quarta-feira, 29 de julho de 2015

Pare De Se Julgar






Amado Osho,
Eu estou constantemente me criticando e julgando as outras pessoas. Isso me faz sentir dividido e tenso, e eu não posso estabelecer um contato verdadeiro com as pessoas, ou a natureza. Eu quero abrir o meu coração e não sei como fazer isso. Por favor, você pode dizer algo sobre isso?







"Toda a nossa educação é tão feia, todo o nosso desenvolvimento é tão errado, que ele joga fora toda a possibilidade do seu crescimento interior e lhe dá ideias estúpidas que não têm nenhuma relevância no que tange à sua alegria, à sua compreensão e à sua maturidade.
A toda criança se diz, de mil modos, para criticar a si mesma, assim, isso não é apenas um problema seu. Se diz sempre a ela que ela está errada em tudo. Devagar, devagarinho, ela pega a doença de criticar a si mesma. E uma pessoa que se critica não pode perdoar os outros. Como você pode perdoar? - pelas mesmas razões, ela critica os outros. Toda a sua vida simplesmente se torna uma condenação - condenar-se, condenar os outros. Então, o amor se torna impossível, a amizade se torna impossível, e ela simplesmente sofre. E o que ela está criticando é tão absurdo!
(...)

Os pais vivem fazendo tudo aquilo que eles criticam na criança. E ela fica observando - e a observação dela é muito mais clara. Sua inteligência ainda está crescendo: ela pode ver que a mesma coisa pela qual ela está errada, os pais estão certos. Eles estão vendo televisão até tarde da noite - eles estão certos -, e ela deve ir dormir antes das nove horas. Pouco a pouco ela fica acostumada a essas coisas e começa a sentir: “Eu sou errada. Tudo que eu faço é errado.”.

Certa vez, eu perguntei ao meu pai: “Você me dirá uma vez, algum dia, só uma vez: ‘O que você está fazendo está certo.’? Será que você não pode ver que é impossível se fazer tudo errado durante vinte e quatro horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano... tudo errado? Se isso é verdade, eu realmente estou realizando algo miraculoso. Faça uma exceção - só uma vez, diga-me: ‘O que você está fazendo está certo.’.”.

Ele ficou chocado, porque ele compreendeu o significado do que eu estava dizendo, que é impossível que eu pudesse fazer tudo errado.

Mas os pais gostam da ideia, porque ela é muito preenchedora: é a sede de poder. Sempre que você diz “Não.” para alguém, sempre que você diz “Você está errado.” para alguém, você se sente poderoso. Alimenta o seu ego e alimenta o ego de todo mundo - dos professores, dos vizinhos. Onde quer que a criança vá, todo mundo usufrui da sede de poder, e a criança é esmagada. E quando tanta gente está dizendo que ela é errada, naturalmente, ela tem de acreditar.

Mas lembrem-se de que, como uma reação, ela começa a julgar os outros. Quando todos a estão julgando, não há nenhuma razão para que ela não julgue os outros. Você a está ensinando a julgar, a julgar a todos - e, tanto quanto possível, a julgar negativamente. Então, ela começa a julgar que os outros estão errados.

E este é o nosso mundo... onde todos estão se julgando errados e julgando aos demais como errados. Como você pode ser amoroso, amigável, confiante? Como você pode abrir o seu coração? Você ficará isolado, ficará completamente fechado, viverá em um mundo que você condena e o mundo o condenará.

Não é esta uma bela situação, mas você tem que compreender; perguntar-me “Como abrir o meu coração?” não é a pergunta verdadeira. A verdadeira pergunta é saber como você conseguiu fechá-lo.

Pare de julgar.

Seja o que for que esteja fazendo, se você gosta do que faz, faça-o. Não existe a questão do julgamento: nenhuma outra pessoa tem o direito de dizer que o que você está fazendo está errado. Se você gosta de fazê-lo, não está ferindo ninguém, não está perturbando ninguém... Mas este é um mundo esquisito...
(...)

Pouco a pouco a pessoa tem de se afirmar, deixar claro sua posição. A menos que eu passe por cima do direito de outra pessoa... - se eu estou fazendo algo de que estou gostando e que não veja ser prejudicial de modo algum, então, eu não permitirei a ninguém julgar-me, porque não se trata apenas da questão deste ato, trata-se de uma questão de toda a minha vida. “Você está me ensinando uma muito sutil doença de julgamento.” E, quando eu condeno a mim mesmo, como posso deixar alguém sem condenação?
(...)

