domingo, 22 de setembro de 2013

Zorba, o Buda



Amado Mestre,
Às vezes, quando ouço você falar, eu visualizo uma vida tipo da de Zorba, o Grego – comer, beber e divertir-se – sensual e apaixonadamente, e eu acho que este é o caminho.

Outras vezes sinto que você está dizendo que o caminho é sentar silenciosamente, atento e imóvel, como um monge. Então, o que devemos ser – Zorbas ou monges – como é possível ser os dois?

Eu sinto que você conseguiu integrar as contradições, mas podemos ser ambos: Zorbas, movidos pela paixão e pelo desejo, e Budas, desapaixonados, calmos e tranquilos.



"Esta é a síntese suprema – quando Zorba se torna um Buda. Eu estou tentando criar aqui não Zorba, o Grego, mas Zorba o Buda. Zorba é lindo, mas algo está faltando. A terra é dele, mas o céu está faltando. Ele é da terra, tem raízes, como um cedro gigantesco, mas ele não tem asas.

Ele não pode voar pelo céu. Ele tem raízes, mas não tam asas. Comer, beber e divertir-se, em si perfeitamente bom: não há nada de errado nisso. Mas não é o suficiente. Breve você se cansará disso. Você não pode continuar indefinidamente apenas comendo, bebendo e se divertindo.

Breve, o sonho se torna realidade monótona – porque é repetitivo. Apenas uma mente muito medíocre pode continuar indefinidamente feliz com isso. Se você tem inteligência, mais cedo ou mais tarde descobrirá a absoluta futilidade de tudo isso.

Por quanto tempo você pode continuar comendo, bebendo e se divertindo? Mais cedo ou mais tarde a pergunta fatalmente surgirá: qual é o sentido de tudo isso? Por que? É impossível evitar a pergunta por muito tampo.

E se você for inteligente, ela estará sempre presente, continuamente presente, martelando seu coração na busca da resposta: dê-me uma resposta! – por quê? É uma coisa a ser lembrada: não é verdade que pessoas pobres, famintas se tornam frustradas com a vida – não.

Elas não podem ficar frustradas, elas não viveram ainda – como podem estar frustradas? Elas têm esperanças. Um homem pobre sempre tem esperanças. Um homem pobre sempre deseja que alguma coisa aconteça – se não for hoje, então será amanhã, ou depois de amanhã; ou então numa próxima vida.

O que você acha? Quem são as pessoas que descrevem o céu como um Playboy Club – quem são essas pessoas? Pessoas famintas, pobres, que não aproveitaram suas vidas – estão projetando seus desejos no céu.

Existem rios de vinho no céu... quem são essas pessoas que imaginam rios de vinho? Elas devem ter vivido a falta aqui. E existem árvores que satisfaçam os seus desejos. Você senta sob uma delas, tem um desejo, e no instante seguinte em que você deseja esse desejo é imediatamente atendido.

Nem um único instante se passa entre o desejo e sua realização. É imediato, instantâneo. Quem são essas pessoas? São pessoas famintas, que não foram capazes de viver suas próprias vidas. Como elas podem estar frustradas com a vida? Elas não tiveram a experiência pela qual se chega a perceber a absoluta futilidade de tudo.

Somente Zorbas vêm a conhecer a absoluta futilidade de tudo. O próprio Buda foi um Zorba. Ele teve todas as mais lindas mulheres de seu país. Seu pai providenciou para que todas as lindas garotas estivessem a sua volta.

Ele teve os mais belos palácios – diferentes palácios para as diferentes estações. Ele teve todo o luxo possível, pelo menos o que era possível naquela época. Ele viveu a vida de Zorba, o Grego, por isso, com apenas vinte e nove anos, ficou absolutamente frustrado. Ele era um homem muito inteligente.

Se tivesse sido um homem medíocre, ele teria continuado a viver assim. Mas em pouco tempo ele se deu conta de que isso é repetitivo, é sempre a mesma coisa. Todos os dias você come, todos os dias você faz amor com uma mulher... e todos os dias ele tinha novas mulheres para fazer amor.

Mas por quanto tempo? Em pouco tempo estava farto disso. A experiência da vida é muito amarga. Ela é doce apenas na imaginação. Na realidade ela é muito amarga. Ele fugiu do palácio, da riqueza, das mulheres, do luxo e de tudo mais.

