sexta-feira, 30 de março de 2012

Um Versus Muitos






Solução: render-se ao ser.

Finalmente, chegamos à guerra em sua alma. Nesse nível, o conflito é muito sutil, o que parece estranho, porque tendemos a pensar que a batalha cósmica entre Deus e Satã tem de ser titânica. Na verdade, é muito delicada. Ao se aproximar de seu verdadeiro self (sí mesmo), você começará a sentir que é parte de tudo.







As fronteiras se suavizam e desaparecem. Há uma sen­sação de alegria na fusão. Por mais bonita que essa experiên­cia seja, uma última resistência permanece.

O ego diz; "E eu? Eu não quero morrer", como a bruxa malvada em O mágico de Oz, cujas últimas palavras foram: "Estou derretendo! Es­tou derretendo!" O ego foi incrivelmente útil. Ele o guiou por um mundo de infinita diversidade.

Agora você está pres­tes a experimentar a unidade. Não admira que o ego se sinta fatalmente ameaçado; ele vê sua inutilidade (e seu domínio) chegando ao fim. O ego confunde a rendição com a morte. Ser pleno implica render-se.

Você abre mão da forma como vê a si mesmo e surge um novo caminho no lugar. "Rendição" não é uma palavra bem-vinda ao ego, porque conota fracasso, perda de controle, passividade, fim do poder.

Quando você perde uma discussão, não está se rendendo ao vencedor? É claro. Qualquer situação expressa em termos de ganhar ou perder faz a rendição pare­cer fraca, vergonhosa, depressiva e indigna.

No entanto, todas estas são sensações no nível do ego. Vista sem o ego, a rendição se torna natural e desejável. Uma mãe que dá aos filhos o que eles precisam não está perdendo, mesmo que se possa dizer que ela está abrindo mão de suas necessidades em favor dos filhos. Essa seria uma perspectiva falsa.

Quando você se doa por amor, não perde nada. Na verdade, a rendição amorosa é como um ganho. Seu senso de self se expande além das neces­sidades movidas pelo ego e pelos desejos — estas jamais podem conduzir ao amor.

A rendição não é da mente. Você não pode imaginar seu caminho até lá. Em vez disso, tem de seguir a jornada rumo à consciência pura, antes que surjam palavras e pensamentos. Este é todo o propósito da meditação, levar a pessoa além da mente pensante, o que significa além do conflito.

Nos dias de hoje, é fácil acreditar que todos saibam como meditar. Se tentou meditar, mas depois abandonou a prática, sugiro que volte a fazê-lo. Nem todas as meditações são feitas da mesma ma­neira. Talvez você tenha sido ensinado a meditar como uma forma de relaxamento ou liberação do estresse, ou um cami­nho ao silêncio.

Todas essas alternativas são resultados reais, mas objetivam muito pouco. O efeito mais profundo da medi­tação é transformar seu estado de consciência. Se você não está se expandindo consciencialmente, o verdadeiro propósito de se voltar para dentro não foi atingido.

Isso não significa rotular nenhum tipo de meditação como errado. Mas tem de haver uma equidade que seja adequada a você. Já vi pessoas evoluírem rapidamente praticando uma simples meditação cardíaca, na qual se sentam, em silêncio, e direcionam a atenção ao coração; e outras se beneficiarem pelo acompanhamento dos movimentos respiratórios de olhos fe­chados.

Acaba-se experimentando inteiramente o verdadeiro self — algo que pode ser alcançado pela meditação com mantras, originada na índia védica, ou com as técnicas de meditação vipassana, do budismo, para mencionar apenas dois métodos comprovados. O que quer que você faça, permaneça desperto à sua visão da plenitude.

Você não quer transformar a medi­tação em outro tipo de condicionamento, em que sua mente se convence de ser pacífica, ou de ter encontrado o silêncio, quando ambos são apenas um estado de humor ou um hábito.

(Com sua típica franqueza, Krishnamurti alertou que a pior coisa que um caminho espiritual pode fazer é trazer aquilo que você espera. Em vez de alcançar a verdade, o caminho apenas o transforma em uma versão antiga, porém "melhora­da" de seu self, sentindo-se e parecendo melhor.)

Na sombra há algo de negação, resistência, medos ocultos e esperanças reprimidas. Sendo assim, se a meditação está dan­do certo, esses sentimentos começam a diminuir. Em seu cami­nho espiritual, você deve começar a experimentar o seguinte:

· A vida fica mais fácil, destituída de esforço.

· Você age de maneira mais espontânea.

· O mundo já não traz reflexos negativos.

· Seus desejos são realizados com mais facilidade.

· Você encontra felicidade na simples existência. Estar aqui é o suficiente.

· Você ganha percepção própria sabendo quem realmente é.

· Sente-se incluído na plenitude da vida.

Se esses objetivos parecem ideais, também são nobres e totalmente alcançáveis. Na verdade, se os meses se passarem e você não sentir nada disso acontecendo, é preciso voltar a exa­minar seu caminho. Não estou querendo dizer que sua prática esteja errada ou defeituosa.

Há pausas e atrasos na evolução pessoal de cada um, porque algumas questões levam tempo para ser resolvidas. Boa parte desse processo ocorre nas pro­fundezas do inconsciente. Artistas são muito cônscios disso; a inspiração deles não reage segundo um cronograma.

Por outro lado, pode haver sérias razões para que o verdadeiro self não esteja se revelando:

· Estresse excessivo.

· Pressões emocionais.

· Distrações.

· Depressão e ansiedade.

· Falta de disciplina ou comprometimento.

· Intenções opostas — a busca de mais de um meio de vida.

O caminho espiritual apresenta tudo; ele pode resolver to­dos os conflitos. Mas esperamos demais dele quando pedimos uma panaceia. O desenrolar espiritual é delicado. Não pode ser alcançado quando a mente está agitada demais ou sua aten­ção está comprometida pelo estresse e pressões externas.

Em outras palavras, a plenitude cura tudo, mas não em um instante. Você precisa preparar as condições certas para se voltar para dentro. Para isso, é preciso lidar com cada um dos obstáculos que listei. Estresse, depressão, ansiedade e distrações não vão subitamente terminar porque você sentou de olhos fechados durante meia hora.

Espero que não soe áspero demais, porque, na verdade, quando você dá até mesmo pequenos passos para se preparar para a meditação, isso permite resultados que não podem ser obtidos de nenhuma outra forma. Essa é a estrada real para a consciência e a consciência é plena.
Deepak Chopra




Fonte: Extraído do Livro "O Efeito Sombra"

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