Querido Osho,
Você nos disse que a mente se torna mais e mais quieta se meditamos regularmente.
No ano passado, quando eu estava morando na Europa, fora de uma comuna, os pensamentos se tornaram mais e mais fortes durante minhas meditações até eu começar a ficar amedrontada ao sentar. Agora que eu estou com você novamente, este problema foi embora.
Mas eu me pergunto: como pode alguém ser uma sannyasin por dez anos, meditando todos os dias, e ter uma mente que se torna mais e mais barulhenta?
“Sagarpriya, a questão que você formulou tem muitas implicações. Primeiro, é preciso entender que a sua mente é muito antiga – doze anos nada são comparados à história da mente; é a história de todo o universo desde o exato começo.
Ela tem trabalhado por tanto tempo e tão eficientemente que os cientistas dizem que não são capazes de criar um computador que possa competir com a mente humana. E a mente humana está ocupando um pequeno espaço, no seu crânio; os computadores deles estão ocupando grandes salas. Um cientista calculou que seria necessário mais de um quilômetro quadrado de espaço para um computador comparável à mente humana. A mente humana é um milagre.
Sentada comigo, você está sentada com um milagre ainda maior. Você está sentada com uma não-mente. Naturalmente o silêncio se torna mais fácil, a meditação vem por si mesma, assim como uma brisa fresca. Quando você fica só, a mente é tudo o que você tem. Este problema continuará a acontecer, a menos que sua meditação vá a uma tal profundidade que você tenha algo mais valioso que a mente.
Comigo você pode ter um vislumbre, só por um momento. E esse vislumbre cria o anseio por ter aquele momento esticado pela eternidade. Ele é tão cheio de paz, tão fresco, quem não gostaria disso? Mas, quando você volta para o mundo, existem apenas computadores andando por todos os lados; você tem que se comunicar com computadores. Um psicólogo definiu o corpo do homem como nada mais que um mecanismo para facilitar o funcionamento da mente.
O psicólogo está dizendo exatamente o contrário: é a mente que está carregando você; todo o seu corpo está funcionando só pelo bem da mente. Assim, no momento em que você vai para o mundo – isto aqui não é parte do mundo; nós estamos tentando criar pequenas ilhas onde a mente não seja mais exigida como um computador. Mas no mundo você precisará da mente. E o problema continuará, Sagarpriya, até que você tenha algo mais que a mente. Ter apenas um vislumbre de silêncio não é suficiente.
Você precisa de um centramento, você precisa de uma percepção, você precisa exatamente da iluminação – somente então você poderá permanecer no mundo, sem sua mente funcionar, a menos que você queira usá-la. A mente é um mecanismo tremendamente valioso, um dos maiores milagres na biologia, na evolução do homem. A mente é simplesmente inacreditável, a maneira como ela funciona... Porque você nada sabe a respeito dela, embora ela seja a sua mente. Você não sabe como ela acumula milhões de memórias.
Os cientistas calcularam que uma simples mente humana pode conter todas as bibliotecas do mundo. Ela pode memorizar tudo o que foi escrito ao longo das eras. Essa é a capacidade; você pode usá-la, você pode não usá-la. E você não conhece as bibliotecas. Apenas a Biblioteca do Museu Britânico tem livros suficientes para dar três voltas em todo o mundo, se você colocar um livro ao lado do outro, da maneira como você os coloca na prateleira da biblioteca. E essa é apenas uma biblioteca!
Moscou talvez tenha a maior biblioteca, e todas as grandes universidades do mundo têm bibliotecas semelhantes. Só na Índia existem cem universidades com bibliotecas extraordinariamente grandes. E a própria ideia de que uma simples mente humana tem a capacidade de memorizar tudo o que está escrito em todos os livros que existem em todo o mundo...Isso simplesmente nos deixa perplexos, parece inacreditável.
Você não sabe o que a sua mente está fazendo por você. A sua mente está regulando tudo em seu corpo. De outra forma, como você pensa que por setenta ou oitenta anos, ou mesmo por cem anos – e existem pessoas que tem até passado disso; elas têm alcançado o aniversário de cento e cinquenta anos, e existem umas poucas centenas de pessoas na União Soviética que ultrapassaram a idade de cento e oitenta anos.
