Nos anos 60, Walter Mischel na Universidade de Stanford fez um experimento muito interessante: o "experimento marshmallow", que consistia em oferecer para crianças de quatro anos de idade um marshmallow com a promessa que, se depois de 15 minutos eles não o tivessem comido, ganhariam mais um. Poucas toleravam a espera. A maioria após 4 minutos já comia o seu marshmallow...
O interessante é que os pesquisadores acompanharam o progresso dessas crianças durante a adolescência e constataram que aquelas crianças que conseguiram esperar os 15 minutos sem comer o marshmallow se tornaram adolescentes mais confiantes e ajustados do que os outros! Ao serem recompensadas, elas aprenderam que vale a pena esperar.
Toda vez que satisfazemos nossas necessidades ou realizamos um desejo, o neurotransmissor dopamina é liberado no núcleo accumbens (uma estrutura de cerca de 1 centímetro de diâmetro!) criando a sensação de prazer. Ou seja, quando mais nos sentimos "vitoriosos" por alguma razão, mais ativo nosso núcleo accumbens se torna, gerando mais e mais prazer. Desta forma, qualquer tarefa, por menor que ela seja, pode nos causar bem-estar e vontade de repeti-la.
O segredo para ter perseverança é saber valorizar as pequenas conquistas: educar a mente para perceber que está sendo recompensada.
Certa vez, escutei Guelek Rinpoche dizer: "É preciso ter experiências positivas para querer repeti-las". Parece óbvio, mas não é. Muitas vezes insistimos em relacionamentos afetivos e profissionais frustrantes sem nos fazer valer da importância de sermos reconhecidos por nossos esforços. Aqui não se trata de um elogio formal ou narcisista, mas sim, de sermos vistos e tratados de acordo com o valor ao qual nos prestamos valer!
Ter sucesso e sermos recompensados por nossa dedicação é de suma importância para criarmos vínculos de compromisso. Quando, intuitivamente, acreditamos que seremos recompesados por algo, temos motivação para iniciar, continuar ou terminar algo!
O psiquiatra Dr. Sergio Klepacz esclarece que a dopamina é produzida em nosso cérebro toda vez que algo nos surpreende :"Oh, que lindo!", Oh, que incrível!" . Quando ocorre uma saliência emocional tanto prazeirosa quanto aversiva, é ativado o núcleo accumbens. Em outras palavras, há prazer em fazer sacrifícios mesmo que dolorosos enquanto eles são novidade e/ou representam uma expectativa de recompensa.
No entanto, muitas vezes fazemos os sacrifícios e não somos recompensados! Indignados ou ressentidos, nós nos confrontamos com os limites impostos pela realidade frustrante. No entanto, se ainda houver alguma esperança de sermos recompensados, aceitaremos fazer um novo sacrifício na expectativa de quem sabe receber "quatro marshmallows"...
O problema é que se não pararmos para reavaliar os fatos e nossas crenças, poderemos seguir em frente como o burro que puxa a carroça com um milho pendurado à sua frente.
Sacrifícios acumulados sem recompensas geram desconfiança e baixa motivação. A vida torna-se um lamento após o outro. Sem produzir dopamina, sentimo-nos facilmente irritadiços e inquietos. Nossa mente agitada passa a imaginar soluções menos elaboradas para escapar da angústia do desprazer e acaba por criar ilusões que levam a um crescente autoengano.
O psiquiatra budista Mark Epstein escreve em seu livro Partir-se sem quebrar: "A ilusão é a tendência da mente a procurar o encerramento prematuro de alguma coisa. É a característica da mente que impõe uma definição às coisas e depois se engana, tomando a definição pela experiência real".
Portanto, para não nos tornarmos vítimas de nossas próprias ilusões e fantasias, nem cairmos no tédio da realidade nua e crua sem prazer e esperança, temos de criar acordos internos capazes de nos sustentar em nossas decisões baseados em fatos concretos. Para tanto, podemos começar por reconhecer o que nos faz sentir verdadeiramente recompensados.
Quanto maior for a gratificação interna baseada no reconhecimento de nossos princípios e valores, menor será a necessidade de criar ilusões compensatórias baseadas nas expectativas exageradas.
Algumas vezes só conseguimos relaxar quando constatamos que de fato não obteremos o que pensávamos merecer. Por exemplo, ao nos darmos conta da dura realidade de que não seremos reconhecidos por algo que por muito tempo consideramos merecer reconhecimento, ficamos livres para direcionar nossa atenção e vitalidade para campos mais férteis.
Bel Cesar
Psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções, Mania de sofrer e recentemente O sutil desequilíbrio do estresse, todos pela editora Gaia.
Visite o Site
Email: belcesar@ajato.com.br
Fonte: Somos Todos Um