domingo, 11 de março de 2012

Desejo Versus Necessidade





Solução: percepção sem escolha.

"Tem de ser assim." Quantas vezes você ouviu essas palavras ou as disse a si mesmo?

A vida nos apresenta impasses. Queremos fazer algo, mas o caminho está impedido.

Talvez alguém, com um ego inflado, diga: "Ou é do meu jeito, ou não terá jeito".






Mais frequentemente, duas pessoas se veem paralisadas, porque não conseguem se comunicar. Em um extremo, está a compulsão física, tal como as fobias ("Tenho medo de fa­zer X") e as obsessões ("Não consigo parar de pensar em Y").

Parecem ser situações muito diferentes. Um marido que se recusa a ir a um terapeuta conjugal obviamente não parece semelhante a alguém que tem fobia de altura, ou a uma pessoa obsessivo-compulsiva que lava as mãos a cada vinte minutos. Mas há um denominador comum. Cada um deles está encur­ralado entre o desejo e a necessidade.

O resultado também é o mesmo: eles já não são livres para escolher.Uma energia infinita é desperdiçada na tentativa de ultrapassar um impasse. Recorremos a mediadores, negociadores e juízes para decidir disputas, no entanto, o lado que perde sempre se sente prejudicado.

O conflito pode ser resolvido na superfície, mas não abaixo dela. Frequentamos médicos e tera­peutas na esperança de que algumas doenças possam ser diag­nosticadas e tratadas. Nesse caso, ao menos, existe a chance de olhar mais profundamente. No entanto, o diagnóstico é em geral muito mais fácil de encontrar que o tratamento.

O Prozac e os antidepressivos semelhantes já provaram ser eficazes em conter os sintomas de TOC (transtorno obsessivo-compul­sivo), mas não na verdadeira cura da condição encoberta que volta se o paciente parar com a medicação.

Contudo, não importa quanto você seja diplomático, o conflito entre o desejo e a necessidade não pode ser totalmente resolvido. A vida em si apresenta situações em que você não consegue obter o que quer. Nem todo mundo se casa com o homem ou a mulher de seus sonhos. O fracasso profissional é sempre uma possibilidade. Ganhar fica fora do alcance.

Para um pessimista há mais frustrações que satisfações inerentes à vida. Os sábios e guias de todas as tradições já viram que o desejo é frequentemente bloqueado.Então, é surpreenden­te que a tradição védica, da Índia, mal mencione resignação, paciência e sacrifício pessoal como virtudes.

Em vez disso, a sabedoria mais profunda da Índia ensina que há um estado conhecido como "Percepção sem escolha". À primeira vista, parece sinônimo de "desistir". Você não faz uma escolha; abre mão de escolher um lado. Precisamos ser claros: a percepção sem escolha não tem a ver com abrir mão daquilo que se quer. Tem a ver com deixar de ser leal ao que o ego quer em detrimento do que o universo quer.

Com a percepção sem escolha, você deixa sua consciência tomar todas as decisões. Em outras palavras, aquilo que você quer também é a melhor coisa que pode querer. Em tal esta­do de consciência, segundo os antigos rishis, não há resistência nem de dentro, nem de fora. É uma condição bem fluídica.

Para a pessoa comum na Índia, estar no darma significa ter encontrado o trabalho certo e conseguir fazer a coisa correta com seu comportamento. Darma é uma virtude ou um modo correto de viver. Em nível mais profundo, estar no darma sig­nifica que, espiritualmente, você está no caminho certo. Está seguindo os preceitos de sua religião e não está caindo em ar­madilhas ao longo do caminho.

Mas nenhum desses estados resolve o conflito entre "eu quero" e "eu preciso". O desejo e a necessidade continuam em guerra. Pode-se dizer que as pessoas retas se veem muito mais presas aos deveres e às obrigações que as pessoas comuns, já que todo tipo de religião faz muitas exigências na tentativa de restringir todo tipo de desejo.

Somente a percepção sem escolha leva ao fim do conflito, porque, quando você chega a esse nível de consciência, o que você quer é aquilo de que precisa, para seu bem e o bem do mundo inteiro. Nesse estado de consciência, ninguém precisa lhe dizer quais são as regras do darma. Em vez disso, você assimilou o darma — você, de fato, vive o axioma "Não estou no mundo, o mundo está em mim".

Manter tal estado exige crescimento pessoal dedicado, mas todos já passaram por momentos como os seguintes:

· Você fica descontraído.
· Há ausência de culpa e julgamento próprio.
· Você experimenta uma sensação de retidão.
· As condições externas não o bloqueiam.
· Outras pessoas colaboram sem oferecer resistência.
· Os frutos de suas ações são positivos.
· O desejo termina em um sentimento de realização e satisfação.

Como você pode ver, essa é uma combinação especial de ingre­dientes. No entanto, quando alinha a força do darma, este é seu estado normal. Não é o bastante simplesmente obter o que se quer. Muita gente, com dinheiro e poder suficientes, pode sa­tisfazer qualquer capricho sem muito esforço.

Mas sentir-se satisfeito e realizado é muito mais raro e, frequentemente, o exercício do poder e do dinheiro apenas inflama os desejos da pessoa, levando a insatisfações mais profundas. Você não pode satisfazer seu ego dando-lhe tudo o que ele quer, pois a única razão da existência do ego é acumular.

Ele quer mais dinheiro, posses, status, amor, poder, e assim por diante. O mecanismo é conservado intocável; ele funciona através de uma programação impossível de ser reescrita. Os desejos do ego são superficiais. Seu verdadeiro self é isento de ego. Você não está objetivando o ganho; não teme a perda. Quando dá de si mesmo, não está secretamente calculando o que terá em retorno.

Somos afortunados por haver outra forma de ver o mundo, não da perspectiva do ego, mas além dele, onde a plenitude existe. Conforme o domínio do ego vai enfraquecendo, ocorre uma fusão sutil do "eu quero e do "eu preciso". Agir como o darma — o desejo de Deus, o desejo do Eu Superior — o faria agir de maneira totalmente natural. Você está simplesmente sendo você mesmo.
Deepak Chopra




Fonte: Extraído do Livro "O Efeito Sombra"

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