sábado, 21 de março de 2015

A Iluminação do Osho





Para Osho não havia escapatória, não havia atalhos. Ele sabia muito bem que estava diante de um momento muito crucial em sua vida e que poderia pirar, por uma falta de atenção, ou se perdesse a paciência, ou se lhe faltasse a coragem. De novo, foi a ausência de um mestre que criou esta situação tão crítica. A sua busca foi longa e árdua, mas ele não conseguiu encontrar nenhum. "É muito raro encontrar um mestre", ele confidenciou.






"É raro encontrar um ser que tenha se tornado um não-ser, raro encontrar uma presença que é quase uma ausência, raro encontrar um homem que é simplesmente uma porta para o divino, uma porta aberta para o divino que não irá impedi-lo, através da qual você poderá passar. É muito difícil… Sim, algumas vezes acontece que a pessoa tem que trabalhar sem um mestre. Se o mestre não está disponível, então a pessoa tem que trabalhar sozinha, mas neste caso a jornada é muito perigosa."

Esta situação tremendamente intensa e desafiadora durou todo um ano. Ela colocou Osho no mais difícil estado da mente. Ele fez uma descrição do que aconteceu com ele durante esse período.

“Por um ano foi quase impossível saber o que estava acontecendo… Manter-me vivo simplesmente já era uma coisa difícil, porque todo o meu apetite desapareceu. Os dias passavam e não sentia fome alguma e não sentia sede. Eu tinha que me forçar a comer e a beber. O corpo era tão não-existencial que eu tinha que me machucar para sentir que ainda estava no corpo, eu tinha que bater em minha cabeça para sentir se ela ainda estava ali ou não. Só quando doía eu me sentia um pouco no corpo.
Toda manhã e toda tarde eu corria de oito a doze quilômetros. As pessoas achavam que eu tinha enlouquecido. Por que eu estaria correndo tanto? Vinte e quatro quilômetros num dia! Era apenas para eu me sentir, para não perder o contato comigo mesmo... Eu não conseguia falar com ninguém porque tudo havia se tornado tão inconsistente que até mesmo formular uma frase era difícil. No meio da frase eu me esquecia do que estava dizendo, no meio de um caminho eu me esquecia para onde eu estava indo. Daí, eu tinha que voltar...
Eu tive que permanecer fechado em meu quarto. Eu decidi não falar, não dizer coisa alguma, porque se dissesse algo, era o mesmo que dizer que eu estava louco. 
Por um ano isso persistiu. Eu simplesmente me deitava no chão, olhava para o teto e contava de um até cem e depois de cem até um. Manter a capacidade de contar era pelo menos alguma coisa. Repetidas vezes eu me esquecia. Levou um ano para que eu recuperasse o foco novamente, para que voltasse a ter uma perspectiva.
Não havia ninguém para me dar um suporte, ninguém a me dizer para onde eu estava indo e o que estava acontecendo. Na verdade, todo mundo era contra… meus professores, meus amigos, os que me queriam bem.”

Durante esses tempos difíceis, Kranti cuidou muito do Osho e tomou conta de todas as suas necessidades com amor e dedicação. Kranti era sua prima. Muitas vezes Osho reclamava de acentuadas dores de cabeça, o que trazia grandes preocupações para ela. Ela e seu irmão Arvind quiseram muito fazer algo para encontrar uma cura para as sofridas dores de cabeça do Osho. Mas ele lhes dizia amorosamente para não se preocuparem, pois nada poderia ser feito a respeito daquelas dores.

O pai de Osho também falou a respeito dessas dores de cabeça. Certa vez a dor se tornou tão aguda que Kranti e Arvind enviaram uma mensagem urgente para Gadarwara e Dada teve que correr para Jabalpur. Dada pensava que as dores de cabeça eram causadas pelas longas leituras que Osho costumava fazer. Ele lembrou como Osho, em Gadarwara, simplesmente ficava fazendo aplicações de bálsamo em sua testa para acabar com a dor, mas sem interromper suas leituras. A mãe de Osho também se recordou de um antigo incidente quando Osho teve uma tormentosa dor de cabeça e o sangue começou a escorrer pelo seu nariz. Ela ficou preocupada, mas felizmente, depois de um tempo o sangue estancou. Mas as dores de cabeça daqueles anos de faculdade não pareciam estar relacionadas com esse seu hábito de leitura. Ao invés disso, elas eram devido ao estado psicológico pelo qual Osho estava passando.