Os cientistas dizem que não há razão para o corpo morrer senão aos trezentos anos. É apenas uma velha hipnose, autohipnose, que gerou a ideia predominante de que você tem apenas setenta anos de vida. Isso vai fundo em sua consciência, de que por volta dos setenta anos você começa a achar que está desabando, que você já se foi.
E, de qualquer maneira, com o tempo, na idade dos sessenta, você está aposentado e nada existe para fazer. A morte parece ser um alívio, não um risco. Nós não temos sido suficientemente capazes e humanos para oferecer uma situação onde os nossos idosos possam ter alguma dignidade, algum autorrespeito, algum orgulho. Nós não temos sido capazes de encontrar dimensões onde eles possam contribuir para o mundo. E eles têm experiência e certamente são capazes de contribuir bastante – o suficiente para o autorrespeito deles, o suficiente para eles viverem e não se sentirem como um fardo. (...)
Os cientistas dizem que o corpo do homem tem a capacidade, pelo menos – isto é o mínimo – de viver trezentos anos. Mas, por que o homem não vive tanto tempo? Talvez o homem não saiba como viver, talvez ele não saiba como usar o seu corpo, como usar a sua mente.
Sagarpriya, você tem que entender duas coisas muito claramente: primeiro, a mente é um grande milagre. A existência não foi capaz de criar algo maior que a sua mente. O seu funcionamento é tão complexo que deixa perplexos os maiores cientistas. Ela administra todo o seu corpo que é um sistema muito complexo.
Quem cuida para que uma certa parte de seu sangue vá para o cérebro? Quem cuida para que parte de seu alimento se transforme em ossos, se transforme em sangue, se torne pele? Quem cuida para que parte de sua pele se torne unhas, que parte de sua pele se torne olhos e orelhas?
Certamente você não está administrando isso, e eu não vejo qualquer outro administrador por perto. Assim, primeiro você tem que estar agradecida à mente. Este é o primeiro passo para ir além da mente, não como uma inimiga, mas como uma amiga. Ao me ouvir dizer continuamente que você tem que ir além da mente, você pode cair num mal entendido. Eu tenho tremendo respeito pela mente, não existe maneira de retribuir a nossa gratidão. Assim, a primeira coisa é: meditação não é contra a mente, ela é além da mente. E além não é equivalente a contra.
Esse mal entendido mais se espalha quanto mais pessoas falam sobre meditação, particularmente pessoas que não compreendem meditação – aquelas que já leram a respeito, aquelas que já ouviram a respeito, aquelas que conhecem as técnicas... E as técnicas são simples; você as pode ler, elas estão disponíveis em muitas escrituras. E agora existem livros que ensinam como fazer qualquer coisa – mecânica de carro, engenharia elétrica, qualquer coisa – você pergunta e o vendedor de livro está pronto para lhe dar um livro sobre como fazer aquilo.
Um mestre nunca se tornará irrelevante por uma simples razão: quem lhe ensinará a amar a mente e ir além dela? A amar e respeitar seu corpo? A ter gratidão para com sua mente e seu funcionamento extraordinário e milagroso? Isso criará uma grande amizade, uma ponte entre você e a mente.
Com o aprofundamento dessa amizade, sempre que você estiver meditando, a mente não perturbará, porque a sua meditação não é contra ela. Na verdade, é a sua própria realização, é o seu florescimento maior. Ir além dela não é uma atitude hostil, mas uma evolução amigável.
Assim, isso deve ser a base de todo meditador: não ser um lutador. Se lutar, talvez você seja capaz de aquietar a mente por algum tempo, mas isso não será uma vitória. A mente voltará de novo, você precisará dela. Você não consegue viver sem ela; você não consegue existir no mundo sem ela.
E se você criar um relacionamento amigável com a mente, uma ponte amorosa, ao invés de ser um obstáculo para a meditação, ela começará a se tornar uma ajuda. Ela protege o seu silêncio, porque aquele silêncio é também um tesouro dela, ele não é apenas seu. Ela se torna um solo no qual as rosas da meditação irão florescer, e o solo será tão feliz quanto as rosas. Quando as rosas dançarem no sol, na chuva, no vento, o solo também se alegrará.
