O sono é um processo totalmente natural, absolutamente necessário e, ainda assim, cheio de mistérios. Apenas recentemente os aspectos mais básicos do sono começaram a ser pesquisados. Ainda não sabemos por que ele existe e como restaura mente e corpo. Sabe-se que homens e mulheres dormem o mesmo número de horas.
A maioria das pessoas, mais ou menos 60 por cento, dorme de seis a oito horas por dia; 36 por cento dormem mais de oito horas, e menos de 4 por cento dormem menos de seis horas. Não se conhece ninguém que simplesmente não durma, e poucos conseguem alterar os períodos naturais de sono pelo esforço consciente.
Em um estudo que envolveu milhares de pessoas, aproximadamente 57 por cento (entre homens e mulheres) disseram que se sentiam refeitos depois de uma noite de sono, o que significa que o mesmo não acontecia com muita gente.
Entre os que sofriam de insônia, a proporção de homens em relação às mulheres revela a primeira diferença significativa: para cada duas mulheres que haviam perdido pelo menos uma noite inteira de sono, apenas um homem relatava o mesmo problema. As mulheres também tomam mais remédios para dormir.
Os fisiologistas descobriram dois estágios de sono entre os mamíferos, inclusive os humanos. O primeiro é o sono rápido, ou REM (rapid eye movement: movimento rápido dos olhos), e o segundo, o sono lento, ou não-REM. Dentro desses estágios, entretanto, há vários níveis de profundidade e inconsciência.
A fase REM já foi muito pesquisada e comentada porque é nela que ocorrem os sonhos. Acredita-se que o estágio REM é o responsável pelos efeitos restauradores do sono. Hoje em dia já se sabe que precisamos dormir e sonhar para acordar bem no dia seguinte.
Embora algumas pessoas, especialmente os insones crônicos, digam que nunca dormem nem sonham, isso não é verdade. A falta de sono e sonhos rapidamente produz disfunções cerebrais.
A alternância dos estados de sono e vigília nos iguala a todas as espécies vivas. Na verdade, a fase REM foi descoberta em pássaros, répteis e peixes, e determina o ponto em que se encontra a espécie na escala evolutiva.
Funções fisiológicas como o sono mostram que nosso sistema nervoso central se interliga com os atributos vitais primários da natureza. O ciclo sono-sonhos-vigília nos une a todos os seres do universo.O padrão de sono dos seres humanos varia ao longo do tempo.
Desde as primeiras semanas de vida, dormimos mais durante a noite. Na terceira idade, entretanto, esse padrão se altera. Os velhos relatam que não apenas dormem menos — às vezes cinco ou seis horas — mas também passam a acordar durante a noite e tirar cochilos durante o dia.
Os pesquisadores que tentam desvendar o funcionamento do sono especulam que o cansaço diário produz uma substância chamada hipnotoxina, que ativa a formação reticular do cérebro e induz o sono. O sono não é apenas um estado de consciência, mas um processo de alteração da química do organismo.
Quando retiramos o líquido raquidiano de um gato adormecido, por exemplo, e o injetamos na espinha de um animal acordado, este cai no sono imediatamente. Do mesmo modo, nós acordamos quando o cérebro libera as substâncias químicas necessárias para combater aquelas que nos mantêm dormindo.
Permitir que esses processos biológicos ocorram naturalmente e de acordo com nosso próprio ritmo é uma atitude importante para a saúde perfeita. A privação do sono conduz rapidamente à perda do bem-estar. Quando privadas de sono por poucos dias, as cobaias de laboratório morrem. Nos seres humanos, a falta de sono produz fadiga, irritabilidade e perda de concentração.
Em pouco tempo, leva a desorientação mental, delírios, alucinações e falhas de coordenação motora. Em estágios posteriores, a ausência de sono cria os desconfortáveis sintomas de verdadeiras doenças neurológicas, como fraqueza muscular, distúrbios visuais e fala ininteligível.
Se levarmos em conta os números da indústria farmacêutica, um quarto dos americanos adultos precisa de remédio para dormir. No tratamento da insônia, os médicos prescrevem hipnóticos e sedativos, as drogas mais receitadas. No entanto, as manifestações mais comuns de insônia não têm origem de ordem física.
Elas podem aparecer em decorrência de dor, de certas doenças orgânicas e do uso de medicamentos, mas as causas mais comuns são nervosismo, preocupação e ansiedade. Frequentemente, ela acompanha problemas psicológicos mais sérios (por exemplo, psicose maníaco-depressiva ou depressão), nos quais a quantidade e a qualidade do sono ficam seriamente comprometidas.
Quando falamos em baixa qualidade de sono queremos dizer que todos os seus estágios são subaproveitados, especialmente o REM. Entre outros sintomas, alguns pacientes deprimidos, apesar de não terem dificuldade para conciliar o sono, acordam no meio da madrugada e não conseguem dormir de novo.
Muitas pessoas ansiosas também percebem que acordam repentinamente, mergulhando de pronto em pensamentos perturbadores. A pesquisa da bioquímica e do funcionamento do cérebro também se voltou para a descoberta de drogas que induzem o sono. Elas variam de compostos simples e relativamente inócuos vendidos sem receita médica a substâncias mais eficazes (e que produzem dependência) como os barbitúricos e os benzodiazepínicos.
Todos os remédios para a insônia possuem um inconveniente em comum: depois de um tempo o paciente desenvolve tolerância ao medicamento, e ele deixa de funcionar. As pessoas que recorrem a eles constantemente precisam de doses cada vez maiores. Essas drogas também não propiciam boa qualidade de sono, pois interferem nas fases REM.
O estupor provocado pela ingestão de grande quantidade de álcool se assemelha ao sono, mas também priva o indivíduo dos estágios REM. A baixa qualidade do sono induzido pelas drogas é atestada pelos pacientes quando eles se queixam de ressaca matinal, fadiga, prisão de ventre, perda de energia e apetite sexual e incapacidade de se recuperar rapidamente de doenças.
Quando o uso dessas drogas é interrompido, alguns pacientes têm delírios e alucinações. Parece claro, assim, que a busca de uma solução farmacológica é um equívoco. Não é preciso mais que bom senso para perceber que são nossos pensamentos que nos impedem de dormir.
Preocupação e ansiedade não passam de pensamentos negativos em relação a algo que já aconteceu ou que está para acontecer (mas que em geral não acontece). É claro que, às vezes, deixamos de dormir devido a pensamentos alegres ou à expectativa de algo bom. Entretanto, esse tipo de insônia não nos incomoda, pois quando o sono vem ele é restaurador.
A boa saúde é indicada pelo sono tranquilo, e a qualidade do sono revela o estado físico e mental da pessoa. Criaturas felizes, satisfeitas e amorosas não sofrem de insônia. Ninguém precisa da ciência para verificar esse fato que a humanidade conhece há muito tempo.
Os distúrbios do sono são praticamente inexistentes em crianças (a menos que elas tenham uma doença dolorosa ou perturbações mentais de fato). As crianças dormem bem porque são inocentes.
Se quisermos tratar os problemas de sono dos adultos de forma bem-sucedida, devemos começar pelos padrões de pensamento que interferem naquilo que deveria ser totalmente automático e livre de preocupações. Vamos encontrar as respostas no fundo da mente, na fonte do pensamento.
Deepak Chopra
Fonte: Extraído do Livro "Conexão Saúde"