quarta-feira, 24 de junho de 2015

Como Aprendemos a Valorizar o Sofrimento







Recentemente escrevi um texto falando sobre a diferença entre sentir pena e sentir compaixão e uma leitora me enviou um texto por e-mail sobre o tema. Vou colocar alguns trechos a seguir:








"[...] A Camila estava na sala da televisão sozinha, chorando. Fui conversar com ela para saber o que estava acontecendo. E foi isso que ela me disse: ‘vovô, quando eu vejo uma pessoa sofrendo eu sofro também. O meu coração fica junto ao coração dela...’ [...]

[...] Percebi que o coração da Camila conhecia aquilo que se chama ‘compaixão’. Compaixão, no seu sentido etimológico, quer dizer ‘sofrer com’. Não estou sofrendo, mas vejo uma pessoa sofrer. Aí eu sofro com ela. Ponho o outro dentro de mim. Esse é o sentido do amor: ter o outro dentro da gente. A compaixão é uma maneira de sentir. E é dela que brota a ética. Se tenho compaixão, nada de mau poderei fazer a quem quer que seja [...]

[...] A falta de compaixão é uma perturbação do olhar. Olhamos, vemos, mas a coisa que vemos fica fora de nós. Vejo os velhos e posso até mesmo escrever uma tese sobre eles, se eu for um professor universitário. Mas a tristeza do velho é só dele, não entra dentro de mim. Durmo bem. Nossas florestas vão aos poucos se transformando em desertos, mas isso não me faz sofrer. Não as sinto como uma ferida na minha carne. Vejo as crianças mendigando nos semáforos, mas não me sinto uma criança mendigando num semáforo. Vejo os meus alunos nas salas de aulas, mas meu dever de professor é dar o programa e não sentir o que os meus alunos estão sentindo [...]"

Talvez, no dicionário, pena e compaixão sejam sinônimos. Mas em um sentido espiritual mais profundo, sentir compaixão é algo que vai além do sofrimento e é bem diferente da pena.

Esse texto, na minha visão, fala sobre o sentimento de pena como se fosse compaixão. E revela a crença de que só fazemos algo pelo outro em sofrimento. Ou, somente respeitamos o outro (ou a natureza) se também sofremos junto. Caso contrário, seremos insensíveis e não faremos nada. Resumindo, só é possível ser bom de verdade se sofremos junto com os outros.

Passamos, então, a valorizar o sofrimento, pois queremos ser vistos por nós mesmo e pelos outros como pessoas de bom coração, e não como pessoas insensíveis. Isso acaba sendo muito sabotador e terminaremos, inconscientemente, gerando sofrimento para nossas vidas de forma desnecessária.

Será que é possível não sofrer junto com o outro e, ainda assim, ajudar e não ser insensível? É claro que sim.

A insensibilidade é uma capa de proteção que as pessoas usam para não ter que lidar com os sentimentos incômodos de pena, culpa e tristeza ao ver o outro sofrer. Assim, as pessoas começam a ficar frias para não sofrer junto com os outros. Quem sente compaixão não precisa da capa da insensibilidade, pois já está em paz. Ficar em paz é bem diferente de ser insensível. O insensível é frio, às vezes é grosseiro e arrogante, e talvez não faça nada para ajudar o próximo.

A pessoa que está no estado da compaixão reconhece o sofrimento do outro, tem um olhar amoroso, mas não sofre junto. E se estiver a seu alcance, fará o que for possível para ajudar, e, caso não seja possível, ficará em paz compreendendo profundamente que o sofrimento é uma parte do aprendizado de cada um.

Imagine um médico que na emergência de um hospital recebe uma criança como paciente, acidentada em estado grave, que vem sendo trazida pelos seus pais em desespero. O ideal é que ele mantenha a serenidade para que possa ajudar a criança da melhor forma possível. Nesse estado de serenidade ele pode ser ao mesmo tempo atencioso com a família e enérgico para tomar as providências que têm que ser tomadas.

Quanto mais em paz ele se mantiver, melhor. Imagine se ele começar a sofrer junto com os pais dessa criança! Provavelmente não terá condições de prestar um bom atendimento. Sua saúde será afetada e ele acabará também levando tristeza para casa, causando sofrimento para a sua família.

Ao ficar em paz, esse médico pode manter um olhar amoroso sobre essa família. A junção desses dois sentimentos é o que define a compaixão com maior propriedade, no sentido mais profundo da palavra: ficar em paz ao ver o sofrimento de alguém e, ao mesmo tempo, manter um olhar amoroso.

Muitos médicos, por não conseguirem lidar com seu próprio sofrimento ao ver o sofrimento do outro, acabam por adotar uma armadura de insensibilidade e terminam tratando mal seus pacientes e familiares destes. Podem parecer frios, arrogantes, distantes, mas, na verdade, é um mecanismo de defesa para não entrar em contato com a tristeza, pena, impotência. Essa capa esconde uma grande fragilidade.

Compreendi melhor sobre a compaixão quando comecei a atender pessoas com a EFT. Chegam os mais diversos tipos de problemas emocionais, muitos deles bem intensos. Durante os atendimentos fico o mais em paz possível, pois sei que posso ajudar profundamente. E, assim, fica mais fácil conduzir um bom trabalho e trazer bastante alívio para quem está sendo atendido.

A maioria dos alunos que assistem aos atendimentos que realizo nos cursos consegue entender que esse é o estado ideal, mas já ouvi alguns questionarem, como se cobrassem uma reação emocional minha de sofrimento. Como se estivessem me julgando como uma pessoa fria e insensível. Nesses casos, eu dou o exemplo do médico que precisa ficar em paz para atender bem e, normalmente, o aluno entende. Imagine se a cada atendimento eu fosse sofrer junto com o aluno? Seria difícil atender bem e logo eu ficaria doente.

A valorização e enaltecimento do sofrimento estão presentes de diversas formas na nossa cultura. É preciso ficar bem atento para não nos deixarmos envolver por essa armadilha. Cada vez que entramos em sofrimento, ajudamos a fortalecer a nuvem invisível de negatividade do inconsciente coletivo, e geramos mais dor para o mundo.

Quanto mais felizes e em paz, mais deixaremos de contribuir com o sofrimento coletivo e ajudaremos a criar mais felicidade.

André Lima


EFT Practitioner, Terapeuta Holístico, Mestre de Reiki e Engenheiro.

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