quinta-feira, 8 de março de 2012

O Elo Entre Crença e Biologia






Embora a consciência seja programada de inúmeras formas, a mais convincente é a que chamamos de crenças. Uma crença é algo a que você se aferra porque pensa que é verdade. Mas, ao contrário de um pensamento, que forma ativamente palavras ou imagens no seu cérebro, a crença geralmente é silenciosa.








A pessoa que sofre de claustrofobia não precisa pensar, "Esta sala é pequena demais", ou "Tem gente demais aqui dentro". Posta dentro de uma sala pequena e apinhada de gente, seu corpo reage automaticamente.

Em algum ponto de sua consciência existe uma crença oculta que gera todos os sintomas físicos do medo sem que seja preciso pensar nisso. O fluxo de adrenalina que faz com que seu coração dispare, molha de suor a palma de suas mãos, torna sua respiração ofegante e causa tonteira é deflagrado a um nível mais profundo da mente pensante.

As pessoas que têm fobias lutam desesperadamente para conseguir pensamentos que diminuam o medo que sentem, mas tudo é em vão. O hábito do medo mergulhou tão fundo que o corpo se lembra de obedecer a ele, mesmo quando a mente resiste com todas as suas forças.

Os pensamentos dos claustrofóbicos: "Não há razão para sentir medo"; "Aposentos pequenos não são perigosos"; "Todas as outras pessoas parecem perfeitamente normais, por que não consigo vencer este problema?" — são objeções racionais, mas o corpo age obedecendo a comandos que atropelam os pensamentos.

Nossas crenças quanto ao envelhecimento têm exatamente esse mesmo poder sobre nós. Aqui vai um exemplo: nos últimos vinte anos os gerontologistas realizaram experiências no sentido de provar que "permanecer" ativo toda a vida, inclusive aos setenta e tantos anos, faz cessar a perda de músculo e de tecido ósseos.

A notícia espalhou-se entre os aposentados, que deveriam continuar a caminhar, correr, nadar e fazer seus trabalhos domésticos; sob o slogan "Use-o ou perca-o", milhões de pessoas esperam agora permanecer fortes quando tiverem uma idade avançada. Com esta nova crença instalada, aconteceu algo que antigamente pareceria impossível.

Audaciosos gerontologistas da Tufts University visitaram um asilo, selecionaram um grupo dos residentes mais frágeis e os puseram num regime de exercícios com pesos. Seria o caso de se temer que o exercício assim introduzido subitamente seria capaz de tornar exaustas ou mesmo matar aquelas pessoas, mas na verdade deu-se o contrário.

No espaço de oito semanas a massa muscular teve um aumento de 300%, a
coordenação e o equilíbrio melhoraram, e, acima de tudo, foi recuperado o sentido da vida ativa. Algumas das pessoas submetidas à experiência voltaram a poder se levantar sozinhas para ir ao banheiro de noite, um ato de dignidade pessoal importantíssimo. O que torna estas realizações realmente espantosas, contudo, é que a pessoa mais jovem do grupo tinha 87 anos e a mais velha 96.

Estes resultados sempre foram possíveis; nada de novo foi acrescentado à capacidade do corpo humano. Tudo o que aconteceu foi que uma crença foi alterada, e quando isto aconteceu, o processo de envelhecimento também se alterou. Se você está com 96 anos e tem medo de movimentar seu corpo, ele irá se consumir.

Para entrar numa sala de musculação nessa idade é preciso crer que aquilo fará bem ao seu corpo; você tem que estar livre de medos; tem que acreditar em si próprio. Quando digo que o envelhecimento é resultado de uma crença, não estou sugerindo que seja possível livrar-se dele simplesmente através do pensamento. É exatamente o contrário — quanto mais forte a crença, mais enraizada no corpo ela será e mais imune ao nosso controle consciente.

De acordo com o sistema de crenças a que você e eu aderimos, a natureza nos prendeu em corpos que envelhecem contra a nossa vontade. A tradição do envelhecimento remonta aos primórdios da história registrada e mesmo à pré-história.Animais e plantas envelhecem, cumprindo uma lei universal da natureza.

É difícil crer que o envelhecimento seja o resultado de um comportamento aprendido, pois a biologia não pode ser negada.No entanto, a crença essencial de que o envelhecimento é um processo fixo e mecânico — algo que simplesmente nos acontece — é apenas uma crença. Como tal, ela nos cega para todos os tipos de fatos que não se ajustam ao sistema de crenças ao qual nos agarramos.