Vendo suas condições físicas e psicológicas, a família começou a suspeitar que devia ser verdadeira a previsão do astrólogo de que Osho iria morrer aos vinte e um anos. Eles o levaram de um médico a outro. Só Osho sabia que esse esforço desesperado não tinha sentido. Ele insistia que não havia necessidade de ser examinado por um médico, porque nenhuma medicação iria lhe fazer bem. Osho descreve uma notável visita a um médico:

“Eu fui levado também a um vaidya, um médico. Na verdade eu tinha sido levado a muitos médicos, mas apenas um vaidya Ayurvédico disse ao meu pai: ‘ele não está doente. Não desperdice o seu tempo’. Naturalmente, eles estavam me arrastando de um lugar a outro. E muitas pessoas me recomendavam medicações, mas eu dizia ao meu pai, ‘Por que você está preocupado? Eu estou perfeitamente bem.’ Mas ninguém acreditava no que eu estava dizendo. Eles diziam. ‘Fique quieto e tome a medicação. O que há de errado nisto?’ Então, eu tomei todo tipo de medicação.

Apenas um vaidya era um homem de insight. Seu nome era Pundit Bhagirath Prasad… Aquele velho médico já se foi, mas ele era um raro homem de insight. Ele olhou para mim e disse, ‘Ele não está doente. E começou a chorar e a dizer, ‘Eu tenho buscado por este estado em toda a minha vida. Ele é afortunado. Nesta vida eu perdi essa oportunidade. Não o leve a mais ninguém. Ele está chegando em casa’. E ele chorou lágrimas de felicidade. 

Ele tornou-se o meu protetor contra os médicos. Ele disse ao meu pai, ‘Deixe ele comigo. Eu cuidarei dele.’ Ele nunca me deu qualquer medicação. Quando meu pai insistia, ele me dava pílulas de açúcar e dizia. ‘Estas pílulas são de açúcar. São apenas para consolá-los. Você pode tomá-las. Elas não lhe farão nenhum mal, mas também nenhuma ajuda. Na verdade, não existe ajuda possível.”

A leitura física das condições do Osho estava correta, porque seu mal não era comum, ele não era um paciente ordinário. Osho conhecia suas condições e suas causas melhor do que qualquer médico experiente.

“Agora, aquilo estava além de mim, já estava acontecendo. Eu tinha feito alguma coisa. Sem saber, eu tinha batido na porta. Agora a porta estava aberta. Eu havia meditado por muitos anos, simplesmente me sentando silenciosamente e nada fazendo. Pouco a pouco eu comecei a entrar naquele espaço, aquele espaço do coração, onde você está, sem fazer coisa alguma; você simplesmente está ali, uma presença, um observador.”

A intensidade das meditações de Osho continuou a se aprofundar. Suas experiências estavam levando-o a uma grande explosão. De todas as meditações que ele costumava fazer, uma era particularmente poderosa, a que ele costumava fazer no topo de uma árvore. Uma fascinante experiência ocorreu em Saugar, em Madhya Pradesh, aproximadamente um ano antes que o grande feito acontecesse. Enquanto cursava a faculdade em Jabalpur, Osho foi convidado a participar de um debate patrocinado pela Universidade de Saugar. Osho esteve ali por três dias e ele descreve o que aconteceu:

“Eu costumava sentar-me numa árvore e meditar à noite. Muitas vezes eu sentia que quando eu meditava sentado no chão, o meu corpo ficava com muito poder e eu tinha que ficar com as mãos para cima, talvez porque o corpo é feito com a matéria terra. O que se fala a respeito de iogues indo para os topos das montanhas ou para as alturas do Himalaia, certamente não é em vão, mas definitivamente baseado em princípios científicos. Quanto maior a distância entre o corpo e a terra, menor fica a força ou pressão física do corpo... E o poder da força interior aumenta. É por isto que eu costuma trepar em árvores altas e me absorvia em meditação por horas, toda noite.
Uma noite, eu estava tão entregue à meditação que eu não sabia que meu corpo havia caído da árvore. Eu olhei com desconfiança quando vi meu corpo deitado no chão. Eu estava surpreso com o acontecido. Eu não conseguia entender como aquilo aconteceu, pois eu estava sentado na árvore e meu corpo estava deitado no chão. Era uma experiência muito embaraçosa. Uma linha luminosa, uma corda brilhante prateada partia do umbigo do meu corpo e unia a mim no alto, onde eu estava empoleirado na árvore. Aquilo estava além da minha capacidade de entender, ou prever o que iria acontecer depois, e eu me preocupei a respeito de como eu iria retornar ao corpo. Por quanto tempo aquele transe durou, eu não sei, mas aquela era uma experiência única que eu nunca tinha tido antes.
Naquele dia, pela primeira vez, eu vi o meu corpo de fora e, desde então, a mera existência física do meu corpo findou para sempre. Desde aquele dia, também a morte deixou de existir, porque eu experienciei então que o corpo e o espírito são duas coisas diferentes, separados um do outro. Aquele foi o momento mais importante: a minha percepção do espírito que está no interior de todo corpo humano.
É realmente muito difícil dizer quanto tempo durou aquela experiência. Quando a manhã chegou, duas mulheres de algum povoado da vizinhança passaram por ali carregando leite e viram o meu corpo. Do topo da árvore, onde eu estava sentado, eu as vi olhando para o meu corpo. Elas aproximaram-se e sentaram-se ao lado. Elas tocaram minha testa com as mãos e no mesmo instante, como se por transparente força de atração, eu retornei para meu corpo e os olhos se abriram.

