sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Ou somos nós mesmos, ou não somos ninguém



No mundinho louco em que vivemos, é cada vez mais difícil distinguir o que é real e o que é fantasia, o que é nosso e o que é dos outros. Nos perdemos em tantas questões inúteis, perdemos tanto tempo com questionamentos que não nos levarão a lugar nenhum.



E do lado de fora, a "sociedade" esse ser invisível e cruel, parece exigir cada vez mais de nós. Mas esse "lá fora" na maioria das vezes é mesmo "aqui dentro". Muita da pressão que nos deixamos sofrer é resultado de nossas escolhas internas, de nossas crenças, nossa vaidade e orgulho talhados com os anos de exposição a essa tal "sociedade".

Somos programados pra reagir sempre do mesmo modo às mesmas questões, ficamos presos numa "roda de hamster", repetindo o mesmo comportamento, dia após dia. Não é de se surpreender que as respostas do mundo às nossas necessidades também sejam sempre as mesmas...A pressão que sofremos do mundo é inumana, talvez por não ser mesmo fruto do "homem" mas do meio.

Quem disse que nós temos que passar a vida num trabalho que odiamos, só porque é a nossa profissão? E arrumar um alguém qualquer pra formar família? Sempre fazer as mesmas escolhas, e terminar a nossa vida miserável, do mesmo jeito, ou pior, que nossos parentes?

Afinal, quem disse pra você que sendo mulher, você tem que parir e exibir a cria como troféu pra família, ser delicada, ter "superpoderes" pra administrar filhos e emprego, e ainda ser a "gostosa e desejada" que nunca mostra sinais do tempo? E se você decidir fazer coisas de homem, detestar musica romântica ou decidir não se casar, tá ferrada, será alvo das críticas da família.

Quem disse que você sendo homem tem que se matar de trabalhar pra sustentar uma família, que você não pode falhar nunca, seja na cama, seja no trabalho? E se você chorar vendo um filme, não gostar de carros ou não gostar de futebol, ninguém vai levá-lo a sério.

Afinal, você já parou pra pensar, nisso tudo? Se perguntou alguma vez se é isso que você quer mesmo? Você se mata pra ser como o modelo que venderam pra você? Ainda se sente mal ao falar da sua vida, como se as escolhas que não deram certo demonstrasse uma vida fracassada?

E onde isso te levou? Ao médico, ao psiquiatra, ao boteco ou igreja pentecostal mais perto da sua casa? Ficou desnorteado, quando a vida não seguiu o script que supostamente todo mundo deveria viver? É eu sei bem como é, mesmo sendo um "rebelde" desde sempre, eu deixei por muito tempo isso tudo orbitar minha cabeça.

Quantas vezes eu não fiz algo já com medo ou raiva do que os outros iam falar. Quantas vezes fiz coisas que quis pela metade, só pra não desagradar totalmente as pessoas. O peso que a gente sente quando toma decisões que no fim só deveriam ter haver com a gente, é o peso desse monte de gente montado na nossa cabeça e ombros.

Queremos ser levados a sério, mas nos tratamos como algum débil mental que não consegue saber o que é bom pra sí mesmo, e vivemos "pescando" o que os outros acham de nós. Queremos nos enquadrar a qualquer custo, ou queremos que o mundo se enquadre a nossas ideias.

Nem uma coisa, nem outra vai rolar. No fundo a gente sabe disso, mas o ser humano é burro pra caramba...e insistimos por teimosia pura. Ou "o mundo tem que caber no nosso sonho" ou a gente se espreme pra caber nos esquemas dos outros.

Vamos lá! Vamos ouvir as mesmas músicas, ver os mesmos programas de tv, participar das mesmas comunidades na web, votar nos mesmos caras, desejar as mesmas pessoas, comprar as roupas que estão na moda, ter as mesmas ambições e sonhos que todo mundo!!!

Vamos nos arrebentar pra tentar ser famoso ou bem-sucedido, vivendo em "propagandas de margarina", como se todo vazio que você sente, fosse a falta de alguns flashs de fotógrafos e alguns reais na conta bancária...

Que "mundo maravilhoso" esse, onde você decidiu não fazer escolhas, os outros já fizeram por você! Você virou "produto do meio", uma coisa assim, meio "genérica", sem graça, sem originalidade, numa vida vazia, sem sentido, onde até as desgraças que você passa na vida são iguaizinhas a seus pares.

Nem na hora de ter uma doença, passar um apuro, você é original. Experiência própria, quando seu corpo começar a dar sinais de desgaste por doenças crônicas, sua vida social ou profissional vai sofrer um grande revés, a primeira coisa que você busca é por seu verdadeiro "Eu".

Mas esse nosso "estado puro", tá tão desconectado, subjugado e enterrado, que temos dificuldade pra achá-lo ou resgatá-lo. Fazer o caminho de volta dá um trabalhão, mas é melhor isso que viver essa vida de mentira, cheia "de certezas" que desabam na primeira grande crise que você passar.

Se liga, a natureza caprichou em você, em mim, e em qualquer outro, e nos deu a todos qualidades e estilos que só verão a luz do dia se nós deixarmos. Valorize a pessoa de verdade que existe em você, não esse "cartão postal" que você montou para os outros apreciarem...

Renato Palhano