Quantas das afirmações seguintes você acredita que sejam fatos?

a) Envelhecer é natural — todos os organismos envelhecem e morrem.

b) Envelhecer é inevitável — não pode ser impedido.

c) Envelhecer é normal — afeta todo mundo mais ou menos da mesma forma.

d) Envelhecer é genético — provavelmente viverei tanto quanto meus pais e avós.

e) Envelhecer é doloroso — causa sofrimento físico e mental.

f) Envelhecimento é universal — a lei da entropia faz com que todos os sistemas organizados se desgastem e entrem em declínio.

g) Envelhecimento é fatal — todos nós envelhecemos e morremos.

Se você aceitar como fato qualquer uma ou todas as afirmações acima, é sinal de que está sob a influência de crenças que não se coadunam com a realidade. Cada uma delas contém uma pequena verdade objetiva, mas que também pode ser refutada.

a) O envelhecimento é natural, mas há organismos que nunca envelhecem, tais como as amebas unicelulares, as algas e os protozoários. Há partes suas também que não envelhecem — suas emoções, seu ego, tipo de personalidade, QI e outras características mentais, por exemplo, assim como vastas porções do seu DNA. Fisicamente, não faz sentido dizer que a água e os minerais existentes no seu corpo estão envelhecendo,pois o que são "água velha" ou "sal velho"? Somente estes componentes constituem 70% do seu corpo.

b) O envelhecimento é inevitável, mas a abelha, em certas épocas do ano, é capaz de mudar seus hormônios e reverter por completo sua idade. No corpo humano as modificações nos hormônios podem não ser tão dramáticas, mas há amplitude suficiente para que em um determinado dia seu perfil hormonal possa ser mais jovem do que no dia, mês ou ano anterior.

c) O envelhecimento é normal; não há, contudo, uma curva de envelhecimento que possa ser aplicada a todas as pessoas. Há quem escape inteiramente de certos sintomas da idade, enquanto que há também quem seja vítima deles muito tempo antes da velhice se instalar.

d) O envelhecimento tem um componente genético que afeta a todos, mas não ao grau que se costuma supor. Ter pais que viveram além dos 80 anos acrescenta apenas cerca de três anos à expectativa de vida de uma criança; menos de 5% da população tem genes tão bons ou tão ruins que tornem significativamente mais longa ou mais curta a sua vida. Por comparação, ao adotar um estilo de vida saudável, pode-se retardar os sintomas do envelhecimento em até trinta anos.

e) O envelhecimento muitas vezes é doloroso, tanto física quanto mentalmente, mas isto é o resultado não do envelhecimento em si, e sim das muitas enfermidades que acometem os idosos; um grande número dessas enfermidades pode ser evitado.

f) O envelhecimento parece ser universal, porque todos os sistemas organizados se desgastam com o tempo, mas nossos corpos resistem a esse desgaste extremamente bem. Sem influências negativas internas ou externas nossos tecidos e órgãos poderiam facilmente durar de 115 a 130 anos antes que a idade, e somente a idade, fizesse com que parassem de funcionar.

g) Finalmente, o envelhecimento é fatal, porque todo mundo tem que morrer, mas na vasta maioria dos casos, talvez tanto quanto 99%, a causa da morte não é idade avançada e sim câncer, ataque do coração, derrame, pneumonia e outras enfermidades.

E extremamente difícil determinar como seria observar o corpo envelhecendo por si só. Dois carros deixados ao relento irão enferrujar aproximadamente na mesma proporção; o processo de oxidação ataca a ambos por igual, transformando seu aço e ferro em oxido de ferro de acordo com uma lei da química facilmente explicada.

O processo de envelhecimento não obedece a leis tão simples assim. Para alguns de nós ele é constante, uniforme e lento, como uma tartaruga se arrastando para o seu destino. Para outros, envelhecer é como se aproximar de um penhasco — há um longo e seguro platô de saúde, seguido por acentuado declínio no último ano ou nos últimos dois anos da vida.

