitarra, você não pode tocar flauta... Não resta nenhuma energia. Você só pode cair no sono e, de manhã, a mesma rotina recomeça.

O erudito confucionista de tendência científica aproximou-se do velho e disse: “Você ainda não ouviu falar que descobrimos uma engenhoca que pode trazer a água para fora do poço muito facilmente? Você não precisa desperdiçar sua vida. Basta um cavalo para fazê-lo, e muito mais eficientemente e muito mais rapidamente.”.

O velho disse: “Pare já com todo esse absurdo!”.

O jovem tinha ido a casa buscar pão, manteiga e algumas verduras para ele e para o pai. O velho disse: “E trate de ir embora antes que meu filho volte. Se ele ouvir o senhor falar sobre essa engenhoca, ele é tão jovem... – ele pode ficar seduzido pela sua ideia. Vá embora imediatamente! Eu já ouvi falar dessa engenhoca, mas eu creio em Lao Tzu. Ele é meu mestre e ele diz que as máquinas são artefatos para enganar a natureza, e eu não quero enganar a natureza. Natureza quer dizer Tao! Se você enganar a natureza...”.

E, é claro, de certo modo está certo: quando você inventa uma máquina e ela começa a fazer o trabalho de um homem, você está fazendo algo que não é natural. Máquinas não são naturais e, se uma máquina pode fazer o trabalho de cem pessoas, isso simplesmente quer dizer que você enganou a natureza. Isso não é bom.

Essa história é famosa e significativa, porque a China desenvolveu a primeira engenhoca há cinco mil anos, mas, devido a Lao Tzu e à sua influência, todo aquele crescimento foi estancado. Certamente, se você relaxar com a natureza, você pode crescer internamente muito facilmente. Deixar-acontecer é o segredo do crescimento interior, mas esse não é o segredo do crescimento exterior.

Essas pessoas mantiveram o mundo na pobreza. E essas são as pessoas, por outro lado, que vão dizendo a vocês: “Vão e sirvam aos pobres!”. Eles são a causa da pobreza. Eu respeito essas pessoas: no que tange ao mundo interior, eles deram grandes diamantes ao mundo, tesouros, chaves secretas. Mas isso faz o homem somente pela metade; a outra metade permanece não-desenvolvida.

Meu esforço aqui é para ajudá-lo a crescer de um modo equilibrado. A vida não é ilusória e o mundo exterior é tão significativo quanto o mundo interior, e você tem de viver ricamente em ambos os mundos. Quando a pessoa pode viver em ambos os mundos, por que escolher ser rico somente em um dos aspectos da sua vida? E somente quando você é rico de ambos os lados, surge em você uma grande harmonia, um grande equilíbrio.

Sangam Lal Pandey, você deve ter pensado que eu não falaria assim sobre Mahavira, Krishna, Buda e Lao Tzu. Eu não tenho compromisso com nenhum indivíduo. Eu respeito a verdade, onde quer que seja encontrada, mas somente a verdade e, se alguma inverdade estiver dependurada nela, eu serei a última pessoa a permitir isso – eu destruirei aquilo imediatamente. Você está me perguntando:

Eu mesmo quero servir ao pobre e ao oprimido. Posso fazê-lo com suas bênçãos?

Um homem, num carro turbinado, saiu da estrada principal e acabou numa estrada de cascalho, em frente a uma típica loja de interior. Vários velhos estavam sentados na varanda, conversando e mascando tabaco.

E o motorista freou o carro depressa, e gritou para os homens na varanda:

– Eu quero ir a Farmingdale! – Após dez ou quinze segundos sem resposta, ele gritou de novo:

– Eu quero ir a Farmingdale!

Os homens na varanda pareciam estar entretidos, trocando ideias. Então, um dos velhos andou até o carro e disse:

– Senhor, nós nos reunimos para falar disso e não temos nenhuma objeção!

Só posso dizer isso... – que eu não tenho nenhuma objeção –, mas se você estiver me pedindo bênçãos, então, você terá de compreender as minhas condições. Se você quiser servir aos pobres do jeito que foram servidos durante milhares de anos, então eu não posso lhe dar minhas bênçãos, porque milhares de anos de serviços públicos não ajudaram o pobre absolutamente – na verdade, isso os tem ajudado a permanecerem pobres.

Isso pode lhe dar uma sensação boa – de que você está fazendo um grande trabalho. Isso pode lhe dar um grande ego – de que você é um servidor do povo, que é um grande reformador. Olhe só! Você sacrificou sua vida pelos pobres e oprimidos!

Eu não posso abençoá-lo em suas viagens de ego, porque os serviços não ajudaram os pobres e oprimidos – isso, agora, já é um fato absolutamente reconhecido. Quanto tempo você vai servir aos pobres? Dez mil anos já bastam – não aconteceu nada. Tem havido servidores e mais servidores e eles fizeram um grande trabalho – um trabalho missionário – e nada saiu disso.

Assim, no máximo, eu posso lhe dizer que não tenho nenhuma objeção. Não fará nenhuma diferença; assim, por que eu deveria objetar? Se você sente que deve fazê-lo, use todos os meios e faça-o. Mas lembre-se de que isso não vai ajudar aos pobres. Isso pode ajudar a você, mas não vai ajudar aos pobres.

Simplesmente um velho hábito, simplesmente um velho condicionamento...

Um judeu pegou quinhentos dólares em dinheiro para comprar uma passagem de ida para Israel.

– Olha que negócio! – ele ficou dizendo para si mesmo.

Mais tarde, ele foi conduzido até um barco, onde quinze outros judeus aposentados, vestidos com roupas de operários, estavam sentados. A viagem tormentosa já tinha começado, quando dois atléticos anglo-saxões pularam no barco a remo. O primeiro insidioso agiu como um capitão e gritou:

– Remem! – e o outro caiu em cima dos pobres judeus com um chicote.

Passaram-se três meses e, sabe-se lá como, o barco chegou a Israel. Enquanto atracavam, um velho judeu vestido com roupa de operário, disse ao capitão:

– Com licença, senhor, eu jamais viajei desse jeito antes – quanto devo dar de gorjeta ao cara do chicote?

Velhos hábitos custam a morrer!

Sangam Lal Pandey, se você quiser servir ao pobre, eu sinto muito por você – mas tudo bem!

Um pastor tinha um hábito de pregar sobre qualquer palavra que por acaso ele apontasse, quando abria a Bíblia. Num determinado domingo de manhã, ele abriu a Bíblia e o dedo apontou para as seguintes palavras: “E Judas saiu e enforcou-se.”.

Ele não estava num estado tão pessimista; assim, ele violou seu próprio procedimento e virou algumas páginas da Bíblia e parou o dedo e leu: “Ide e fazei o mesmo.”.

Sangam Lal Pandey, eu não faço nenhuma objeção: Ide e fazei o mesmo! Mas se você quiser as minhas bênçãos, então, você terá de compreender as minhas condições. Eu não posso dar bênçãos sem condições, porque absurdos suficientes já foram feitos em nome do serviço. Se você realmente quer servir ao pobre, ao oprimido, então, a primeira coisa é: espalhe a mensagem de que a vida não é ilusória, que ela precisa da sua atenção, que riqueza não é pecado, que a riqueza tem de ser criada.

E a pessoa que cria riqueza deveria ser tão respeitada, quanto um pintor, um músico, um poeta. O pintor cria a pintura, o poeta cria a poesia – e eu não acho que a poesia, a pintura e a música podem alimentar as pessoas.

O homem que cria riqueza – um Morgan, um Rockefeller, um Carnegie – deveria ser respeitado mais do que qualquer Picasso. Mas eles são condenados. Essas pessoas – Rockefeller, Morgans, Carnergies... – são condenadas pela simples razão de que estiveram criando riqueza. E você quer servir aos pobres. Como você vai servi-los sem riqueza?

Assim, crie respeito pela riqueza, crie respeito pelas pessoas que criam riqueza, crie respeito pelo sistema da sociedade que cria riqueza. Crie respeito pelo capitalismo, porque é isso o que é o capitalismo: uma estrutura econômica produtora de riqueza.

O socialismo é impotente. Sessenta anos de experimentação na Rússia provou que basta, pois o povo ficou completamente pobre. É claro, agora a pobreza está distribuída igualmente! Assim, não há nenhuma inveja, porque não há ninguém mais rico do que você, todos são tão pobres quanto você.

O norte-americano pobre está numa situação muito melhor do que um comissário russo. Mas, na Rússia, aconteceu uma coisa: você não pode se rebelar, você não pode ir contra o sistema. Você é constantemente observado.

Dois alfinetes estavam andando pela Praça Vermelha em Moscou. De repente, um deles disse para o outro:

– Cuidado com o que você está dizendo, Ivan. Há um alfinete de segurança bem atrás de nós!

O partido comunista russo tinha algumas cláusulas no regulamento de inscrição. As regras eram as seguintes: qualquer comunista que puder recrutar um novo membro, não mais terá de pagar as dívidas. Se conseguir dois membros, terá permissão de deixar o partido. E se recrutar três membros, receberá um certificado afirmando, em primeiro lugar, que jamais pertenceu ao partido.

A estátua de Stalin na Praça Lenine é tão grande, que serve para fazer sombra no verão, proteger do vento no inverno, e os pássaros têm uma oportunidade de falar a todos.

Sangam Lal Pandey, crie uma atmosfera no pobre de que o mundo não é ilusório, que a riqueza não é um pecado, que criar riqueza é uma das atividades mais criativas. Eu estou ensinando aos meus sannyasins... creiam-me, na nova comuna, nós vamos fazer crescer dinheiro nas árvores!