Minha abordagem é totalmente diferente da abordagem que até agora tem sido feita. Por milhares de anos, todas as religiões estiveram ensinando algo contra o corpo, contra a mente. (...) As religiões têm ensinado contra o corpo. Isso é tão ridículo – você tem que viver no corpo, tem que alimentá-lo, tem que mantê-lo saudável, ele é a sua casa. Elas têm falado contra a mente. Isto agora é a última coisa – Israel fez um trabalho pioneiro. O parlamento de Israel parece ser constituído verdadeiramente por idiotas de primeira classe.
Eu não acho que eles conheçam mesmo algo a respeito de meditação, mas o medo... Os judeus estão com medo, os muçulmanos estão com medo, os hindus estão com medo, os jainas estão com medo – todos eles estão com medo de meditação. Embora eles falem a respeito de meditação, eles têm medo dela. Eles falam porque, sem falar sobre meditação, a religião deles parece estar incompleta, mas, basicamente, eles são contra ela porque o homem que se torna meditador, simplesmente escapa, sorrateiramente, de qualquer religião organizada. Ele não é mais um hindu, não é mais um judeu, nem um muçulmano. Ele não consegue continuar acreditando em todos os tipos de superstições e estupidezes das quais todas as religiões estão cheias.
Os judeus acham que eles são o povo escolhido de Deus. Ora, nenhum meditador consegue achar isso. Pensar que ‘somente nós, os judeus, somos o povo escolhido de Deus, e toda a humanidade, de alguma maneira, é inferior a nós’... Mas não são apenas os judeus que têm cometido esse pecado. Eles têm sofrido muito por isso; eles ainda estão sofrendo. Eles continuarão a sofrer, porque a própria ideia é tão estúpida que ela cria hostilidade, particularmente num mundo onde os germânicos nórdicos pensam que eles são o povo escolhido, onde os hindus pensam que eles são o povo escolhido, porque o seu livro sagrado é o mais antigo e é a primeira escritura sagrada escrita por Deus. Eles não conseguem tolerar uma ideia como a de Moisés dizendo a seu povo que ‘vocês são o povo escolhido de Deus; vocês têm o direito básico de serem superiores a todo mundo.’ Quem pode tolerar isso? Os hindus pensam que eles é que são superiores a todo mundo. (...)
Se a meditação se tornar mais preponderante, então você ficará livre de todos esses preconceitos; consequentemente, nenhuma religião quer meditação, embora elas possam falar sobre ela. Para mim nem Deus é importante, nem céu, nem inferno, nem anjos – todos eles são apenas hipóteses. Para mim, a meditação é a alma exata da religião. Mas ela pode ser alcançada apenas se você se mover corretamente. Um simples passo na direção errada... Você está sempre se movendo no fio da navalha!
Comece com amor ao corpo, que é a sua parte mais externa. Comece a amar sua mente – e se você ama a sua mente, você irá enfeitá-la, assim como você enfeita o seu corpo. Você o mantém limpo, viçoso; você não quer que seu corpo cheire mal para as pessoas, você quer que seu corpo seja amado e respeitado pelos outros. A sua presença deve ser não apenas tolerada, mas bem-vinda.
Você tem que decorar a sua mente com poesia, com música, com arte, com ótima literatura. O seu problema é que a sua mente está cheia apenas com coisas corriqueiras. Essas coisas medíocres circulam pela sua mente de maneira que você não consegue amá-la. Você não pensa em alguma coisa que seja grandiosa. Coloque-a em sintonia com os grandes poetas, coloque-a em sintonia com pessoas como Fyodor Dostoievski, Leon Tolstoi, Anton Chekov, Turgenev, Rabindranath, Kahlil Gibran, Mikhail Naimy, preencha-a com as maiores alturas que a mente já alcançou.
Então, você não ficará hostil à mente. Então você irá se alegrar na mente; mesmo se a mente estiver ali no seu silêncio, ela terá uma poesia e uma música própria, e transcender uma mente tão refinada é muito fácil. É um passo amigável em direção a picos mais altos: a poesia se transformando em misticismo, a grande literatura se transformando em grandes insights sobre a existência, a música se transformando em silêncio.
