domingo, 26 de outubro de 2014

O Novo...





"Não vem de você, vem do mais à frente. Não forma parte de você. Está arriscando todo seu passado. Há uma descontinuidade entre o novo e você, por isso tem medo.

Você vive de uma maneira, pensa de outra maneira, criou uma vida cômoda ao redor de suas crenças.






Então chama algo novo a sua porta. Agora o patrão de seu passado se verá perturbado. Se permitir que entre o novo, nunca voltará a ser o mesmo, o novo te transformará.

É arriscado. Não sabe até onde pode chegar com o novo. O velho é conhecido, familiar; você vive com isso a muito, muito tempo , está familiarizado com isso. O novo não te parece familiar. Pode ser um amigo ou um inimigo, quem sabe? E não há forma de saber! A única forma de sabê-lo é permiti-lo, por isso surge o temor, o medo.

Tampouco pode seguir rejeitando-o, porque o velho segue sem te dar o que buscas. O velho te promete, mas não cumpre sua promessa. O velho é conhecido mas miserável. O novo pode ser incômodo mas ao menos há uma possibilidade, pode te proporcionar felicidade.

De modo que não pode rejeitá-lo mas tampouco pode aceitá-lo; por isso vacila, tem medo e surge uma grande ansiedade em seu ser. É natural não é nada estranho. Sempre foi assim e sempre será assim.

Tenta compreender a chegada do novo. Todo mundo quer conhecer o novo, porque ninguém está satisfeito com o velho. Ninguém pode estar satisfeito com o velho, porque seja o que for , já o conhece. Assim que o conhece torna-se repetitivo; assim que o conhece torna-se aborrecido, monótono.

Quer te libertar disso. Quer explorar, quer ter aventuras. Quer conhecer o novo, mas, entretanto, quando o novo chama a sua porta você se acovarda, se encolhe, se esconde no velho. Este é o dilema.Como conhecer o novo?

Todo mundo quer conhecer o novo. Precisa ter coragem, e não uma coragem ordinária; precisa ter uma coragem extraordinária. O mundo está cheio de covardes, por isso as pessoas deixaram de crescer. Como vai crescer se for um covarde? Quando tem uma oportunidade te acovarda, fecha os olhos. Como você vai crescer? Como você vai ser? Só finge ser.

Já que não pode crescer tem que encontrar crescimentos substitutos. Não pode crescer mas sua conta no banco sim, é um substituto. Não faz falta ter coragem, ajusta-se perfeitamente a sua covardia. Sua conta no banco segue crescendo e você crê que é você que está crescendo. Torna-se mais respeitável.

Seu nome e sua fama seguem crescendo, e você pensa que você está crescendo? Só te está enganando. Você não é seu nome, você não é sua fama. Sua conta no banco não é seu ser. Mas se pensar no ser começa a tremer, porque para crescer tem que renunciar à covardia.

Como tornarmonos novos seres? Não nos renovamos espontaneamente. A novidade vem do mais à frente, quer dizer, da existência. A novidade vem da existência. A mente sempre é velha. A mente nunca é nova, é uma acumulação do passado.

A novidade vem do mais à frente, é um presente da existência. Vem do mais à frente, e é do mais à frente. O desconhecido, o incognocível, o mais à frente, têm acesso a você. Têm acesso a você porque não está selado nem separado; não é uma ilha.

Pode ser que tenha esquecido do mais à frente, mas, o mais à frente não se esqueceu de você. O filho pode esquecer-se da mãe, mas a mãe não se esquece do filho.

A parte pode começar a pensar: «Estou separada», mas a totalidade sabe que não está separado. A totalidade tem acesso a você. Ainda está em contato contigo. Por isso, embora você não lhe dê a bem-vinda, o novo segue chegando. Chega de milhares de maneiras. Se tiver olhos para ver, se dará conta que está chegando constantemente.

A existência está  te enchendo de presentes, mas você está ancorado a seu passado. Está em uma espécie de tumba. Se tornou insensível. Por culpa de sua covardia perdeu a sensibilidade. Ser sensível quer dizer que sente o novo, que sente emoção no novo. Nascerá em você uma paixão pelo novo e pela aventura, que começará a entrar no desconhecido, sem saber aonde vai.

A mente acredita que isto é uma loucura. A mente acredita que não é racional abandonar o velho. Mas existência sempre é o novo. Por isso, quando  se fala  de existência, não se pode usar o passado ou o futuro. Não se pode dizer: «a existência era», nem se pode dizer: «a existência será. »

Só se pode usar o presente: «a existência é». Sempre é novo, sempre é virgem. E tem acesso a você. Lembre-se, todo o novo que aparece em sua vida é uma mensagem da existência. Se o aceita é religioso. Se o rechaça é irreligioso. Para aceitar o novo, para que o novo possa entrar, o homem precisa relaxar-se um pouco, abrir-se um pouco mais, para que a existência possa entre em você.

Este é o significado de oração ou meditação... abra-se, diga-lhe sim, diga-lhe: «Entra.». Diga: «Estive esperando a muito tempo e estou agradecido que tenha vindo. » Recebe sempre o novo com uma grande alegria.

Embora às vezes te produza algum inconveniente, continua valendo a pena. Embora às vezes te meta em situações desconfortaveis, continua valendo a pena, porque só se aprende através dos enganos, e só se cresce através das dificuldades. O novo suporta dificuldades. Mas você escolhe o velho, porque não tem dificuldades. É uma consolação, um refúgio.