Eu percebi que uma mulher consegue criar uma carga de eletricidade no corpo de um homem e da mesma maneira um homem ao tocar no corpo de uma mulher. Então eu ponderei sobre a coincidência do toque da mulher em minha testa e meu imediato retorno ao meu corpo. Como e por que tudo aquilo aconteceu? Muitas outras experiências deste tipo ocorreram comigo e eu compreendi porque na Índia aqueles espiritualistas que conseguem experimentos de samadhi (um estado ininterrupto de pura consciência) têm mulheres a colaborar com eles. Se em profundo samadhi, o ser espiritual, tejas sharira, sai do corpo físico do homem, ele não consegue retornar ao corpo sem a cooperação e assistência de uma mulher. Tão logo o corpo de um homem ou mulher entra em contato, uma corrente é estabelecida e um círculo elétrico se completa. E naquele exato momento, a consciência do espírito que havia saído, retorna.

Depois disso eu experienciei este fenômeno seis vezes num período de seis meses. Durante aqueles seis meses cheios de eventos, eu senti que a duração da minha vida reduziu-se em dez anos, ou seja, se eu fosse viver setenta anos, agora, com aquelas experiências, eu iria viver apenas sessenta anos. Tais experiências extraordinárias, eu tive naqueles seis meses. Os pelos em meu peito esbranquiçaram e eu não consegui compreender o significado de todos aqueles acontecimentos. Então eu pensei e percebi que toda conexão ou ligação que havia entre este corpo físico e o ser espiritual estava interrompida e o ajuste que havia naturalmente entre eles, estava rompido.”

Na medida em que Osho entrou mais fundo nos mistérios da meditação, seus questionamentos desapareceram. O seu fazer cessou, a sua busca chegou a um ponto onde não havia mais aonde ir. Assim como aconteceu por ocasião da morte de seu avô, Osho foi trazido ao seu centro, mas agora isso era para sempre. Osho relata que bem no fundo existe o vazio, não existe qualquer fazedor. Ele deixou a ambição, ele não tinha desejo algum de se tornar alguém, ou de chegar a algum lugar. Ele não se preocupava com Deus ou com nirvana. ‘A doença do Buda havia desaparecido completamente...’, disse Osho.

O momento oportuno havia chegado. As portas se abriram, o amanhecer já não estava longe. Nas palavras do Osho: “Um dia uma condição sem questionamento chegou. Não é que eu tenha recebido uma resposta. Não. Ao invés disso, todos os questionamentos simplesmente se desmontaram e um grande vazio foi criado. Era uma situação explosiva. Viver naquela condição era tão bom quanto morrer. E então, a pessoa que estava fazendo as perguntas, morreu. Depois daquela experiência de vazio, eu não tive mais perguntas. Todos os assuntos sobre os quais as perguntas poderiam ser feitas, não mais existiam. Depois disso, nenhum questionamento permaneceu.”

O próprio Osho não revelou o acontecimento da iluminação para ninguém por quase vinte anos. A história apareceu mais dramaticamente numa noite quando Osho estava morando nos apartamento no Woodland em Bombaim. Kranti, a sua prima, era muitas vezes indagada pelos amigos se ela sabia quando Osho se iluminou. Ela não podia lhes dizer porque ela não sabia. Mas sempre havia alguém novo perguntando a respeito disso, e ela sentia um impulso de tentar saber isso do próprio Osho.

Finalmente, Kranti perguntou ao Osho a respeito de sua iluminação:

“Na noite passada, 27 de novembro de 1972, a curiosidade que eu carregava era tanta que se tornou incontrolável. Aproximava-se das onze e trinta. Após tomar seu leite, Osho foi para a cama. Eu também estava deitada na minha cama quando de repente eu senti como se estivesse perguntando a Osho quando ele tinha alcançado a iluminação. Logo após ter me ocorrido esse pensamento, eu lhe perguntei. ‘Quando você alcançou a iluminação?’ Osho riu e disse, ‘Foi você mesma que se sentiu inspirada a querer saber isto ou é porque as pessoas ficam lhe perguntando?’ Eu disse, ‘Ambas as coisas são verdadeiras, por favor me diga.’ Osho começou a rir novamente e disse, ‘Eu vou lhe dizer em outra hora.’ Eu disse, ‘Eu quero saber exatamente agora.’ Ele disse, ‘Comece a pensar e você saberá’.