Assim não sou contra Zorba, o Grego, porque Zorba, o Grego, é apropria origem de Zorba, o Buda. Buda surge a partir dessa experiência.assim, sou totalmente a favor desse mundo, porque sei que o outro mundo só pode ser experimentado a partir desse.

Assim eu não digo fuja desse mundo, não lhe direi para ser um monge. Um monge é alguém que foi contra Zorba; ele é um escapista, um covarde; ele fez alguma coisa com pressa, a partir da estupidez. Não é uma pessoa madura. Um monge é imaturo, ganancioso – ganancioso pelo outro mundo, e ele quer cedo demais; a estação ainda não chegou, ele ainda não amadureceu.

Viva neste mundo, porque este mundo proporciona um certo amadurecimento, maturidade, integridade. Os desafios deste mundo lhe dão centramento, consciência. E essa consciência se torna a escada. Então você pode mover-se de Zorba para Buda.

Mas deixe-me repetir novamente. Apenas os Zorbas tornam-se Budas – e Buda jamais foi um monge. Um monge é aquele que nunca foi Zorba e que ficou encantado com as palavras dos Budas. Um monge é um imitador, ele é falso, pseudo. Ele imita os Budas. Ele pode ser cristão, pode ser budista, pode ser jaina; isso não faz a mínima diferença – ele imita os Budas.

Quando um monge se afasta do mundo, ele vai lutando com o mundo. Ele não parte relaxado. Todo seu ser é atraído pelo mundo. Ele se debate contra o mundo. Ele se torna dividido. Metade do seu ser é por este mundo e a outra metade se tornou ávida pelo outro. Ele está dilacerado.

Um monge é, basicamente, um esquizofrênico, uma pessoa dividida, dividida entre o mais baixo e o mais alto. O mais baixo o puxa continuamente, e o mais baixo se torna mais e mais atraente quanto mais é reprimido. E por não ter vivido o mais baixo, o monge não pode alcançar o mais alto.

Você pode alcançar o mais alto apenas quando viveu inteiramente o mais baixo. Você pode conseguir o mais alto somente passando toda a agonia e todo o êxtase do mais baixo. Antes de uma flor-de-lótus se transformar em uma flor-de-lótus, ela tem que se mover através da lama – essa lama é o mundo.

O monge fugiu da lama; talvez devido ao seu ego: “Eu sou uma semente de lótus! E eu não posso cair na lama”. Mas então, ela há de permanecer uma semente; nunca desabrochará como flor-de-lótus. Se quiser florescer como flor de lótus, ela terá que cair na lama; ela terá que viver essa contradição. Sem a contradição de viver na lama, não há como ir além.

Eu serei a última pessoa a fazer um monge de você – se não fosse assim, porque os monges e as freiras seriam contra min? Eu gostaria que você criasse raízes na terra. Concordo perfeitamente com Friederich Nietzsche quando ele diz: “Eu lhes imploro, meus irmãos, mantenham-se fiéis a terra e não acreditem naqueles que falam de esperanças de outro mundo!”

Aprenda sua primeira lição de confiança confiando na terra. Ela é seu lar neste momento! Não anseie pelo outro mundo. Viva este mundo e viva-o com intensidade, com paixão. Viva-o com tonalidade, com todo o seu ser.

E a partir dessa total confiança, a partir dessa vida de paixão, amor e alegria, você se tornará capaz de ir além. O outro mundo está oculto neste mundo. O Buda está adormecido no Zorba. Precisa ser despertado. E ninguém pode despertar você, a não ser a sua própria vida.

Eu estou aqui para ajuda-lo a ser total onde quer que você esteja; em qualquer condição que você esteja – viva essa condição totalmente. E somente ao viver uma coisa totalmente você pode transcendê-la. Primeiro, Zorba, uma flor desta terra, ganhando através disso a capacidade de se tornar um Buda – a flor do outro mundo.

O outro mundo não está distante deste mundo; o outro mundo não é contra esse mundo; o outro mundo está oculto neste. Este é apenas a manifestação do outro, e o outro é a parte não-manifesta deste".

OSHO, em "Vida, Amor e Riso"

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