E ainda para outros, a maior parte do corpo permanecerá saudável, exceto por um elo mais fraco, como, por exemplo, o coração, que falha muito mais rápido do que outros órgãos. Seria preciso acompanhai" uma pessoa pela maior parte da sua vida adulta para descobrir como ela estaria envelhecendo, e aí então seria tarde demais.

O fato de o envelhecimento ser tão subjetivo resultou frustrante para a medicina, que considera extremamente difícil diagnosticar e tratar muitas das doenças mais importantes associadas à idade avançada.

Duas jovens podem ingerir a mesma quantidade de cálcio, exibir níveis hormonais igualmente saudáveis, e, ainda assim, só uma delas apresentar um quadro de osteoporose incapacitante após a menopausa. Irmãos gêmeos com genes idênticos podem passar pela vida com quadros clínicos notavelmente parecidos e, no entanto, apenas um deles acabar desenvolvendo o mal de Alzheimer, artrite ou câncer.

Duas das condições clínicas mais comuns na idade avançada, pressão arterial e nível de colesterol altos, são igualmente imprevisíveis. O corpo que envelhece se recusa a se comportar de acordo com leis e regras mecânicas.Após décadas de intensa investigação, não existe uma teoria adequada acerca do envelhecimento humano.

 Mesmo as nossas tentativas de explicar como os animais envelhecem resultaram em mais de trezentas teorias diferentes, muitas das quais contraditórias. Nossos conceitos de envelhecimento têm sido drasticamente modificados no decorrer das duas últimas décadas.

No início dos anos 70, os médicos começaram a notar pacientes de 60 e 70 anos cujos corpos ainda funcionavam com o vigor e a saúde da meia-idade. Essas pessoas se alimentavam moderadamente e cuidavam dos seus corpos. A maioria não fumava, tendo abandonado o vício algum tempo depois das primeiras advertências médicas sobre os riscos de câncer de pulmão, no início dos anos 60.

Nunca tinham sofrido ataques do coração. Embora exibissem alguns dos sinais aceitos da velhice— pressão arterial e colesterol elevados e tendência à obesidade, vista cansada e audição reduzida — não havia nada de senil naquela gente. A "nova velhice" — como veio a ser chamada — havia nascido.

A "velha velhice" fora marcada por declínios irreversíveis em todas as frentes — física, mental e social. Por séculos e séculos as pessoas esperavam atingir a idade avançada — se é que viessem a atingir — frágeis, esclerosadas, socialmente inúteis, doentes e pobres. Para reforçar esta perspectiva melancólica, havia fatos igualmente melancólicos: apenas uma de cada dez pessoas vivia até os 65 anos antes deste século.

Por muito tempo no passado, o corpo humano viu-se exposto à influência mortal de um meio ambiente extremamente hostil: nutrição inadequada, uma vida inteira voltada para o trabalho braçal e incontroláveis epidemias criavam condições que aceleravam o envelhecimento.

Faça uma consulta aos documentos relativos aos imigrantes que passaram pela Ilha Ellis na virada do século; algumas das fotografias o horrorizarão. Os rostos de mulheres de 40 anos pareciam desfigurados e tensos, literalmente como se tivessem 70 anos — e uns 70 anos bem velhos, por sinal.

Garotos adolescentes pareciam homens de meia-idade bastante maltratados. Sob o bisturi de um cirurgião seus corações, pulmões, rins e fígados teriam parecido idênticos aos de um homem contemporâneo com duas vezes a sua idade. Envelhecer é a reação do corpo a condições impostas sobre ele, tanto de fora quanto de dentro.

As dunas de areia da idade mudam de lugar sob os nossos pés, adapitando-se ao modo como vivemos e a quem nós somos. A nova velhice entrou em cena após mais de meio século de condições de vida melhorada e intenso progresso da ciência médica. A expectativa de vida média americana de 49 anos em 1900 saltou para 75 anos em 1990.

Colocando este significativo aumento sob uma perspectiva adequada, o tempo de vida que ganhamos em menos de um século é o mesmo que as pessoas tiveram como o total de sua existência durante mais de quatro mil anos: dos tempos pré-históricos ao alvorecer da Revolução Industrial, o tempo médio de vida permaneceu abaixo de 45 anos. Somente 10% da população em geral chegavam aos 65, mas hoje 80% vivem por tanto tempo.

Deepak Chopra




Fonte: Extraído do Livro "Corpo sem Idade, Mente sem Fronteiras"

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