sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Maravilhado





Só as pessoas cegas acreditam na luz. Aquelas que têm olhos não acreditam na luz, elas simplesmente a vêem.







A verdade não pode ser transferida. A verdade não pode ser entregue a você por outra pessoa, porque ela não é uma mercadoria. Não é um objeto. É uma experiência. A verdade precisa de olhos meditativos. Se você não tiver olhos meditativos, então toda a vida resume-se a fatos mortos, sem qualquer relação entre si, acidentais, sem sentido, embaralhados... E só um fenômeno casual.

Se você vê a verdade, tudo entra nos eixos. Tudo se encaixa em harmonia, tudo começa a ter significância. Lembre-se sempre de que a significância é a sombra da verdade. E aqueles que vivem apenas nos fatos levam uma vida totalmente sem sentido. Não acredito em acreditar. Isso deve ser entendido em primeiro lugar.

Ninguém me pergunta: "Você acredita no botão de rosa?" Não é necessário. Você pode ver: a rosa está ali ou não está. É preciso acreditar apenas em ficções, não em fatos.A crença é confortável, é conveniente. Ela entorpece. É um tipo de droga — ela faz de você um zumbi. O zumbi pode ser cristão, hindu, muçulmano — eles são todos zumbis com rótulos diferentes.

E, às vezes, ficam fartos de um rótulo e resolvem mudá-lo: o hindu passa a ser cristão, o cristão passa a ser hindu — um novo rótulo, diferente, mas por trás do rótulo o mesmo sistema de crença. Destrua suas crenças. Certamente será desconfortável, inconveniente, mas nada de valor pode ser ganho sem inconveniência.

A palavra religião tem que ser entendida. Ela é expressiva: significa juntar as partes de modo que elas deixem de ser partes e se tornem o todo. Cada parte se torna o todo, em união. Cada parte, separada, está morta. Unidas, uma nova qualidade aparece — a qualidade do todo. E levar essa qualidade à sua vida é o propósito da religião.

Ela não tem nada a ver com Deus ou com o diabo. Mas, da maneira como as religiões funcionam neste mundo, elas mudaram toda a sua qualidade, sua própria estrutura. Em vez de fazer dela uma ciência de integração, de modo que os homens não sejam muitos,
mas um só, as religiões do mundo todo ajudaram a humanidade a esquecer até mesmo do significado da palavra.

A religião não é algo em que acreditar, mas algo para ser vivido algo para se vivenciar. Não é uma crença na sua cabeça, mas um aroma em todo o seu ser.Teístas e ateístas
são vítimas igualmente. A pessoa verdadeiramente religiosa não tem nada a ver com a Bíblia, com o Alcorão ou com o Bhagavad Gita.

A pessoa religiosa está em profunda comunhão com a existência. Ela pode dizer sim para
uma rosa, para as estrelas, para as pessoas. Ela pode dizer sim para o seu próprio ser, para os seus próprios desejos. Pode dizer sim para qualquer coisa que a vida lhe ofereça.

Ao ver o pôr-do-sol, por um instante você esquece seu estado de separação e passa a ser o pôr-do-sol. Esse é o momento em que sente a beleza dele. Mas, no instante em que diz "que lindo pôr-do-sol", deixa de senti-lo — você volta para a sua entidade separada e fechada do ego.

Agora é a mente falando. E esse é um dos mistérios: a mente pode falar e ela nada sabe, e o coração sabe tudo mas não sabe falar. O mais belo momento da vida de uma pessoa é quando não há nem confusão nem certeza. Ela simplesmente é. Um espelho refletindo aquilo que é, sem nenhuma direção, indo para lugar algum, sem idéia de fazer algo, sem nenhum futuro, só absolutamente no presente, intensamente no presente.

O cognoscível é comum, mundano. O incognoscível é sagrado. E só com o incognoscível a vida se torna uma bênção, só com o incognoscível você vibra com o milagre da vida e da existência. O conhecimento gratifica o ego. A sabedoria só acontece quando o ego desaparece, é esquecido.

O conhecimento pode ser aprendido —as universidades existem para lhe ensinar.A sabedoria não pode ser aprendida, ela é como uma infecção. Você tem que ficar com um sábio, tem que andar com ele, e só então algo começará a se agitar dentro de você.

Quando você é capaz de ver o espelho da sua alma sem a poeirado conhecimento, quando sua alma não está coberta pela poeira do conhecimento, quando ela é somente um espelho, reflete aquilo que é. Isso é sabedoria. Esse reflexo do que é corresponde à sabedoria.

Sempre que você ri, está mais perto do divino. Sempre que ama, está mais perto do divino. Sempre que canta, dança e toca música, vive a religião de verdade. A sabedoria
não tem nada a ver com conhecimento, absolutamente nada. Ela tem algo a ver com inocência.