Primeiro, naturalmente, você julga a si mesmo de todo modo. Nenhum homem é perfeito, e nenhum homem jamais pode ser perfeito - a perfeição não existe -, assim, o julgamento é muito fácil. Você é imperfeito, assim, há coisas que mostram sua imperfeição. E, depois, você fica com raiva, com raiva de si mesmo, com raiva do mundo todo: “Por que eu não sou perfeito?”.

Depois, você olha apenas com uma só ideia: descobrir imperfeições em todo mundo. E depois, você quer abrir o seu coração... - naturalmente... porque, a menos que você abra o seu coração, não há nenhuma celebração em sua vida; sua vida é quase morta. Mas você não pode fazê-lo diretamente: você terá de destruir toda essa educação, desde suas verdadeiras raízes.

Assim, a primeira coisa é esta: pare de se julgar. Ao invés de julgar, comece a aceitar-se com todas as suas imperfeições, todas as suas debilidades, todos os seus erros, todos os seus fracassos. Não peça a si mesmo para ser perfeito - isso é, simplesmente, pedir pelo impossível e, depois, você se sentirá frustrado. Você é um ser humano, afinal de contas.

Olhe para os animais, para os pássaros; nenhum deles está preocupado, nenhum deles está triste, nenhum deles está frustrado. Você não vê um búfalo dando fricote. Ele está perfeitamente contente, mascando a mesma grama todos os dias. Ele é quase iluminado. Não há nenhuma tensão: há um tremenda harmonia com a natureza, com ele mesmo, com tudo como é. Os búfalos não criam partidos para revolucionar o mundo, para tornar os búfalos em superbúfalos, para tornar os búfalos religiosos, virtuosos. Nenhum animal está interessado nas ideias humanas.

E eles todos devem estar rindo: “O que aconteceu a vocês? Por que você não pode ser apenas você mesmo, como você é? Qual é a necessidade de ser uma outra pessoa?”.

Assim, a primeira coisa é uma profunda aceitação de você mesmo.
(...)

Quando você diz que você se julga, isso é algo tomado emprestado. As pessoas julgaram-no, e você deve ter aceito as ideias delas sem nenhuma investigação. Você está sofrendo de todas as espécies de julgamento das pessoas, e você está jogando esses julgamentos nas outras pessoas. E todo esse jogo desenvolveu-se além da proporção - a humanidade inteira está sofrendo disso.

Se você quiser livra-se disso, a primeira coisa é esta: não se julgue. Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas faltas. Não há nenhuma necessidade de fingir outra coisa. Seja você mesmo: “É assim mesmo que eu sou, cheio de medo. Eu não posso andar na noite escura, não posso ir lá na densa floresta.”. O que há de errado nisso? - é humano.

Uma vez que você se aceite, você será capaz de aceitar os outros, porque você terá um clara visão interior de que eles estão sofrendo da mesma doença. E a sua aceitação deles, os ajudará a aceitarem-se.

Nós podemos reverter todo o processo: aceite-se. Isso o torna capaz de aceitar os outros. E porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira vez - quanta tranquilidade se sente! - e eles começam a aceitar os outros.

Se a humanidade inteira chegar ao ponto onde todo mundo é aceito como é, quase noventa por cento da infelicidade simplesmente desaparecerá - ela não tem fundamentos - e os seus corações se abrirão por conta própria e o seu amor estará fluindo.

Neste exato momento, como você pode amar? Quando você vê tantos erros, tantas fraquezas... - como você pode amar? Você quer alguém perfeito. Ninguém é perfeito, assim, você tem de aceitar um estado de não-amor, ou aceitar que não importa se alguém não é perfeito. O amor pode ser compartilhado, compartilhado com todas as espécies de pessoas. Não faça exigências.

O julgamento é feio - ele fere as pessoas. Por um lado, você vai machucando, ferindo-as; e por outro lado, você quer o amor delas, seu respeito. Isso é impossível.

Ame-as, aceite-as e, talvez, seu amor e respeito possa ajudá-las a mudar muitas de suas fraquezas, muitas de suas falhas - porque o amor lhes dará uma nova energia, um novo significado, uma nova força. O amor lhes dará novas raízes para se erguerem contra os ventos fortes, um sol quente, a chuva forte.

Se apenas uma única pessoa o ama, isso o faz tão forte, que você nem pode imaginar. Mas, se ninguém o ama neste vasto mundo, você fica simplesmente isolado; então, você pensa que é livre, mas você está vivendo numa cela isolada em uma cadeia. É que a cela isolada é invisível; você a carrega consigo.

O coração abrirá por si mesmo. Não se preocupe com o coração. Faça o trabalho preparatório.

OSHO, The Transmission of the Lamp, # 1



Fonte: Osho Sukul

Um comentário: