sábado, 3 de agosto de 2013

Desenvolvimento da visão interior: (Vipassana)



O essencial, em qualquer método de meditação, é a capacidade de concentração baseada na atenção que requer a focalização da vontade que está atrás de toda ação, tanto física como mental.



É óbvio que o pensamento concentrado é o que nós temos de mais importante. É por meio dele que organizamos nossa vida, dirigimos nossa vontade, empreendemos boas ou más ações, acertamos ou erramos no que estamos fazendo.

Assim como o interesse desenvolve a atenção, também é verdade que a atenção desenvolve o interesse. Quem se dá ao trabalho de prestar um pouco de atenção voluntária a qualquer objeto, em breve achará nele alguns pontos de interesse. Descobrir-se-ão rapidamente coisas que antes não eram vistas, nem suspeitadas.

Hamilton diz: "Um ato de atenção, isto é, um ato de concentração parece ser tão necessário para termos consciência de qualquer coisa, como uma certa contração da pupila é condição indispensável à visão. A atenção é, pois, para a consciência, o que a contração da pupila é para a visão; ou, a atenção e para o olho da mente, o que o microscópio ou telescópio são para o olho do corpo.".

Butler acrescenta: "Geralmente se diz que a condição de gênio não pode ser infundida por meio da educação, mas este poder de atenção concentrada, que e próprio a todo grande inventor como uma parte do seu dom, pode ser, com toda a certeza, aumentado quase indefinidamente por meio de resoluta prática.".

Beattie lembra: "A força com que alguma coisa impressiona a mente está geralmente em proporção ao grau de atenção que se lhe presta. Além disso, a grande arte da memória é a atenção, e as pessoas que não prestam atenção têm sempre má memória." .

Plena Atenção é a atitude de estarmos constantemente despertos, bem atentos sobre o momento que estamos vivendo, ou melhor, em cada momento de consciência, o que significa mantermo-nos vigilantes a tudo que pensamos ou fazemos, atos ou palavras: na rotina cotidiana de nosso trabalho, na nossa vida privada, pública ou profissional. Pensai, por um momento, nas consequências advindas, se cada um de nossos atos fosse executado com uma atenção consciente de cada movimento, sentimento e pensamento.

A meditação formal sentada, que veremos adiante, é apenas um exercício, mas, o objetivo é estarmos plenamente atentos ao que ocorre a cada segundo, em todos os momentos mentais que surgem e desaparecem em nossa mente.

Caminhando, de pé, sentado ou deitado, olhando em volta, quando vestindo, falando, ou em silêncio, comendo, bebendo, ou exercendo as funções naturais, a qualquer coisa que fizermos devemos ter plena consciência da ação, a cada momento; em outras palavras, devemos viver no momento presente "o aqui" e na ação presente "o agora". Isto não significa que devamos renunciar a pensar no passado ou no futuro; pelo contrário, pensaremos neles relacionando-os com o momento presente e com a ação presente.

Observamos frequentemente pessoas comendo e lendo ao mesmo tempo. Parecem ser tão ocupadas, que nem sequer tem tempo para comer. Temos a impressão de que fazem as duas coisas ao mesmo tempo, mas na realidade não fazem nem uma, nem outra coisa corretamente. Suas mentes estão tensas, agitadas, perturbadas e não desfrutam do que estão fazendo.

Esta é a razão de muitos se sentirem infelizes e descontentes com o momento presente e com seu trabalho. Consequentemente, são incapazes de se entregarem por inteiro ao que aparentemente estão fazendo.

Os homens, habitualmente, não vivem seus atos no presente, mas os vivem no passado, ou no futuro. Parecendo fazer qualquer coisa aqui, nesse mesmo momento estão distantes nos seus pensamentos, nos seus problemas e preocupações imaginárias, perdidos frequentemente nas lembranças do passado, ou arrastados nos seus desejos e especulações sobre o futuro. Somos, portanto, criaturas do passado, produto do acúmulo de emoções, experiências, registros do que foi.

Ao desafio presente, por que reagimos com o condicionamento de nossas experiências anteriores e conclusões do passado? É que não vemos o que é real, verdadeiro e novo. Que é o real e verdadeiro? Serão os condicionamentos, o passado, o que não existe mais, ou o que pensamos ser? O que pensamos é o que pensamos, nada além disso. O futuro não chegou e quando chegar, tornar-se-á presente. Assim, onde estará o que é certo, real e verdadeiro? Decerto que estará aqui e agora na nossa frente, mas nós não temos a apreensão desta realidade, a consciência dela.

O primeiro passo para a paralisação do pensamento conceitual é cortar a cadeia de conceitos e palavras associadas que inundam nossa mente. Devemos sustar nova invasão mantendo a concentração no presente, naquilo que é.

A vida verdadeira é o momento presente, e não as lembranças de um passado que passou, nem os sonhos de um futuro que ainda não chegou. Aquele que vive no momento presente, vive a vida real e é o mais feliz dos seres.

Num famoso verso, Gautama Buda disse:

Não corras atrás do passado,
Não busques o futuro,
O passado passou.
O futuro ainda não chegou.
Vê, claramente, diante de ti o Agora.
Quando o tiveres encontrado,
Viverás o tranquilo e imperturbável estado mental.

Certa vez perguntaram a Buda por que seus discípulos, que levavam uma existência simples e calma, tomando uma só refeição por dia, eram tão radiantes. O Mestre, então, respondeu: - Eles não se arrependem do passado, não se preocupam com o futuro, vivem no presente, por isso estão felizes. Preocupando-se com o futuro e arrependendo-se do passado, os tolos ficam ressecados, como os juncos verdes cortados, ao sol.

Esta consciência vigilante de nossas atividades consiste em viver o momento presente no próprio ato. De um modo geral vivemos na ignorância da realidade que nos faz viver dominados pelos apegos, ressentimentos, má vontade, preconceitos, ódio, orgulho, lamentação, desespero e outros condicionamentos.

Somente vivendo com plenitude o momento que passa, consciente de todas as vivências, será possível seguir o conselho de todos os Budas: "Evitar o mal, fazer apenas o bem e purificar a mente", pois a observância sobre o nosso processo mental nos dará, cada vez mais, autoconhecimento e, por seu intermédio, nos libertarmos de todos os pensamentos negativos, passando a perceber a impermanência de todas as coisas; nos libertando de todos os desejos e apegos e, pela gradativa purificação mental, iremos nos purificar fisicamente, pois a mente se reflete beneficamente sobre o físico, dando-nos mais saúde, alegria e felicidade.

Hoje é de conhecimento geral que grande número de doenças respiratórias, circulatórias, digestivas, cutâneas etc. têm, habitualmente, origem psíquica ou mental, estudadas pela medicina psicossomática.

Dr. Georges da Silva e Rita Homenko


Fonte: Extraído do Livro "Budismo - Psicologia do Autoconhecimento"