Permaneci quieta por um tempo. Então, eu disse, ‘Eu acho que você alcançou a iluminação com a idade de vinte e um ou vinte e dois anos, quando você estava cursando o segundo ano da Faculdade.' Logo que eu mencionei isto, Osho disse um pouco mais seriamente, ‘A idade era vinte e um e não vinte e dois.’ Daí eu fiquei curiosa a respeito da data e do ano e lhe perguntei.

Osho disse, ‘Foi no dia 21 de março de 1953.’Depois de algum silêncio, eu perguntei novamente, ‘Onde aconteceu? Alguma coisa fora do normal aconteceu naquele dia?’
Osho disse, ‘Tente recordar, e você irá se lembrar de tudo.’ Eu permaneci deitada em silêncio e lembrei-me de uma noite, vinte anos atrás. Eu disse, ‘Aquela noite quando, de repente, você disse que estava saindo e só retornou às três horas.’ Osho disse, ‘Exatamente, foi precisamente naquela noite.’

Eu não podia acreditar que o que eu tinha visto era verdadeiro. E aqui estava Osho me dizendo que aquilo era mesmo verdadeiro. Eu conseguia ver no passado? Tudo era montado por ele. Ele estava fazendo tudo. Enquanto tais pensamentos estavam gritando em minha mente, uma outra curiosidade surgiu: a que hora da noite, onde, em que lugar Osho se iluminou? Imediatamente eu lhe perguntei, ‘Onde você foi naquela noite?’

Osho disse, ‘Ao Bhanvartal Garden.’ Em seguida ele acrescentou, ‘ao jardim’ e eu me lembrei de uma árvore. Eu disse, ‘Você foi ao jardim e sentou-se sob a arvore ashoka.’ Ele disse, ‘Não, eu estava sob a árvore maulshree.’ Então eu perguntei, ‘Uma vez que você estava no jardim entre as doze e as três horas, a que horas da noite o acontecimento teve lugar?’ Ele disse, ‘Recorde e você se lembrará.’ Eu fiquei em silêncio por um momento e todas as cenas daquela noite começaram a aparecer diante de meus olhos: como ele saiu de casa, como ele me acordou suavemente e disse que estava saindo e que não sabia quando iria retornar. Ele saiu logo após me dizer aquilo, e eu fiquei acordada por toda a noite esperando o seu retorno.

Então, todo o acontecimento começou a se revelar para mim. Eu pude até mesmo recordar-me de sua postura corporal: mudra. De alguma forma eu pude perceber que o acontecimento deve ter sido às duas horas. E logo que me veio esta ideia de duas horas, eu falei com Osho.

Ele disse, ‘Aconteceu exatamente às duas horas. Agora você pegou tudo certo.’ De novo eu estava espantada, mas tão alegre que foi impossível dormir. Várias vezes eu tinha a sensação que estava acordando todo mundo e lhes contando o que eu tinha ficado sabendo.”

O próprio Osho deu as seguintes razões para não revelar a história de sua iluminação por quase vinte anos: “ Muitas pessoas me perguntavam porque eu permaneci em silêncio a respeito de minha iluminação ter ocorrido em 1953. Por quase vinte anos eu nunca falei a este respeito com ninguém, a não ser que alguém suspeitasse por si mesmo, a não ser que alguém perguntasse por conta própria...’Eu sinto que alguma coisa aconteceu com você. Eu não sei o que é, mas uma coisa é certa: alguma coisa aconteceu e você não é o mesmo como nós somos e você está escondendo isso.’
Naqueles vinte anos, não mais que dez pessoas me perguntaram, e mesmo assim eu evitei-as o máximo que pude, a não ser quando eu sentia que seu desejo era genuíno. Eu lhes contava somente após eles prometerem manter o segredo. E todos eles cumpriram. Agora, todos eles são sannyasins… Eu disse, ‘Esperem, no momento certo eu farei a declaração.’

Eu aprendi muito com os Budas do passado. Se Jesus tivesse ficado quieto a respeito de ser o filho de Deus, teria sido muito mais benéfico para a humanidade.”

Osho decidiu não fazer essa revelação até que ele parasse de viajar pelo país, pois tornar isto conhecido significaria um grande risco para a sua vida.

Tradução: Sw. Bodhi Champak.
Julho de 2006


Este texto foi enviado para o tradutor há uns 15 anos, sem a indicação da fonte. As citações do Osho estão bem próximas, mas não exatamente iguais a certos trechos constantes no livro “Autobiografia de um Místico Espiritualmente Incorreto”, o que pode sugerir apenas variantes nas traduções.



Fonte: Osho Conexão Brasil