sábado, 26 de janeiro de 2013

Suprema Sabedoria






Desenvolvendo a Moralidade e a cultura mental, pela concentração e Plena Atenção, a Sabedoria fica estabelecida.






Esta sabedoria não é apenas uma sabedoria intuitiva por compreensão natural, mas uma Sabedoria baseada na visão interior e no autoconhecimento; é o terceiro e último estágio da Percepção Espiritual, a mais alta virtude; é traduzida do termo sânscrito Prajna, ou Panna em páli.

Não é com a mente aquisitiva e possessiva, acumulação de conhecimentos intelectuais, que se chega à Sabedoria. A mente aquisitiva aumenta a erudição, mas a Sabedoria não é erudição. Pode-se ser erudito e não sábio, e sábio sem ser erudito.

Nossa mente, através dos tempos, adquiriu grande experiência em defender e proteger o eu, criando um sistema de segurança em todos os setores de nossa atividade: física, material, econômica, afetiva e intelectual, através de nossos apegos a conceitos, credos, teorias, sistemas filosóficos etc. 

Essas acumulações nada significam, são limitações do nosso pensamento vinculado a condicionamentos. É imprescindível que a mente possa receber o novo, o desconhecido, sem pretender amoldá-lo, ajustá-lo aos condicionamentos do passado.

O apego às acumulações do passado, significa condicionamento ao tempo, e jamais, dentro do tempo, se poderá compreender o Eterno (Incondicionado). Só quando a mente se libertar de toda e qualquer acumulação do passado, o pensamento poderá ser criador, capaz de reto pensar e chegar à Sabedoria.

Pela ignorância, a ideia de apego surge no homem comum não esclarecido, porque o ego, pela insatisfatoriedade, tende sempre a se preencher, se completar e se expandir. Assim, preenchemos e completamos nosso ego psicologicamente pela esposa, filhos (os filhos pelos pais), amigos, pelo clube a que pertencemos, pelo país em que vivemos etc.

Todos nós nos completamos psicologicamente porque somos dependentes uns dos outros. Porém esta união, que nos completa, que nos traz felicidade, é algo muito precário. Pela natureza impermanente desta existência, não se pode manter esta união e felicidade indefinidamente, mais cedo ou mais tarde há uma separação inevitável e isto é sofrimento.

Porém, quando, pelo autoconhecimento e progresso espiritual, vamos compreendendo gradativamente as Quatro Nobres Verdades, os fenômenos que caracterizam a existência (Impermanência, Insatisfatoriedade e Impessoalidade), o que é a Sabedoria, então não vamos mais nos completar psicologicamente.

Continuaremos a amar os outros de uma maneira mais correta, e o apego irá se manifestando cada vez mais fracamente.

O amor no homem comum está sempre ligado ao apego, há sempre a idéia de propriedade: "meu filho", "meu marido", "minha esposa", "meu pai", etc. Este amor é inseparável do apego.

Quando, pelo desenvolvimento da Sabedoria, vamos ganhando essa capacidade de amar sem nos apegar, há verdadeira felicidade, porque amamos sem nos escravizar aos outros e às coisas. Gradativamente, nos tornamos a nossa própria lanterna, não mais dependendo dos outros para nos completar psicologicamente.

A grandeza do Budismo é justamente compreender o que é o sofrimento para superá-lo. A realização desse estado de salvação implica passar além de todas as limitações individuais e reconhecer a realidade supra-individual na própria mente. É a maior experiência universal que a mente humana pode realizar, por isso exige, fundamentalmente, uma atitude universal.

Aquele que se esforça apenas para sua própria salvação, escolhendo o caminho mais curto para se libertar do sofrimento, sem olhar para os outros seres, já, de saída, se privou do meio mais essencial para a realização de seu propósito, assim como não é objetivamente possível salvar o mundo inteiro, porque não existe uma tal coisa como "mundo objetivo".

No Budismo só se pode falar do mundo das nossas experiências, que não podem ser separadas das nossas experiências subjetivas. Por outro lado, a realização da Iluminação não é um estado temporal, e, sim, uma experiência de uma dimensão maior, para além do domínio do tempo.

A atitude budista surge do impulso interior de identificar-se com todos os seres vivos e sofredores. Essa atitude ajuda a passar além ou, pelo menos, minimizar os próprios sofrimentos. Buda apontou esse caminho para Kisa Gotami, conseguindo que ela constatasse o fato de que a morte é um sofrimento universal e de que ela não era a única a sofrer essa dor.

O ensinamento do Buda visa não a escapar da dor, mas a conquistá-la, passar além, enfrentando-a com coragem; vendo-a não apenas como sofrimento pessoal, mas, na sua totalidade, como um fato comum a todos seres vivos; por isso o Buda também é chamado "Conquistador" - Jinas.

A Sabedoria é a compreensão da verdade sobre o que é a realidade aparente dessa existência e dos fenômenos condicionados. Quando a mente se liberta de todo pensamento de “eu” e "meu", a Ignorância foi completamente destruída.

Isto significa que o supremo propósito da senda foi atingido, a saber, o sofrimento foi completamente, e para todo o sempre, destruído; ninguém atingiu a Iluminação - a Iluminação veio à existência. é como o sol que está sempre presente; quando não brilha é porque é noite, ou o dia está nublado, mas está sempre presente, em sua plenitude.

A relação dos Cinco Agregados da existência com seus respectivos tipos de consciência na Sabedoria (Iluminação) revela o Princípio fundamental de que as mais altas qualidades estão contidas, potencialmente, nas mais baixas, como a floração na semente.

Assim, bom e mau, sagrado e profano, sensual e espiritual, mundano e transcendental, Ignorância e Iluminação, Samsara e Nirvana etc., não são opostos absolutos ou conceitos de categorias completamente diferentes, porém apenas os dois lados da mesma Realidade.

Em síntese, a Correta Compreensão é a Plena compreensão das Quatro Nobres Verdades, das três características da existência (Impermanência, Insatisfatoriedade, Impessoalidade) e a plena compreensão das ações meritórias e demeritórias.

Todos nós temos, em potencial, a natureza búdica, ou o nome que se queira dar: EU superior,Cristo interno, Luz divina, etc. Todos temos em nós essa natureza cósmica; ela não se evidencia porque as nuvens da ilusão e da ignorância a cobrem.

Passando aquelas nuvens da ilusão e da ignorância, a natureza búdica que existe vem à existência e o discípulo plenamente vê, e plenamente compreende; ele desenvolveu a Sabedoria. Ele compreendeu plenamente as três características da existência (Annica, Dukkha e Anatta) e compreendeu plenamente as ações meritórias e demeritórias.

Esses três acessos são chamados correta compreensão. A correta compreensão é o pináculo, é o que há de mais elevado no Budismo, é a Suprema Sabedoria.

Dr. Georges da Silva e Rita Homenko


Fonte: Extraído do Livro "Budismo - Psicologia do Autoconhecimento"

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