Só o novo aceito profunda e totalmente, pode te transformar. Não pode introduzir o novo a sua vida; o novo chega. Pode aceitá-lo ou rechaçá-lo. Se o rechaça será como uma pedra, fechada e morta. Se o aceitar te converte em uma flor, começa a te abrir... e nesse abrir-se há celebração.

Só pode transformar-se com a chegada do novo, não pode transformar-se de nenhuma outra maneira. E tenha em conta que não tem nada que ver com você, nem com seus esforços. Mas não fazer nada não é deixar de atuar, a não ser atuar sem vontade, sem direção nem impulso de seu passado.

A busca do novo não pode ser uma busca corrente, sendo que é novo, como pode buscá-lo? Não o conhece, nunca o viu. Procurar o novo é uma exploração aberta. Não sabe. Terá que começar de um estado de não saber, mover-se com a inocência de um menino, emocionado pelas possibilidades... e as possibilidades são infinitas.

Não pode fazer nada para criar o novo, porque tudo o que faça procede do velho, é do passado. Mas isso não quer dizer que tenha que deixar de atuar. É atuar sem vontade, sem direção nem impulso de seu passado. Atuar sem vontade, sem direção nem impulso de seu passado é atuar meditativamente. Atua espontaneamente. Deixa que o momento se faça.

Não imponha sua decisão, porque a decisão procede do passado e destruirá o novo. Atua espontaneamente, como um menino. Se entregue absolutamente ao momento, e verá que cada dia se abrem novas coisas, nova luz, novas percepções. E essas percepções irão trocando. De repente, um dia te dará conta de que é novo em cada momento. Já não arrasta o velho, já não te envolve como se fosse uma nuvem. É como uma gota de rocio, jovem e fresca.

Este é o verdadeiro sentido de ressurreição. Se o entender te libertará da memória, quer dizer, da memória psicológica. A memória é uma coisa morta. A memória não é a verdade nem pode sê-lo, porque a verdade sempre está viva, a verdade é vida; a memória é a persistência do que já não existe. É viver em um mundo de fantasmas, mas nos contém, é nossa prisão. De fato, somos nós.

A memória origina o problema, esse conjunto que recebe o nome de «Eu», o ego. Naturalmente, essa falsa entidade chamada «Eu» está constantemente atemorizada com a morte. Por isso tem medo do novo.

Esse «Eu» tem medo, mas você não. O ser não tem medo, mas o ego tem medo porque tem muito medo de morrer. É artificial, é arbitrário, foi construído. Pode desfazer-se em qualquer momento. Quando entra o novo, surge o medo.

O ego tem medo, pode desfazer-se. Conseguiu manter-se unido em uma só peça, e agora chega algo novo...Que pode fazê-lo em pedacinhos. Por isso não aceita o novo com alegria. O ego não pode aceitar com alegria sua própria morte, como vai aceitar com alegria sua morte?

Até que não compreenda que não é o eco, não será capaz de receber o novo. Quando te der conta de que o ego só é sua memória do passado e nada mais, e que você não é sua memória, que a memória é como um biocomputador, uma máquina, um aparelho, é funcional mas você está por cima... Você é consciência e não memória. A memória está contida na consciência, mas você é a consciência mesma.

Por exemplo, vê alguém andar pela estrada. Recorda a cara mas não recorda seu nome. Se fosse a memória deveria se lembrar também do nome. Mas diz: «Reconheço essa cara mas não recordo o nome. » Então, começa a procurar em sua memória, entra em sua memória, olha por este lado e por aquele outro e, de repente, aparece o nome e diz: «Sim, esse é o nome. » A memória é seu registro. Você é o que olhe no registro, não é a memória mesma.

Quando está muito tenso tentando recordar algo, com frequência torna-se difícil, porque a mesma tensão e esforço de seu ser não permite que sua  memória  lhe de a informação. Você se esforça para recordar o nome de alguém mas não consegue, embora diga que o tem na ponta da língua. Sabe que sabe, mas não consegue recordar o nome.

Isto é estranho. Se você for a memória, quem está te impedindo de recordá-lo e como é que não se lembra? E quem é o que diz: «Sei, mas não me lembro»? quanto mais você tenta recordar, mais difícil torna-se. Depois, farto de tudo, vai ao jardim dar um passeio e, de repente, olhando uma roseira, aparece, lembra-o.

Você não é sua memória. Você é consciência, a memória é o conteúdo. Mas a memória é a energia vital do ego. A memória, é óbvio, é velha e tem medo do novo. O novo poderia desestabilizá-la, poderia não assimilá-lo. O novo poderia causar problemas. Terá que trocar e voltar a se adaptar. Terá que se reajustar. Isso é complicado.

Para ser novo necessita desidentificar-se do ego. Quando está desidentificado do ego já não te importa se estiver vivo ou morto. De fato, tanto se estiver vivo como se está morto, sabe que já está morto. Segue sendo um mecanismo. Utiliza-o mas que não te utilize. O ego tem medo à morte porque é inconsistente, por isso surge o temor.

Não surge do ser; não pode surgir do ser, porque o ser é vida, como pode a vida ter medo da morte? A vida não sabe nada da morte. Surge do arbitrário, do artificial, surge do que se fabricou de algum modo, do falso, do fingido. E, entretanto, esse deixar-se ir, essa morte, é o que faz estar vivo o homem. Morrer ao ego é nascer ao ser.

O novo é um mensageiro da existência, é uma nova mensagem da existência. Escuta o novo, se adapte ao novo. Sei que tem medo. Apesar de seu medo, se deixe levar pelo novo, sua vida se enriquecerá e um dia será capaz de difundir seu esplendor aprisionado.".


OSHO, em "Coragem: O Prazer de Viver Perigosamente"

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