E à medida que essas coisas começam a se transformar em picos mais altos, além da mente, você estará descobrindo novos mundos, novos universos para os quais nós nem mesmo temos nomes. Nós podemos dizer felicidade, êxtase, iluminação, mas nenhuma palavra descreve isso verdadeiramente. Está simplesmente fora do poder da linguagem reduzir isso em explicações, em teorias, em filosofias. Isso está simplesmente além... Mas a mente se alegra em sua transcendência.
Eis o que é a minha única contribuição para você. Com absoluta humildade eu quero lhe dizer que estou muito à frente mesmo de Gautama Buda pela simples razão de que ele ainda está lutando com a mente. Eu amei a minha mente e através do amor eu a transcendi.
Isso é um começo totalmente novo. Naturalmente eu tenho que ser condenado. Muitos virão até a mim, mas não serão capazes de caminhar comigo, nem mesmo alguns passos, porque logo descobrirão que seus preconceitos os estarão impedindo de seguir comigo.
Os seus preconceitos são antigos e naturalmente – eu posso compreender – eles não podem pensar que alguém possa ir além de Gautama Buda, da mesma maneira que os contemporâneos de Gautama Buda não podiam acreditar que ele tinha ido além dos VEDAS e além dos profetas dos UPANISHADS, da mesma maneira que os contemporâneos de Lao Tzu e Chuang Tzu não podiam acreditar que eles tivessem ido além de Confúcio. E se, apenas por questão de humildade, eu não disser a verdade, eu estarei cometendo um crime contra a verdade. Não me interessa tal humildade; o que eu quero é exatamente que o caso seja explicado a você.
A minha abordagem a respeito de meditação é totalmente nova, totalmente fresca, porque ela depende do amor – não da luta, não da guerra. Eu deixei Mahavira vinte e cinco séculos atrás. O seu nome não era Mahavira – mahavira significa ‘o grande guerreiro’. O seu nome era Vardhamana, mas as pessoas mudaram seu nome porque ele era um grande guerreiro. Um guerreiro contra quem? – contra seu corpo, contra a sua mente. E eu não acho que alguém que seja contra seu corpo e contra sua mente seja capaz de alcançar o além. Somente o amor é o caminho.
Sagarpriya, faça a sua mente tão bela quanto for possível. Enfeite-a com flores. Eu fico realmente muito triste quando vejo pessoas que não conhecem O LIVRO DE MIRDAD, que nunca viram as histórias absurdas de Chuang Tzu, que nunca se preocuparam em compreender as histórias totalmente irracionais do Zen. Eu não consigo conceber como você consegue viver belamente se não conhece os livros de Dostoievsky... Para mim, OS IRMÃOS KARAMAZOV é mais importante que A BÍBLIA. Ele tem tantos insights grandiosos, que A BÍBLIA não deve ser considerada de jeito algum, nem mesmo por comparação. Mas A BÍBLIA será lida – e quem vai se preocupar com OS IRMÃOS KARAMAZOV, no qual Dostoievsky colocou toda a sua alma? Ou ANA KARENINA de Leon Tolstoi, ou PAIS E FILHOS de Turgenev, OFERENDA DE CANÇÕES de Rabindranath? E estes são apenas poucos nomes; existem milhares que alcançaram o melhor florescimento da mente.
Primeiro deixe sua mente ser enfeitada. Somente além desse jardim perfumado da mente você será capaz de ir silenciosamente, sem qualquer luta; a mente será uma ajuda, não um obstáculo; então eu posso dizer com total autoridade: ela não é um obstáculo. Você simplesmente não sabe como usá-la.
Ela é bela, Sagarpriya, e quando você vem aqui, você se sente meditativa. Pelo menos estes pequenos espaços, estes poucos dias, irão gradativamente começar a se tornar mais fortes, mais profundos. Um dia, você terá ido e estes momentos estarão com você, mesmo no mundo dos negócios, e este será um dia de grande alegria.
Mas isso leva tempo. Eu tenho que dizer às pessoas que isso pode acontecer instantaneamente. Não que isso seja falso – pode acontecer instantaneamente, mas onde encontrar o gênio que consegue compreender isso instantaneamente?
