quinta-feira, 4 de julho de 2013

Caminhando sobre as próprias pegadas




A medida que amadurecemos, muita coisa muda. Já percebi isso com quase quarenta e acho que demorei muuuito.




A gente não tem mais o fator "surpresa" em nossa vida, não há novidade que, pra quem é bem sambado, não tenha gosto de reprise. É um momento engraçado, especialmente se você já cometeu todos os erros possíveis.

Claro que o fato de você já ter know-how ajuda em muitas situações. Saber os "atalhos do campo", dá um pouco mais de segurança a cada jogada, mas tem um outro lado; "Cachorro velho tem mais dificuldade de aprender novos truques".

Simplesmente, temos um apego enorme ao velho osso enterrado no quintal. Não olhamos muito as novas possibilidades e, em via de regra ficamos presos a velhos dramas. E quando tentamos um "novo truque" a insegurança bate, e forte. Seja mudar de profissão, de marido/esposa, de hábitos ou vícios.

Alguns resistem até em mudar o corte de cabelo, mesmo que não tenha sobrado muito dele. Outras de roupa, mesmo que sobre muito dela pra fora da calça jeans.

Eu sei, não é justo, deveríamos ter juventude eterna ou algum "prêmio de consolação" por termos participado da "vida nossa de cada dia". Mas a vida quando chega nessa fase "tira mais do que dá", então se não temos muito a dar, acabamos devendo. Eu sei que parece cruel, mas como eu não escrevo pra iludir ninguém...

Veja o meu caso, eu vivi uma vida eu diria "de m...a", mais da metade das coisas que eu queria viver, incluindo alguns erros que todos comentem, eu não vivi ou cometi.

Seja porque sempre fui muito cuidadoso (medroso de certa forma), seja porque "sorte" nunca foi meu "forte" (isso até rimou). Enfim, o caso é que eu como qualquer pessoa, cometi muito mais erros do que acertos, segundo minha matemática.

Mesmo mudando a fórmula e pegando mais leve, o "saldo" não é dos melhores até agora.

Isso acontece com a maioria das pessoas, embora muitas mascarem isso atrás de um discurso positivo ou cínico (depende do freguês), mas a gente vai que vai, aos trancos e barrancos, e não há muito romantismo nisso.

Voltando ao "sujeito" da questão, bem, eu sempre fui imaturo pra algumas coisas. Primeiro achando que nunca envelheceria, segundo agindo como se minha juventude durasse pra sempre e terceiro repetindo os mesmos discursos e consequentemente os mesmos atos.

Ah, se paga um preço por ser "Peter Pan", podem ter certeza. Me culpo? Nem fo...do, mas assumo a responsa disso, porque não tem jeito mesmo...

De outro lado, conheço pessoas que por um motivo ou outro tiveram que amadurecer "na marra" (pelo menos nas aparências). Vocês sabem, uma gravidez indesejada, uma morte na família, algum drama pessoal tão grave que foi impossível não crescer um pouquinho que seja.

E conversando com esse povo você vê a mesma coisa rolar, pois eles também estão batendo na mesma tecla, andando em círculos, e se arrependem até mais que um cara que viveu em "Neverland" como eu.

Mas claro que ninguém é oito ou oitenta. Nem um, nem outro. Certamente existem caminhos que já percorremos que são legais e ainda merecem fazer parte do nosso roteiro de vida. Mas outros, a gente já foi, viu que não rola, mas somos como ratos de laboratório repetindo a eterna corrida na rodinha de hamster dentro da gaiola.

Eu já me peguei nessa incontáveis vezes, Mas sempre chega aquele momento que uma vozinha interior diz "você já fez aquilo e deu nisso, não há surpresa aqui". E o que fazemos? Na maioria das vezes ignoramos na maior cara de pau! E ainda ficamos nos fazendo de vítimas, senão pros outros, mas pra nós mesmos.

Aqui uma observação - a coisa que mais fazemos depois de ler/ouvir sobre vitimismo, é reprimi-lo, ou seja, a maioria (e põe maioria nisso) que estuda metafísica, filosofia ou qualquer outra linha de pensamento desse tipo, fica com "vergonha" de ser assim tão "vítima", e ae ao invés de mudar isso devagar e com profundidade, simplesmente acha que é como mudar chip de celular.

No fim, não muda po... nenhuma e só muda o discurso.

Porque "mudar" não esta nos planos de ninguém, até porque instintivamente sabemos que essa palavra não faz sentido algum na prática. No máximo, nós fazemos um upgrade em nossos pontos "fracos" ou exagerados, e equilibramos a coisa toda.

Não é tão simples chegar no momento onde fazemos um balanço de nossa vida, embora isso também ocorra quando ainda estamos jovens ou imaturos, mas nesses casos, como ainda brincamos de viver ou não estamos tão "marcados", o sentimento é um "fo...-se" bem grande, sacudimos a poeira ou simplesmente deixamos o tempo curar a ferida.

E tempo é algo que fica cada vez mais escasso a medida que o tempo passa, talvez por isso sejamos tão duros com nossos erros.

Enfim, não existe uma fórmula segura pra dar "reboot na fita", mas acredito e tenho seguido nesse caminho, que, já que caminhamos sobre nossas próprias pegadas, então que seja com elegância e observando enquanto refazemos essas caminhadas, aquilo que em nossa inexperiência deixamos de aproveitar ou melhorar.

E ae, talvez possamos deixar nossa juventude ir, sem transforma-la em um fantasma dentro do armário...


Renato Palhano

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