Em segundo lugar, ajude o pobre a compreender que não há mais necessidade de filhos. Esse será o verdadeiro serviço. Eu não chamo o serviço de Madre Teresa de um serviço verdadeiro. Primeiro você ajuda a criarem mais órfãos, porque a igreja católica é contra os contraceptivos. Se você é contra os contraceptivos, haverá órfãos.

Primeiro crie os órfãos, sendo contrário aos contraceptivos; depois, abra orfanatos e ganhe o Prêmio Nobel. Aritmética simples! Permita aos mendigos reproduzirem crianças, tantas quantas eles queiram, porque impedir a natureza não é bom. E essas mesmas pessoas vão abrindo hospitais.

Se impedir a natureza não é bom, então, se alguém está doente, não lhe dê remédios – eles estão impedindo a natureza. Na verdade, você está matando amebas... e aos milhões! Isso não é bom. Todos os germens que você mata são almas, Budas em potencial! Mais cedo ou mais tarde, eles todos se tornarão Budas, e você os está matando!

De um lado, abra hospitais e, assim, impeça que as pessoas morram, impeça que as pessoas fiquem doentes. E, então, diga-lhes que reproduzir crianças é um direito de nascimento.

Assim, os mendigos criarão mais mendigos. E vocês terão de abrir mais hospitais... e terão de abrir mais orfanatos... e terão de alimentar os pobres... e vocês aproveitarão a viagem! Como é bom quando você está alimentando o pobre, servindo ao pobre!

Eu já visitei muitos Rotary Clubs neste país, muitas vezes. Os rotarianos parecem ser as pessoas mais estúpidas do mundo – essa é a minha experiência. Eles são as pessoas mais ricas de toda cidade, de todas as metrópoles, as pessoas mais importantes. Mas na mesa do rotariano, na mesa do presidente, há uma placa dizendo “Nós servimos”. E o que eles fazem? Eles distribuem remédios, pacotes de alimentos, roupas...

Essas coisas não vão ajudar. Isso não é serviço, isso é uma conspiração para manter o pobre esperando que, de algum modo, as coisas vão melhorar – a pessoa tem só que esperar. E eles vêm esperando há milhares de anos.

Assim, se você realmente quer ajudar aos pobres, Sangam Lal Pandey, ensine-os a usarem contraceptivos, ajude-os a usarem todas as espécies de métodos de controle da natalidade. Ajude-os a serem operados: ajude as mulheres a serem esterilizadas, ajude os homens a serem esterilizados. Isso será um serviço verdadeiro. Então, eu posso lhe dar as minhas bênçãos.

Ajude as pessoas a compreenderem mais sobre tecnologia, mais sobre ciência. Elas não precisam da Bíblia, elas não precisam do Gita, elas não precisam do Corão – elas já tiveram bastante disso tudo. Elas precisam de melhor tecnologia, elas precisam de eletricidade, elas precisam de máquinas. Ajude-as a tornarem-se mais orientadas pela ciência. Isso será um serviço verdadeiro.

Se pudermos reduzir a população, se milhões de pessoas puderem decidir não ter filhos absolutamente... Olhe para os meus sannyasins. Cinco mil sannyasins estão aqui e somente trezentas crianças. E os meus sannyasins não são celibatários: eles são celebrantes! Então, o que foi que aconteceu? Eles simplesmente compreenderam o fato de que o mundo já está superpovoado. É um ato feio continuar reproduzindo crianças. Essas trezentas crianças também estão aqui, porque já tinham nascido antes dessas pessoas tornarem-se sannyasins.

Uma vez que a pessoa se torna uma sannyasin, seu primeiro dever é compreender qual é a situação. O mundo já está superpovoado, ele está fadado a ser pobre. Retire-se, não reproduza. Abandone essa velha e estúpida ideia de que você tem de deixar algumas crianças no mundo. Chega você! Seus pais fizeram um grande serviço para o mundo. Agora, seja você mais compassivo.

Sangam Lal Pandey, se você quiser realmente servir ao pobre, então, você terá de compreender minhas condições. E, então, certamente, vá e ajude-os – mas primeiro você tem de praticar o que eu estou dizendo.

Na Índia, a menos que você produza pelo menos doze filhos, você não é tido como homem o bastante. Pare de produzir filhos! Na verdade, usar o sexo apenas para reprodução, como diz o Mahatma Gandhi, como diz o Papa... – Mahatma Gandhi também parece ser um polaco disfarçado – todos eles dizem que você tem de usar o sexo somente por razões reprodutivas, caso contrário é um pecado.

Eu digo exatamente o oposto: se você usar o sexo como brincadeira, ele é uma virtude; se você usar o sexo para reproduzir, ele é um pecado.

                                                    OSHO. Philosophia Ultima (A Derradeira Filosofia). # 14.
                                                    Tradução do texto: Samashti & Abodha


Fonte: Osho Sukul