Quando eu digo que isso pode acontecer instantaneamente, as pessoas simplesmente pensam, ‘Isso é impossível para nós.’ Se eu lhes disser que isso pode acontecer ao longo de algumas vidas, elas acham, ‘Isto parece estar perfeito,’ porque enquanto isso elas têm tempo de fazer todas as suas coisas estúpidas.
Qual é a pressa, se isso é uma questão de algumas vidas? Primeiro cuide de seu namorado, de sua namorada; primeiro vá visitar as ruínas de Roma, da Grécia, da Índia; primeiro faça todas essas coisas tolas que toda a multidão espera de você. E no que se refere à iluminação, ela não vai acontecer agora, isso demora muitas vidas, assim, por que a pressa? Você pode continuar deixando para depois.
É por isto que as pessoas amam todas as religiões que falam sobre muitas vidas – não porque elas compreendem o significado disso, mas porque elas querem usar isso como uma desculpa. Isto pode acontecer neste exato momento, mas não acontecerá. A razão não está na sua natureza; a razão está em você. Não acontecerá porque você não quer que aconteça exatamente agora.
Pense apenas por um momento: Se eu fosse fazer você se iluminar neste exato momento, você começaria a pensar, ‘Mas eu não pedi ao meu marido. E o que fazer com meus filhos? Eu tenho que casar a minha filha. Eu acabei de encontrar a minha namorada, meu Deus! E isso vai acontecer exatamente agora? Ele não poderia esperar? Deixe-me só terminar a lua-de-mel.’ Mil pensamenos surgirão em sua mente: ‘Meu Deus, eu comecei um novo negócio, investi tudo nele. Se ele tivesse me falado antes, eu não teria me envolvido em toda essa bagunça.’ Todo mundo, sem exceção...
Eu contei a vocês a história de um grande mestre ceilonês que tinha milhões de discípulos e que, por cinquenta anos, esteve lhes dizendo somente uma coisa: Meditem. O dia de sua morte chegou e ele anunciou, ‘Após sete dias eu vou deixar o corpo, assim deixe que todos os meus discípulos se reúnam de modo que eu possa vê-los uma vez mais, porque eu não voltarei novamente.’
Assim, todos os discípulos se reuniram; foi uma grande reunião. E antes de morrer, o velho homem disse, ‘Eu sempre disse a vocês para meditar, mas vocês não me ouviram. Eu dou a vocês uma outra chance. Desta vez vocês não têm que fazer coisa alguma. Eu vou morrer e eu posso levar vocês comigo. Tem alguém pronto para vir comigo?’
Todo mundo olhou, um para o outro: ‘Você ficou muito tempo com ele, você pode ir.’ As pessoas olhavam umas para as outras e sussurravam, ‘O que você está fazendo? Todos os seus filhos estão casados, tudo já está terminado, ninguém precisa de você...’ Mas ninguém se levantou. Ele disse, ‘Simplesmente se levantem e eu levarei vocês comigo.’
Houve um grande silêncio e as pessoas começaram a olhar para baixo – como encarar esse velho homem? É tão embaraçoso. Mas todos eles ficaram sem se mover, porque qualquer movimento ele poderia entender mal – ele poderia ver alguém se movendo e dizer, ‘Levante!’.
Finalmente um homem levantou a mão. Ele disse, ‘Primeiro, por favor, compreenda isso: Eu não estou me levantando. Eu simplesmente levantei a mão para lhe formular uma pergunta.’
O velho homem disse, ‘Por cinquenta anos eu estive respondendo a perguntas e você ainda está formulando perguntas? E desta vez eu estou lhe dando a oportunidade de vir comigo.’
Ele disse, ‘Sinto muito. Algum dia eu irei. Conte-me apenas o segredo de como eu posso ir me encontrar com você.’
Ele disse, ‘O que eu estive falando para vocês por cinqüenta anos?’
O homem disse, ‘Só uma vez mais...’
É possível neste exato momento abandonar todos os seus preconceitos, limpar sua mente. É preciso apenas uma resolução absoluta, a maior confiança e um amor que não conheça limites.