Algo da pureza do coração é necessário, algo da vastidão do ser é necessário para que
a sabedoria cresça. Fique num estado de não-saber. Viva a partir desse estado. Olhe as árvores como uma criança, olhe a lua como um poeta, olhe o céu como um louco!

Nunca deixe de se maravilhar se quiser que os mistérios se desvendem para você. Os mistérios nunca se desvendam para aqueles que não param de questionar. Aqueles que questionam cedo ou tarde acabam numa biblioteca consultando as escrituras, porque as escrituras estão cheias de respostas.

E as respostas são perigosas: elas podem destruir a sua admiração. Elas são perigosas porque dão a sensação de que você sabe, embora não saiba. Elas lhe dão a compreensão incorreta de que agora as perguntas estão solucionadas. "Eu sei o que a Bíblia diz, eu sei o que o Alcorão diz, eu sei o que o Gita diz. Eu consegui."

Você vira um papagaio: repetirá as coisas, mas não saberá de nada. Não é esse o caminho para o saber — o conhecimento não é o caminho para o saber. Então, qual é o caminho para o saber? A admiração. Deixe que o seu coração dance maravilhado.

Encha-se de admiração: pulse com ela, inspire-a, expire-a. Por que ter tanta pressa para
conseguir a resposta? Você não pode deixar que o mistério continue sendo um mistério? Eu sei que é grande a tentação para não deixar que ele continue sendo um mistério, para reduzi-lo a um conhecimento.

Por que existe essa tentação? Porque, quando você se encontra repleto de
conhecimento, está no controle. O mistério controlará você, o conhecimento o deixará no controle. O mistério o possuirá. Você não pode possuir o mistério: ele é vasto demais e as suas mãos são muito pequenas.

Ele é tão infinito que você não pode possuí-lo. Tem que ser possuído por ele — e esse é o seu medo. Você pode possuir e controlar o conhecimento, ele é tão trivial...Essa tentação da mente de reduzir toda maravilha, todo mistério, a uma pergunta é pautada basicamente pelo medo.

Temos receio do que é extraordinário na vida, desta incrível existência. Estamos amedrontados. Por causa desse medo, criamos alguns pequenos conhecimentos à nossa volta como uma proteção, como uma armadura, uma defesa. Só os covardes reduzem a meras perguntas a capacidade incrivelmente valiosa de se maravilhar.

A pessoa realmente valente, corajosa, deixa as coisas como são. Em vez de transformar a maravilha em uma pergunta, ela mergulha no mistério. Em vez de tentar controlá-lo, ela deixa que o mistério a possua. A partir do estado de admiração, existem dois caminhos.

Um é o do questionamento — o caminho errado. Ele leva você a acumular cada vez mais conhecimento. O outro é não questionar, mas deleitar-se. Deleite-se com a maravilha que
é a vida, a maravilha que é a existência, as maravilhas que são o sol, a luz do sol e as árvores banhadas com seus raios dourados.

Viva a admiração. Não coloque depois dela um ponto de interrogação. Deixe-a ser como é."Arte pela arte", dizem por aí. Pode ser que sim, pode ser que não — não sou artista. Mas posso dizer a você: a vida é só para ser vivida. Cada momento vale por si mesmo. Sacrificá-lo em nome de outra coisa é falta de inteligência.

E depois que o hábito de sacrificar se instala, você passa a sacrificar este momento pelo seguinte, o seguinte pelo que vem depois e assim por diante — este ano pelo seguinte, esta vida pela seguinte! Trata-se de um processo simples e lógico: depois que você deu o primeiro passo, inicia toda a jornada — a jornada que o leva a um deserto estéril, jornada que é autodestrutiva e suicida.

Viva o momento pelo alegre prazer de vivê-lo. Viva sem o sentimento de dever, sem imposições, sem obrigações, sem mandamentos. Você não está aqui para ser um mártir: está aqui para aproveitar a vida ao máximo.E a única maneira de viver, amar e ter prazer é esquecer o futuro. Ele não existe.

Se você conseguir esquecer o futuro, se puder ver que ele não existe, não há por que se preparar constantemente para ele. No momento em que o futuro é deixado de lado, o passado passa a ser irrelevante por si só. Nós carregamos o passado de modo a poder usá-lo no futuro. Do contrário, por que carregaríamos o passado? É desnecessário.

Se não existe futuro, para que carregar o conhecimento que o passado lhe proporcionou? Trata-se de um fardo que acabará com o prazer da jornada. E deixe-me lembrá-lo de que se trata de uma pura jornada. A vida é uma peregrinação para lugar nenhum — de nenhum lugar para lugar nenhum. E entre esses dois pontos está o aqui e agora. O lugar nenhum consiste em duas palavras: aqui e agora.

OSHO, em "Faça o Seu Coração Vibrar"