Mas se não puder acontecer neste momento, eu não quero que alguém fique triste e entre num estado de desespero. Isso pode acontecer amanhã. Você pode relaxar, não há pressa. Mas, por favor, compreenda o processo claramente: ame seu corpo – contra todas as religiões. Ame sua mente, refine sua mente – contra todas as religiões.
E eu lhes digo que a luta não é o caminho; o caminho é o amor. Ame seu corpo, ame sua mente, e este próprio amor criará a energia, a atmosfera para transcender a mente, para criar o que eu chamo meditação ou o estado de não-mente. Ele virá. Ele tem que vir. Ninguém sai deste templo de mãos vazias. Mas vocês têm que entender uma coisa: eu não represento qualquer velha tradição, eu não represento nenhuma velha religião; eu não represento qualquer Gautama Buda, ou Mahavira, ou Maomé ou Jesus ou Moisés – eu simplesmente represento a mim mesmo.
E se você puder amar e confiar num estranho que não pertence a qualquer organização ortodoxa, então comigo a meditação estará acontecendo... E logo, sem mim também, ela estará acontecendo. Levará um pouco de tempo. Levará um pouco de tempo porque é preciso crescer as raízes.
Assim, Sagarpriya, sempre que você puder encontrar um tempo, venha. E não se preocupe com o que acontece do lado de fora; é simplesmente lixo. O que acontece aqui, conte apenas isso como sendo sua vida verdadeira. Os momentos em que você está comigo permanecerão com você mesmo depois da sua morte, e os momentos que você está desperdiçando no mundo simplesmente irão pelo esgoto.
Mas não há necessidade alguma de se preocupar. Se mesmo uns poucos momentos de meditação começarem a se tornar sementes em você, começarem a criar raízes em você, não está muito longe o dia em que as primeiras flores de sua consciência estarão crescendo dentro de você.
E eu a compreendo, Sagarpriya; compreendo você e sua confiança e seu amor. Poucas pessoas têm tanto amor e tanta confiança. Mas, abandone toda hostilidade para com a mente. Existe uma fase de luta com a mente, talvez inconsciente – a mente é apenas uma coisa pobre e bela. (...)
Sinta esta paz, absorva este silêncio. E à medida que você o absorve, ele se torna mais profundo... Ele começa a tocar o seu coração. Não há movimento algum, mas você sentirá uma dança. Não há palavra alguma, mas você sentirá uma canção.
É como se ninguém existisse, mas uma extraordinária unidade... Todas as personalidades se foram e somente uma consciência, pulsando em sincronicidade um com o outro. Só para concluir este belo momento... Eu sempre gosto de deixar vocês rindo, cantando e dançando. Isto é apenas uma indicação de que no dia em que eu finalmente deixá-los, eu gostaria que vocês cantassem, dançassem e celebrassem.
Na verdade, nenhum homem na história do mundo recebeu uma tal celebração quando morreu como a que vou receber. Uns poucos receberam celebração apenas dos inimigos, porque os inimigos celebram quando se morre. Os amigos lamentam. Eu sou a única pessoa... Na minha morte os meus amigos celebrarão e meus inimigos celebrarão. Na minha morte eles estarão juntos em celebração. Nunca existiu um homem assim antes.
Uma senhora negra em Nova York recebeu uma chamada telefônica da escola onde seu filho Leroy estuda. O diretor queria vê-la o mais cedo possível por causa do comportamento de seu filho.
‘O seu filho, Leroy,’ começou o diretor, é uma influência perturbadora.’
‘Exatamente como seu pai,’ disse a senhora negra.
‘Ele rouba das outras crianças,’ continuou o diretor.
‘Exatamente como seu pai,’ disse a mulher.
‘Ele está sempre entrando em brigas,’ continuou o diretor.
‘Exatamente como seu pai,’ respondeu a mãe.
‘Ele persegue as garotinhas e as faz chorar,’ disse o diretor.
‘Exatamente com seu pai, disse a senhora negra, ‘e, senhor, eu me alegro por nunca ter me casado com aquele homem!’ "
Osho – The Great Pilgrimage: From Here to Here – capítulo 13 – pergunta n° 2
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Fonte: Instituto Osho